Estivadores. Greve deixa Açores  e Madeira com falta de produtos

Estivadores. Greve deixa Açores e Madeira com falta de produtos


Comerciantes das regiões autónomas estão com dificuldades em receber bens para entregar aos clientes. Há relatos de dificuldades em lojas de vestuário e em stands de automóveis. Já há mais de duas centenas de contentores no Porto de Lisboa à espera de serem expedidos


A greve dos estivadores iniciada a 20 de abril já causou prejuízos de milhões de euros ao porto de Lisboa, segundo dados patronais. Mas nem só as empresas têm sofrido com a paralisação, que foi prolongada até 16 de junho. Madeira e Açores são regiões com poucas alternativas de transporte e que estão começar a sentir a falta de produtos.

Ao i, o diretor-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA) explica que o prolongamento da greve tem sido “acompanhado com muita preocupação”. Pedro Queiroz explica que, apesar de não existirem ainda dados concretos, “há um prejuízo enorme que, em termos de exportações, estraga tudo o que Portugal conquistou nos últimos anos. Os clientes estrangeiros começam a afastar-se e isto é um golpe que pode ser fatal”.

No caso particular da Madeira e dos Açores, explica que têm um fluxo de compras e vendas que depende muito da via marítima. “Não podem colocar os produtos dentro de um camião, por exemplo. E, por causa desta dependência da via marítima, começam a faltar produtos alimentares e não só”, revela.

Alexandre é um madeirense que, ouvido pelo i, indica que a situação tem ficado cada vez mais complicada, principalmente para o comércio local. “Só recebemos o que vem do porto de Leixões. De Lisboa, só recebemos uma vez por semana e claro que está tudo a acumular lá”, explica, acrescentando que todos esperam que o problema fique resolvido.

A mãe de Alexandre é dona de uma loja de vestidos de cerimónia e a nova coleção já devia ter chegado há mais de duas semanas. “O material veio de Londres, mas, como o transitário só trabalha com o de Lisboa, temos de esperar. E claro que não haver ainda uma nova coleção tem impacto nos clientes”, explica. 

Segundo Alexandre, esta realidade afeta outros setores, como o automóvel. “Há vários stands que já receberam o dinheiro e não têm os carros para entregar. E o pior de tudo é que não há previsões. Os empresários não sabem quando é que vão receber os produtos”, lamenta.

Atrasos preocupam Pedro Queiroz explica que, mesmo fora das regiões autónomas, há fábricas no país que estão paradas por falta de material. De acordo com a FIPA, há mais de um mês de atraso nas descargas em vários navios e existem já mais de duas centenas de contentores com atrasos superiores a uma semana no prazo de expedição para os clientes. Mas não é só. Ainda de acordo com o diretor-geral da FIPA, há dezenas de contentores com data de expedição indefinida, o que faz com que já “nem se consiga prever se vale a pena estar à espera que sejam enviados”.

A 13 de maio, pelos cálculos da Associação dos Operadores do Porto de Lisboa (AOPL), a greve dos estivadores já tinha causado um prejuízo na ordem dos 6,9 milhões de euros. Estas perdas pesam cada vez nas contas das empresas, que garantem que as sucessivas greves colocaram o porto de Lisboa na lista negra dos principais operadores internacionais.

Na base da greve dos estivadores está a a falta de acordo sobre a progressão na carreira e a defesa, por parte dos sindicatos, que a actividade portuária seja feita por estivadores e não por trabalhadores não qualificados a ganhar salários perto do mínimo. Os sindicatos exigem, também, que os trabalhadores que trabalham no Porto de Lisboa há vários anos deixam de ter contratos precários.  O presidente da Câmara do Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), Bruno Bobone, considera que a continuação da greve prejudica o país de forma “inaceitável”. “Estes senhores estão mais uma vez a prejudicar o país numa altura em que isso é inaceitável. O país atravessa dificuldades, dificuldades em cumprir o orçamento, dificuldades em cumprir as metas de Bruxelas. Estes senhores, que não foram afetados pela crise, vêm prejudicar a economia portuguesa. É inconcebível”, disse, à “Rádio Renascença”. 

Para o presidente da CCIP, resta apenas uma solução que permitiria pôr fim à instabilidade que tem afetado o porto de Lisboa: “Acabar com a legislação de proteccionismo e obrigar os portos a trabalharem com mão-de-obra livre, como todos os outros portugueses”. Exactamente o ponto de conflito com os estivadores.

O i tentou, sem sucesso, contactar o Sindicato dos Estivadores e o Ministério do Mar.