Já tinha alertado para eventuais problemas da sua hiperatividade e, na minha opinião, esta é a primeira argolada que dá, e não é pequena. A volta às freguesias de Portugal deve ter puxado pelo sentimento nacionalista mais primário do professor, pois só assim compreendo as suas declarações sobre o acordo ortográfico.
“Eu entendo. Sentimentalmente também odeio, e oponho-me ao acordo. Descaracteriza a nossa amada língua, dá um toque de favelado e mata uma parte substancial da sua apaixonante sintaxe. A questão não é nova, a polémica sempre foi latente a este assunto desde 1911, data da primeira tentativa de (chamemos-lhe) acerto ortográfico. E que se repetiu em 1943, em 45 e, claro, em 2009.”
Mas qual o sentido do acordo? É pura uniformização ou integra objetivos mais estratégicos? Devemos sobrepor o valor do património linguístico ao valor económico da língua?
Por muita confusão e desconforto que me cause escrever “fator” em vez de “factor”, não será mais útil que a forma como se escreve tenha ampla aceitação (economicamente falando)?
Entendo o acordo como um instrumento económico puro. Como a eliminação de um custo de contexto para a nossa economia. Uniformizar uma língua que é falada por mais de 250 milhões, que é a 5.a língua na Internet e a 3.a nas redes sociais, não trará benefícios para a economia portuguesa? Para a competitividade das nossas empresas?
Às vezes esquecemo-nos que no universo da CPLP somos apenas 11 milhões. No Brasil, o maior mercado da lusofonia e quem mais influenciou este acordo, são mais de 200 milhões. Já lá vai o tempo colonial, mas muitos continuam com tiques colonialistas (está-nos no ADN). Já fomos uma potência colonial, já dominámos e impusemos a nossa vontade, mas esse tempo já lá vai.
Deixemos de lado o sentimento de orgulho ferido e foquemo-nos no essencial. Qualquer que seja a iniciativa empresarial, ela terá muito maior aceitação no mercado CPLP com uma língua uniformizada, que seja entendida por todos. Perdeu o valor histórico de Camões e o requinte de Eça? É verdade! Mas ganha royalties e mercado. E Camões e Eça já não contribuem para o PIB.
Agora, ao que parece, é “uma não questão”.
Professor, já não está na TVI. É que agora elas não matam mas moem. Vá lá, não cavaque, por favor!