Wiki. Rap de vestir a t-shirt

Wiki. Rap de vestir a t-shirt


Membro central dos Ratking e herói também a solo que em 2015 editou “Lil Me”, um dos grandes discos de hip-hop desse ano. Atua hoje, com Sporting Life – também do grupo nova-iorquino -, no Musicbox


O telefone toca e nem sempre dá prémio. Não é que tenhamos falhado na capital da Bolívia – essa é fácil – só que o Atlântico, quando desafiado a deixar duas pessoas conversar sobre rap, nem sempre é boa gente. Nada de grave, a coisa fez-se e à medida que os minutos foram passando fomos apanhando o flow de Wiki, sim, que quase diríamos que é mais fácil entendê-lo a cantar do que nestes 15 minutos. Patrick Morales é filho da cultura nova-iorquina e de pai porto-riquenho, é membro dos Ratking e um dos grandes nomes da nova escola do rap norte-americano, ainda que Wiki seja dos que persegue a herança dos 90s.

Wiki e Sporting Life – outro membro dos Ratking, sobra ainda Hak – atuam hoje no Musicbox, em mais uma edição da Gin & Juice, olhar mensal do coletivo Match Attack para novas danças no ramo do hip-hop. A partir das 00h30.

É essa urgência, esse estar na rua e correr para o estúdio assim que a ideia ocorre, postura punk de querer tudo e o quanto antes, como é passível de ler no artigo que o “The Guardian” escreveu sobre os Ratking, quando estes editaram o primeiro disco “So It Goes” (2014): “We’re a rap group but we want to be part of the culture of punk”. E o nome punk, neste caso, não se traduz apenas em postura. Crescer em Nova Iorque e só gostar de hip-hop não é tarefa fácil, até para os mais fanáticos, até para os que sempre souberam de cor as letras Nas, Biggie, Cam’ron, Wu Tang Clan. Diga-se que o hardcore, o punk, o grunge, foram gomas que não conseguimos evitar comer durante a década de 90.

Wiki não foge à regra, chegando mesmo a ter uma banda de hardcore em jovem. Mas é o mesmo que confessa não se recordar de um momento específico em que teve de optar entre os dois estilos: “Não tem que ser uma preferência, foi o que aconteceu, foi o que estava a fazer. Não quer dizer que não oiça hardcore e punk, a questão é que o rap foi aquilo que mais me envolveu. Sabes, os miúdos passam a vida a rimar, vais a uma festa começas logo a rimar, acho que foi por aí”.

Confrontado com a tal frase dita ao “The Guardian” Wiki começa por dizer que já foi há um tempo mas que mantém a ideia: “Ter essa postura de banda, a atitude de estarmos juntos, de amenizar os egos. Até o simples facto de fazer T-shirts da banda e andar com elas vestidas é muito mais punk do que rap”. Egos que, como quaisquer seres vivos que ocupem o mesmo habitat durante demasiado tempo, às tantas embatem. Talvez por isso Wiki tenha decidido lançar-se também a solo, editando “Lil Me” o ano passado, pois se “é bom estar num grupo, debater ideias, construir uma casa com amigos” não deixa de ser libertador estar por sua conta: “Também gosto de estar sozinho, ter controlo sobre tudo, decidir por mim. Quero elevar o rap a outro nível, é isso que persigo”, confessa.

E se estamos numa confissões é apanhar-lhe o jeito antes que se esfume. Vamos lá então saber de onde vem este nome artístico que parece só poder vir de um sítio: Wikipédia: “Foi-me dado quando era mais novo, ou seja, não foi escolhido mas acabou por ficar agarrado. Mas sim veio dessa coisa do ‘wiki, seu cabrão, pensas que sabes tudo’, coisa da qual já não me consegui livrar e hoje nem me importo”. Nem com o nome nem aquilo que é uma das suas marcas de água, o seu “nasal flow”, ritmo anasalado que o faz ver-se melhor ao longe, que o faz distinguir-se na fotografia. Quisemos saber se lhe é natural. “Claro que quando estás a rimar tens que ter em conta a técnica, tens que definir um ritmo e este é o meu, é-me totalmente naturalmente, aquilo sou eu, não sou sempre tão agressivo como sou no microfone mas continuo a ser eu”.