Necrofilia, sangue e purpurina

Necrofilia, sangue e purpurina


A sério, Mr. Nicholas Winding Refn? Acreditava mesmo que depois do tremendo hype com “The Neon Demon”, a reação da imprensa seria de ovação ou ponderava até que pudesse ser de urros de ira, como na verdade se registou na primeira sessão? Se calhar tinha ainda em mente o resultado do estardalhaço que provocou o…


Digamos que, em Demon, estamos um pouco melhor que em God, mas ainda assim no mesmo estilo horror chic, em ritmo techno pelos samplers de Cliff Martinez. É que, das duas uma, ou deixou-se levar pelo ego e acreditou, ingenuamente, que o seu conto sobre o paradoxo e limites da beleza ocuparia um espaço de análise multimediática inovador, ou então deixou-se levar pelo ego e acreditou, intencionalmente, que a provocação e o choque cumpririam o seu objetivo de criar um produto de culto? É que “The Neon Demon” tem momentos de algum gozo, mas ficam-se por um mero aperitivo.

De resto, um filme de horror no meio das catwalks de Los Angeles? Uma parábola sobre os ditames da beleza? A mescla de ambos surge logo no genérico em que as letras NWR servem como a griffe do criador. Na verdade, houve até quem comparasse TND, para usar também o acrónimo do filme, à comédia “Zoolander”, celebrando todos os excessos do millieu. Só que aqui, em vez do humor kinky, temos o horror, igualmente kinky. Elle Fanning (a menina que Sofia Coppola usou no ótimo “Somewhere”) empresta a sua pureza virginal à ninfeta Jenny que entra como um meteoro no mundo voraz da moda, onde as manequins de 20 anos já são muito passé. Só que de ingénua, no alto dos seus 16 aninhos acabados de fazer, apesar de assinar um papel em que garantia ter 19, troca o seu namorado (Karl Glusman, que entrou em “Love”, de Garpar Noé) pela companhia doentia de uma maquilhadora (Jenna Malone, de “Hunger Games”).

A dada altura, o terror é mesmo real, à medida que Jenny se deixa consumir pelo poder que acompanha a sua exposição mediática. O pedaço de terror mais eficaz é quando Keanu Reeves, num pequeníssimo papel que parece recuperar o Anthony Perkins no Bates Motel de “Psico”, uma referência presente neste filme. Isto antes de vermos Jenny Malone numa cena de sexo simulado com a mulher cadáver que estava a maquilhar. Mas este não será ainda o grande finale, esse sim, verdadeiramente de encher o olho…

O boicote a “Aquarius”

Durante a nossa entrevista com Kléber Mendonça Filho, e também com Sónia Braga, ficámos a par do estranho fenómeno que se estava a passar com “Aquarius”. Sónia Braga confidenciou-nos que na sua página de Facebook existia uma invasão organizada mensagens de protesto. Mas a isso disse apenas: “Não me vou incomodar a bloquear milhares de pessoas que não conheço.” Já Kléber informou-nos do boicote que existia ao filme, em #BoicoteAquarius. O realizador não se mostrou preocupado e disse mesmo que “isso vai fazer com que mais gente vá ver o filme.”