Marcolino Moco veio a Lisboa dizer que a relação entre Portugal e Angola há muito que é desigual. Em entrevista à agência Lusa, o antigo primeiro-ministro angolano comentou as declarações de Paulo Portas que, durante um período tenso nas relações entre os dois países e na qualidade de governante português, alertou para o risco da “judicialização” destas relações. Moco considera “mirabolante” a palavra de Portas e entende que, ao procurar acautelar esse risco, o ex-vice-primeiro-ministro propôs que fosse Portugal a “angolanizar a sua justiça”.
Paulo Portas foi o alvo escolhido pelo primeiro secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (1996/2000), que notou que quando chegam a “Portugal assuntos relacionados com Angola, Portugal abandona a sua regra de diamante, que é a de separação do poder político e judicial”.
Segundo Moco, há uma “manipulação de conceitos” em torno das relações luso–angolanas, sobretudo por parte de Luanda, que “politiza” problemas que existem entre pessoas e empresas, lembrando que, há alguns anos, “alertou” para a “permissão” portuguesa de vender setores estratégicos a empresários angolanos. “Já tinha alertado para que essa permissão de Portugal de vender setores estratégicos a ‘angolanos’ – porque não são uma classe empresarial verdadeira, são homens e mulheres do poder, que se eternizam no poder – havia de custar a Portugal. Acho que não me enganei, porque é justamente isso que está a acontecer hoje”, sublinhou.
“Perguntei, então, se a União Europeia não tinha uma forma de ajudar Portugal a livrar-se desta situação, que iria criar problemas. Ninguém me ouviu na altura. Era a altura do entusiasmo, do maná, mas nunca entendi que se chamasse crescimento económico à valorização, que tinha sempre de ser temporária, de um produto único para um país.”
O “milagre económico” de Angola era, porém, a frase mais destacada de então, acrescentou, o que permitiu que as coisas chegassem ao ponto de qualquer problema de negócios ser logo elevado ao nível de relações entre Estados. “O que é mais curioso, algo masoquista, é que alguma elite portuguesa acha que deve ser assim. Que os tais ‘angolanos’ devem exigir tudo o quiserem perante Portugal, como se Portugal tivesse alguma culpa.”