Ricardo. “Sou um fox para a vida”

Ricardo. “Sou um fox para a vida”


O ex-guarda-redes do Sporting e do Boavista é por esta altura um homem feliz. Porquê? Porque foi campeão inglês o Leicester, clube que representou na época de 2010/11. Por pouco tempo graças a uma lesão grave no ombro, mas trata-se de um feito “fantástico” de um emblema que, segundo o português, já tinha estrutura de…


“É fantástico, fantástico! Sim, pode dizer–se que sou um fox [raposa, em português] para a vida.” É assim que o ex-guarda-redes do Sporting e do Boavista Ricardo fala ao i sobre o Leicester – e a sua conquista inédita do campeonato inglês deste ano -, clube por onde passou há cinco anos por apenas seis meses, na época de 2010/11, quando Sven-Göran Eriksson era treinador – uma lesão grave no ombro durante um treino fez com que tivesse de regressar a Portugal para jogar no Vitória de Setúbal. Mas o sentimento de carinho pelo clube inglês permaneceu até aos dias de hoje porque, embora a experiência tenha sido curta, deixou marcas positivas. “Eles merecem tudo o que se está a passar.”

“Sim, adorei a experiência, o espírito do clube, a cidade, os adeptos. A própria estrutura do clube era de equipa grande da Premier League”, afirma. Quando lá chegou, o Leicester andava pela segunda divisão, o Championship (a subida só aconteceria três épocas depois), e acabaria por ficar a meio da tabela, em décimo lugar. Recorda que na sua estreia contra o Derby County, o seu primeiro jogo fora, os adeptos chegaram a cantar o seu nome. “E ainda por cima ganhámos. Foi a melhor recordação que eu trouxe.” E se olharmos para trás na história deste campeonato, é bem verdade: 2-0 com um golo de Yakubu Ayegbeni e outro de Andy King, “um puro irlandês, uma raça ‘terrível’”, e que ainda hoje permanece no plantel, agora com 27 anos e um caneco no bolso. Ou mesmo Jeffrey Schlupp, hoje com 23 anos, mas na altura um miúdo “com uma qualidade espetacular”, relembra o guarda-redes de 40 anos.

Ricardo, que partilhou os relvados ingleses com o ex-jogador do Benfica Miguel Vítor e com o jogador do Guimarães Moreno – e até contra Ricardo Rocha, que na altura alinhava pelo Portsmouth -, garante que não teve problemas de adaptação depois de vir do Bétis de Sevilha, onde estava desde 2007. “Havia muitos portugueses na cidade, até mesmo restaurantes com comida do nosso país, e a forma de olhar para o futebol em Inglaterra é muito como a minha.” Ou seja, que com clube, administração, adeptos e cidade, todos a trabalhar para o mesmo graças a “uma atitude muito séria no trabalho”, os contos de fadas podem realizar-se.

Mesmo que a passagem tenha sido breve, Ricardo também deu de caras com a importância do râguebi e esteve próximo dos Leicester Tigers, uma das melhores equipas da Europa. “Sim, eu ia ao râguebi de duas em duas semanas, e eles treinavam connosco uma vez por semana no nosso dome [recinto de treinos]. Era impossível não viver esse espírito. Talvez o fenómeno do futebol venha a ser equiparado ao desta modalidade em Leicester agora”, afirma.

Boavista? Não se compara Por outro lado, é quase impossível não comparar o feito deste Leicester com o do Boavista campeão de 2000/01, quando Ricardo tinha 25 anos. Ou então é. “Não há comparação possível. O Boavista já tinha ficado em segundo e tinha estado constantemente em competições europeias. Nessa dimensão, o Boavista é maior. Claro que, em termos financeiros, o Leicester tem mais poderio”, admite. E basta comparar para o perceber. Mesmo que os foxes sejam o quarto clube mais barato da liga inglesa – como explicou o jornal britânico “The Independent” -, têm um valor que ascende aos 127 milhões de euros, segundo a TransferMarkt. Atualmente, o Boavista está avaliado em 15,48 milhões de euros. É fazer as contas, leitor.

Por isso, para o guardião português esta foi uma conquista de “que não estava à espera”, mesmo com a tal estrutura de equipa de Premier League. “Foi um passo de gigante, porque na Championship é muito difícil subir, temos lá antigos campeões ingleses, muitas jornadas, e é muito competitivo”. Só que estas raposas foram ganhando jogo a jogo para ver “até onde ‘aguentavam’ e depois foi ao contrário: já ninguém os ‘aguentava’”, garante com humor.

Ricardo, que agora já não pisa os relvados, tem pena de não ter rumado a Inglaterra em 2007, em vez de Espanha. “Depois da minha lesão no Leicester foi muito difícil, não sabia se ia ficar a 100%. Não me arrependo de nada do que fiz, mas se pudesse alterar alguma coisa, tinha optado por Inglaterra. É um mundo à parte. A relação entre as pessoas que trabalham no clube e os adeptos é algo que, infelizmente, não temos no nosso país”, remata.