Líder dos talibãs abatido por drones do exército dos EUA em território paquistanês

Líder dos talibãs abatido por drones do exército dos EUA em território paquistanês


Sucessor de Mullah Omar opunha-se a negociações de paz com o Afeganistão. Risco é que o seu número dois seja ainda pior


Um ataque com múltiplos drones coordenado pelo exército norte-americano matou o líder dos talibãs no Afeganistão. Tanto o governo afegão como membros do movimento radical confirmaram que Mullah Akhtar Mansour morreu na sequência do ataque aéreo operado à distância e que ocorreu pelas 15h45 locais (11h45 em Lisboa) numa região remota do sul do Paquistão, junto à fronteira com o Afeganistão.

A ação foi autorizada pelo presidente dos EUA, Barack Obama, e o secretário de Estado, John Kerry, adiantou que os líderes do Paquistão e Afeganistão foram postos a par da operação, mas recusou-se a esclarecer se antes ou depois de o ataque ter sido realizado.

A morte do sucessor de Mullah Omar ameaça elevar de novo as tensões na relação entre Washington e Islamabade, e pode espoletar uma batalha pela sucessão no seio do movimento insurgente, aprofundando as fraturas que emergiram em consequência da morte do seu fundador (Omar), confirmada no ano passado, mais de dois anos após o seu desaparecimento. Kerry justificou o ataque afirmando que Mansour representava uma “ameaça contínua e iminente” às forças norte-americanas e afegãs. “Se as pessoas se querem meter no caminho da paz e continuar a ameaçar, a matar e a fazer explodir pessoas, não nos resta outra alternativa senão reagir e acho que reagimos de forma apropriada”, adiantou.

Kerry referiu que “ele também se opunha frontalmente às negociações de paz e ao processo de reconciliação”, e sublinhou que o ataque que vitimou Mansour e outro combatente, quando ambos seguiam num dos veículos que avançavam em coluna na província do Baluchistão, “envia uma mensagem clara ao mundo de que continuaremos a estar ao lado dos nossos parceiros afegãos”. Após 15 anos de intervenção militar, a maior potência mundial continua a lidar com o fracasso dos seus esforços para estabilizar o país localizado no centro da Ásia e neutralizar os talibãs.

Sob a direção de Mansour, o movimento redobrou a sua campanha de violência no país e chegou a capturar, ainda que brevemente, a cidade de Kunduz, e por isso a sua morte representa um duro golpe para os insurgentes. Contudo, o governo afegão receia que a violência possa aumentar no caso de a morte de Mansour permitir que uma fação responsável pelos piores ataques suicidas em Cabul, a rede Haqqani, vier a assumir maior controlo do movimento.

Com a morte do líder dos talibãs, a atenção voltou-se agora para o seu braço direito, Sirajuddin Haqqani. Apontado como o número dois após Mansour ter assumido a liderança dos insurgentes, Haqqani não tem uma posição mais flexível quanto a um processo de reconciliação. De resto, os esforços para negociações entre os talibãs e o governo afegão tinham já sido postos de parte na sequência de um ataque suicida que, no mês passado, provocou a morte de 64 pessoas em Cabul. No rescaldo, o presidente afegão, Ashraf Ghani, assumia os esforços militares como prioridade face às negociações.

Quanto aos líderes paquistaneses, continuam oficialmente a repudiar os ataques aéreos que os EUA realizam no seu território, falando numa violação da sua soberania, mas vários documentos do Departamento de Estado norte-americano divulgados pelo WikiLeaks vieram reforçar as declarações feitas por funcionários da Casa Branca de que, secretamente, Islamabade dá o seu consentimento a estes ataques.

Um responsável ocidental em Cabul disse ao “Guardian” que há já uma tradição de o Paquistão “oferecer sacrifícios” aos EUA quando a pressão política aumenta. “No entanto, estes gestos de boa vontade nunca vão ao ponto de diminuir a guerra por procuração que o Paquistão tem conduzido contra o Afeganistão.”