“É horrível querer ajudar e não saber como”

“É horrível querer ajudar e não saber como”


O i contactou com a primeira organização não-governamental que começou a trabalhar em Bodrum, um porto turco situado a quatro quilómetros da ilha grega de Kos, e que teve um papel fundamental na ajuda aos refugiados do outro lado do mar Egeu. Ayça Kubat, fundador da Bodrum Humanity esclareceu alguns aspetos importantes sobre a situação…


– Como é que a vossa associação foi criada?

Antes de se tornar uma associação sem fins lucrativos, em 2015, esta era apenas um grupo de pessoas de Bodrum que queriam ajudar os mais necessitados. Começámos a juntar-nos mais regularmente quando esta grande massa de refugiados começou a chegar à Turquia. Começámos a preparar roupas, mantas, comida e bebidas para lhes entregar.

– Porque sentiram a necessidade de criar uma associação para ajudar os refugiados?

Houve uma grande crise na cidade e esta não estava preparada para a vinda de tantos refugiados. As instituições não sabiam como lidar com os refugiados que chegavam até elas sem nada. Sentimos que era preciso criar a nossa associação, tentando assim ser mais um contributo para o bem-estar destes milhares de pessoas.

– Os vossos voluntários são todos residentes em Bodrum?

Sim, mas de vez em quando temos voluntários de curto prazo de outras cidades.

– Em que altura do ano chegaram mais refugiados a Bodrum?

A altura mais complicada foi, sem dúvida, no fim de agosto, início de setembro. Chegavam cerca de 800 a 900 refugiados por dia e nós não tínhamos capacidades para ajudar toda a gente. As pessoas vinham esfomeadas, com as roupas rasgadas, as crianças necessitavam de medicamentos, apareciam mulheres grávidas de 7 a 8 meses e nós não conseguíamos ajudar todos… É horrível querer ajudar e não saber como. No entanto à nossa associação juntou-se muita gente, houve dias que chegámos a ser mais de 200 voluntários.

– Qual é a situação neste momento em Bodrum? Há refugiados?

Há muito poucos refugiados que ficam em Bodrum neste momento. Depois do acordo com a União Europeia, os números diminuíram drasticamente. A razão pela qual os refugiados vinham até Bodrum era única e exclusivamente porque a Grécia fica a 4km de distância e a passagem é, normalmente, segura.

– Segundo várias informações, já não há campos de refugiados em Bodrum . Os poucos refugiados que ainda aqui chegam ficam em que locais?

Sim. Os poucos que agora vêm dormem, infelizmente, nas ruas durante um dia ou dois, sem qualquer abrigo. Os que têm mais dinheiro alugam apartamentos baratos.

– Falou há pouco do acordo da EU com a Turquia. Os migrantes que não solicitaram asilo no seu país e que não pertencem a nenhum país em guerra são deportados para a Turquia. Sabe para que locais?

Segundo o governo turco, são transportados para os principais campos de refugiados do país. É a única informação que sei sobre esse assunto.