O chicote


Sinceramente, quando compro tabaco incomoda-me ser obrigado a ver fotografias hardcore, impostas pelo Estado, com pessoas estropiadas pelos malefícios do fumo.


A legitimidade de uma compra, a troca de dinheiro por um produto que é legal e acessível, obriga-me agora a ver imagens tenebrosas que chocam qualquer mortal. O Estado democrático, legitimado, passa-me assim um atestado público de indigência mental que agora revisitarei sempre que compre tabaco. Certo é que doravante, para as almas mais sensíveis, o destino imediato desta impositiva sordidez visual será o lixo, uma vez extraído e arrumado o tabaco em lugar apropriado. Pode até ser um desafio interessante a lançar aos designers, já que este medonho hardcore irá aumentar a procura de cigarreiras e tabaqueiras. Mas mais ainda do que o primarismo de uma fotografia, dói mais fundo o tique, a matriz histórica desta medida, a tal atitude sonsa e farisaica que não hesita em usar o medo como arma legítima. É óbvio que fumar faz mal, mas será que é saudável em democracia usar o medo em vez da razão?

Os médicos sabem bem que os humanos, pela sua fisiologia individual, não estão igualmente expostos aos múltiplos malefícios da nicotina, do álcool, das gorduras e do açúcar. Uns mais, outros menos, por natureza, e basta estar vivo para se morrer, não somos imortais. Disse-me uma vez o sábio prof. Emídio Guerreiro, depois de partilhar comigo leitão assado, musse de chocolate, vinho, café e uma cigarrilha, “sempre de tudo um pouco e com a boa moderação”. Tinha então 102 anos e viveu 105, como bem quis.

O medo mata mais depressa.

Escreve à terça-feira

O chicote


Sinceramente, quando compro tabaco incomoda-me ser obrigado a ver fotografias hardcore, impostas pelo Estado, com pessoas estropiadas pelos malefícios do fumo.


A legitimidade de uma compra, a troca de dinheiro por um produto que é legal e acessível, obriga-me agora a ver imagens tenebrosas que chocam qualquer mortal. O Estado democrático, legitimado, passa-me assim um atestado público de indigência mental que agora revisitarei sempre que compre tabaco. Certo é que doravante, para as almas mais sensíveis, o destino imediato desta impositiva sordidez visual será o lixo, uma vez extraído e arrumado o tabaco em lugar apropriado. Pode até ser um desafio interessante a lançar aos designers, já que este medonho hardcore irá aumentar a procura de cigarreiras e tabaqueiras. Mas mais ainda do que o primarismo de uma fotografia, dói mais fundo o tique, a matriz histórica desta medida, a tal atitude sonsa e farisaica que não hesita em usar o medo como arma legítima. É óbvio que fumar faz mal, mas será que é saudável em democracia usar o medo em vez da razão?

Os médicos sabem bem que os humanos, pela sua fisiologia individual, não estão igualmente expostos aos múltiplos malefícios da nicotina, do álcool, das gorduras e do açúcar. Uns mais, outros menos, por natureza, e basta estar vivo para se morrer, não somos imortais. Disse-me uma vez o sábio prof. Emídio Guerreiro, depois de partilhar comigo leitão assado, musse de chocolate, vinho, café e uma cigarrilha, “sempre de tudo um pouco e com a boa moderação”. Tinha então 102 anos e viveu 105, como bem quis.

O medo mata mais depressa.

Escreve à terça-feira