Acusada de insistir nas chamadas pedaladas fiscais – um esquema de ocultação de défices com recurso a fundos de bancos públicos –, Dilma responde que essa prática foi “usada por todos os antecessores” e que “se não era crime antes, não é crime agora”. Com argumentos diferentes, os dois lados convergem na desvalorização do motivo formal que levou ao afastamento temporário da chefe de Estado.
“O voto deve ser técnico mas também político, pelo conjunto da obra da presidente”, defendeu Morais antes de imitar muitos dos seus colegas que, durante os 15 minutos que lhes foram atribuídos, enumeraram todas as consequências negativas da governação de Dilma – “transformou a maior empresa brasileira (Petrobras) numa central de escândalo, arrombou os fundos de pensão, aparelhou do setor público”, foram os exemplos de Morais, entre muitos outros referidos.
Ainda que a Constituição esclareça que a pedalada fiscal é mesmo um crime de responsabilidade, a ideia que passa é que deputados e senadores brasileiros recorreram a uma solução jurídica – a única possível para derrubar o chefe de Estado – para concretizarem uma vontade política. E fizeram-no num momento em que a crise financeira deixou os governantes do Partido dos Trabalhadores (PT) com os índices mais baixos de popularidade desde a chegada ao poder, em 2003.
Álvaro Dias, senador eleito pelo Partido Verde, manifestou o seu apoio ao impeachment com um apelo a que as mudanças não se fiquem por aqui: “Ou mudamos ou seremos também apeados da atividade pública como apeada será certamente nesse processo a presidente Dilma”, avisou o senador depois de recordar que ficou “sozinho” quando sugeriu o impeachment de Lula em 2005, ano em que o escândalo tinha o nome de mensalão.
“A mudança exigida pelo povo”, defendeu Dias, “é a mudança desse sistema de governação, que é a matriz dos governos corruptos e incompetentes, a usina dos grandes escândalos de corrupção, que instalou o balcão de negócios, que aparelhou o estado brasileiro, que foi clonado em estados e municípios e tornou-se suprapartidário”.
Dias terminou a reconhecer ser representante de “um pequeno partido de grandes causas”, mas a própria Dilma já tinha, dias antes, deixado críticas a um sistema que a obrigou a “depender de 13 partidos, às vezes 14” para conseguir governar com maioria no Congresso.
Todos os deputados e senadores foram eleitos com a mesma legitimidade democrática da presidente e nada do que promoveram ou votaram parece ser ilegal – todos os passos foram autorizados pelo Supremo. Mas o cargo de Dilma será ocupado por alguém que não recebeu votos e que aparece com 2% das intenções de voto nas sondagens que antecipam umas hipotéticas presidenciais.
Matar velhas alianças e arranjar novos parceiros faz-se em todo o lado, mas para isso não deviam ser necessários julgamentos. Até para evitar reações como a do PT, que promete “resistir até ao fim, por todos os meios”.