PSD. Deputados confrangidos com estratégia de Passos

PSD. Deputados confrangidos com estratégia de Passos


“Falta estratégia”, “falta fogo”, “fomos ultrapassados”, “nada mudou desde o congresso” e “o PSD está à espera que o governo caia” são as críticas de alguns deputados sociais-democratas à estratégia de Passos Coelho na oposição a António Costa


Passos Coelho está longe de enfrentar uma rebelião na sua bancada parlamentar, mas a estratégia do líder do PSD começa a ser questionada até por passistas eleitos em São Bento.

Por ora evita-se o confronto, mas crescem as vozes que nos bastidores levantam mais dúvidas do que certezas sobre o guião do líder do PSD, reeleito com 95% dos votos, na oposição a António Costa.

“Estratégia? Qual estratégia?”, questiona um social-democrata. “Falta iniciativa ao PSD. Falta-lhe fogo. Bem sei que não é preciso ser estridente [numa referência à entrevista de Passos ao “SOL”] e ir a 200 km/h, mas também não se pode estar parado”, defende um passista ao i.

As críticas parecem ter subido de tom com a iniciativa do CDS de forçar a votação do Programa de Estabilidade (PE) e do Programa Nacional de Reformas (PNR), chumbados pelo PS, BE, PCP e PEV, mesmo depois de Jerónimo de Sousa ter assumido, à saída de um encontro com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em Belém, que era contra o PE.

O PSD votou a favor o projeto de resolução do CDS, que fica para a história como o autor de um diploma que obrigou a esquerda radical, sobretudo o PCP, a engolir um sapo. “O PSD foi ultrapassado e isso parece indesmentível. Enquanto o CDS, com maior ou menor competência, vai criando este ou aquele facto político, no PSD não se vê nada, não se apalpa nada. E isso é confrangedor para um partido como o PSD”, critica outro deputado ouvido pelo i.

Há duas semanas, Passos Coelho “falhou” a reunião quinzenal do grupo parlamentar para preparar os trabalhos da bancada. Na agenda estava o PE e o PNR, dois documentos que seriam aprovados em Conselho de Ministros nesse mesmo dia e discutidos depois no parlamento (na quarta-feira). A ausência do líder do PSD na reunião do grupo parlamentar merece reparos, em surdina. “Parecemos um partido no autoexílio, quase clandestino”, ouve-se nos corredores da Assembleia da República.

Passos já disse que quer deixar ao governo o que é do governo, e mesmo que o PSD tenha apresentado medidas alternativas para o PNR, a verdade é que recusou tomar a iniciativa de provocar a votação tanto do PE como do PNR – isto porque o líder do PSD recusa responsabilidades, negativas ou positivas, numa governação que acredita que não vai dar bons resultados. Mas não faltam dirigentes a defender que devia ter sido o PSD a tomar o comando da oposição a Costa.

Foi o caso de Paulo Rangel, que já havia defendido no congresso do PSD, em Espinho, uma oposição mais aguerrida, e que disse agora preto no branco que devia ter sido o PSD a provocar a votação dos diplomas, e não o CDS. Até para evitar comentários como “o CDS liderou a oposição”, disse Lobo Xavier, ou como o de Marques Mendes, que no seu comentário de domingo na SIC não evitou arrumar o assunto a favor do CDS. “Duas pessoas que saíram vitoriosas: António Costa [porque viu os diplomas aprovados] e Assunção Cristas, porque o CDS ultrapassou o PSD e causou incómodo no PSD, PCP e BE.”

As críticas não caem bem na bancada do PSD, é certo, e reforçam o desconforto em relação ao guião de Passos Coelho. “O que me preocupa é que, neste momento, o PSD está à espera que o governo caia. Mas este governo dá sinais de que está para durar. O PSD tem de afinar a sua estratégia”, ouviu o i de um destacado deputado que não evitou críticas também à direção da bancada parlamentar por “se limitar a reagir aos acontecimentos, nem sempre de uma forma coordenada”.

Na memória dos deputados do PSD estão ainda bem presentes as intervenções de Passos Coelho no congresso social–democrata (1 a 3 de abril) e a ideia de que uma nova fase se abrira a partir de então na oposição ao governo que, não saindo vencedor das eleições de outubro, acabou por formar-se com o apoio do PS, BE, PCP e PEV. “Não vejo diferença entre o período que antecedeu o congresso e o pós-congresso. Esta ideia de que o PSD só está à espera que o governo acabe era aceitável antes do congresso, não depois de toda aquela retórica de que este governo, afinal, está para durar. Porque se assim for, onde está o poder de jogo do PSD? Falta jogo ao PSD”, frisa outro social-democrata no parlamento ao i.