Deve ser do cabelo


Antes de ser lida, esta crónica exige uma busca no Google de imagens de Boris Johnson. Trata--se do ex-mayor conservador de Londres, que deixa o cargo ao fim de oito anos para o trabalhista e muçulmano Sadiq Khan. 


Era sobre este último que ia escrever esta semana, pela singularidade da sua eleição. Pela primeira vez, um muçulmano vai presidir a uma câmara de uma grande capital europeia – um sinal claro da mudança civilizacional que está em marcha na Europa e cujas mudanças, a curto prazo, extravasarão (estou certo) este fenómeno pontual.

Mas, nem a propósito, vem o sr. Johnson comparar a União Europeia ao projeto nazi de Hitler. Mas o que leva uma pessoa com tamanha responsabilidade e influência política a afirmar tal coisa? Ou não é bom do tino ou pretende algo mais. 

Em “vésperas” do referendo que poderá ditar a saída da Inglaterra da União, a verborreia de Johnson é uma clara ação de campanha a favor do Brexit. É irresponsável, absurda e desprovida de fundamento, e só é possível porque muita gente sofreu e morreu precisamente para evitar o projeto nazi. Para permitir que (infelizmente) haja bestas como o sr. Johnson que dizem o que querem sem serem perseguidos. 

A estupidez humana não para de me surpreender. Assim como é surpreendente o pânico das alas mais neoliberais da sociedade europeia, que aparentam maior alarmismo com o aparecimento de correntes e soluções de esquerda progressista, que aos poucos se reinventa e se apresenta como alternativa política.

A Europa está doente, já o sabemos. E tem vírus espalhados por toda a parte. Pessoas como o sr. Johnson emergem e ecoam numa sociedade cada vez mais esquecida e marginalizada que se alimenta destes populismos e papões reinventados. A confirmar-se o Brexit, triunfam os demagogos, os mercenários políticos e os xenófobos encapotados. Aqui como nos EUA surgem sinais preocupantes de lideranças desprovidas de sentido de Estado e exclusivamente focadas em projetos individuais e de franjas elitistas de uma sociedade cada vez mais desigual.

Vale tudo nos dias que correm. Vale esquecer o passado e acenar com fantasmas que, neste caso, pouco ou nada dizem a este senhor nascido nos EUA mas que singra na Europa, que agora apelida de nazi. 

Tal como Trump, Johnson parece viver numa bolha, alienado da realidade, emergindo apenas para regurgitar palavras sem nexo. As semelhanças são inegáveis, pelo que tamanhas barbaridades e ignorâncias só podem ter uma explicação. Deve ser do cabelo. 


Deve ser do cabelo


Antes de ser lida, esta crónica exige uma busca no Google de imagens de Boris Johnson. Trata--se do ex-mayor conservador de Londres, que deixa o cargo ao fim de oito anos para o trabalhista e muçulmano Sadiq Khan. 


Era sobre este último que ia escrever esta semana, pela singularidade da sua eleição. Pela primeira vez, um muçulmano vai presidir a uma câmara de uma grande capital europeia – um sinal claro da mudança civilizacional que está em marcha na Europa e cujas mudanças, a curto prazo, extravasarão (estou certo) este fenómeno pontual.

Mas, nem a propósito, vem o sr. Johnson comparar a União Europeia ao projeto nazi de Hitler. Mas o que leva uma pessoa com tamanha responsabilidade e influência política a afirmar tal coisa? Ou não é bom do tino ou pretende algo mais. 

Em “vésperas” do referendo que poderá ditar a saída da Inglaterra da União, a verborreia de Johnson é uma clara ação de campanha a favor do Brexit. É irresponsável, absurda e desprovida de fundamento, e só é possível porque muita gente sofreu e morreu precisamente para evitar o projeto nazi. Para permitir que (infelizmente) haja bestas como o sr. Johnson que dizem o que querem sem serem perseguidos. 

A estupidez humana não para de me surpreender. Assim como é surpreendente o pânico das alas mais neoliberais da sociedade europeia, que aparentam maior alarmismo com o aparecimento de correntes e soluções de esquerda progressista, que aos poucos se reinventa e se apresenta como alternativa política.

A Europa está doente, já o sabemos. E tem vírus espalhados por toda a parte. Pessoas como o sr. Johnson emergem e ecoam numa sociedade cada vez mais esquecida e marginalizada que se alimenta destes populismos e papões reinventados. A confirmar-se o Brexit, triunfam os demagogos, os mercenários políticos e os xenófobos encapotados. Aqui como nos EUA surgem sinais preocupantes de lideranças desprovidas de sentido de Estado e exclusivamente focadas em projetos individuais e de franjas elitistas de uma sociedade cada vez mais desigual.

Vale tudo nos dias que correm. Vale esquecer o passado e acenar com fantasmas que, neste caso, pouco ou nada dizem a este senhor nascido nos EUA mas que singra na Europa, que agora apelida de nazi. 

Tal como Trump, Johnson parece viver numa bolha, alienado da realidade, emergindo apenas para regurgitar palavras sem nexo. As semelhanças são inegáveis, pelo que tamanhas barbaridades e ignorâncias só podem ter uma explicação. Deve ser do cabelo.