Michel Temer. O vice que virou líder do golpe (e do país)

Michel Temer. O vice que virou líder do golpe (e do país)


Chega a chefe de Estado com 2% nas intenções de voto e aliado com os rivais que venceu com Dilma nas presidenciais de 2014


Quando, ainda em abril, foi divulgado um áudio com o suposto discurso de tomada de posse de Michel Temer, Dilma não perdeu tempo para atacar o seu ainda vice-presidente: “Um dos chefes da conspiração assume a condição de presidente da República. Revela traição a mim e à democracia.”

Temer não mostrou embaraço com a gravação que o mostrava a anunciar um “governo de salvação nacional”. Tal como não se mostra constrangido com o facto de estar prestes a assumir o mais alto cargo da nação num momento em que as sondagens lhe atribuem apenas 2% das intenções de voto a nível nacional.

Desde que se tornou claro que o processo de impeachment vai mesmo derrubar Dilma – pelo menos temporariamente –, o líder do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) despiu a farda de vice e vestiu a de chefe de Estado a aguardar a tomada de posse. Na imprensa internacional aparece a defender a credibilidade do processo: “Cada passo do impeachment está de acordo com a Constituição”, garante ao “Wall Street Journal”; “quando o tempo chegar, terei o governo na minha cabeça e só então anunciarei nomes”, explicou a “New York Times”.

Ao mesmo tempo, a imprensa local revela os pormenores das negociações de bastidores, expondo a forma como Temer já enfrenta os “pesadelos” de Dilma. A redução do número de ministérios é prioridade assumida, mas se no início foi avançado que seriam apenas 17 – exatamente o número de edifícios existentes na Esplanada de Brasília para ministérios –, agora já podem ser 25 – “dado o apetite dos aliados por cargos, está mais para 25 do que para 15”, avisava a UOL no dia 3.

E é nos aliados que estará o maior problema de legitimidade para um quase presidente que apelida a ideia de eleições antecipadas como “golpe” do PT. Temer espera ser apoiado parlamentarmente por uma coligação radicalmente diferente da de Dilma, virada à direita, com forças como o PSDB de Aécio Neves – derrotado por Dilma e Temer nas presidenciais de 2014 – ou os democratas do DEM, ausentes do governo desde a primeira eleição de Lula. A imprensa brasileira garante que para garantir a presença do PSDB, Temer terá prometido limitar a presidência a um único mandato, como há muito pede o maior partido da oposição.

“Vai ser difícil eles conseguirem quebrar todos os programas, mas que vão tentar, vão”, avisou Dilma esta semana. E os rivais não desmentem. O economista Ricardo Paes de Barros, tido como um dos responsáveis pelo programa de Temer, já anunciou cortes para a Bolsa Família, o maior programa social do PT: “Está inchado”, avisou Barros, antes de assumir em entrevista à “Folha” que “tem gente que vai sofrer”.