É dizer que se faz sem se fazer; é embrulhar, ou como agora se diz, mastigar o assunto. Deixá-lo seguir por si, como que a vaguear por aí, esperando que alguém, desesperado e necessitado, lhe pegue, para ser novamente enrolado na teia que envolve o assunto que o inerte tem em mãos.
A inércia surge do nada, entranha-se na nossa vida quando se pede ou contrata alguém para um serviço, para algo, e passado tempo nos vemos embrulhados numa miríade de assuntos, problemas, perfeitamente lógicos, esmiuçados em reuniões inúteis e tantas vezes adiadas, esquemas dilatórios, dias que se prolongam por semanas e, quando damos por isso, já são meses.
Podemos dar um murro na mesa. Podemos. Mas e depois? Quem nos garante que a inércia não ataca outra vez, infiltrada noutra pessoa? Quem nos garante que a gestão do tempo, em que nós somos o compasso de espera, não nos bate sub-repticiamente à porta e nos ilude, apesar do olhar que já temos a obrigação de conhecer de ginjeira? A inércia, disfarçada de boa vontade, de ação desproporcionada, de pedidos desnecessários, de omissões pontuais, de truques na transmissão do ónus, cansa, aborrece, transtorna, desconcentra, destrói. A inércia é o que dá cabo disto tudo.
Advogado