Paul Krugman contra a religião do défice

Paul Krugman contra a religião do défice


O economista mostrou-se solidário com a vontade de libertar a pressão sobre as contas públicas, mas alerta para riscos e problemas.


Paul Krugman defendeu esta quarta-feira que as medidas de austeridade aplicadas em Portugal nos últimos anos foram exageradas e defende que acabaram por ter consequências para a economia do país. Por isso, garante que Portugal tem espaço para “para ser menos severo”. Até, porque, explica convicto: “há espaço para reduzir a austeridade sem criar um problema de dívida”.

O mediático Nobel da Economia, que falou ontem, em Lisboa – onde participou no congresso  da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) –, defende ainda que não existem “boas razões para se ser religioso quanto às metas orçamentais”. Mas também deixou claro que não concorda com tudo o que o executivo de António Costa decidiu fazer. 

Em concreto, Krugman sublinhou o exemplo da subida do salário mínimo nacional: “Sou a favor de um salário mínimo mais alto, mas penso que em Portugal ele parece ser mais alto do que o país pode comportar”.

Vencer a Alemanha Para o economista, os países periféricos, como é o caso de Portugal, ficariam a ganhar com um aumento do investimento em países como França ou Alemanha. Ou seja: quem pode, deve gastar mais. Mas deixa claro que este caminho, apesar de não ser impossível, seria complicado: “Como se convence os alemães? É difícil”.
Na opinião do vencedor do prémio Nobel, Bruxelas deveria aliviar as regras orçamentais e dar mais flexibilidade aos países mais pequenos.

E, sublinha: “A Comissão Europeia devia ser mais tranquila. A rigidez das regras não é adequada à natureza dos problemas, já que os países não estão a ser indisciplinados do ponto de vista orçamental. O problema foi provocado por um ajustamento muito difícil e pela debilidade da economia europeia”. 
Até porque, como explica, é importante ter em conta que, quando os grandes países violam as regras, acabam por ser perdoados.

desafios no futuro O economista sublinha que há desafios que Portugal terá pela frente. Entre os problemas que Portugal vai ter de enfrentar estão, na opinião de Krugman, a crescente diminuição da população ativa. Um cenário que ganha ainda mais peso com o aumento da emigração, cujo resultado é existam menos pessoas a pagar impostos em Portugal.

Mas nem só Portugal têm grandes desafios pela frente. Também a economia europeia vai ter de vencer obstáculos. Para Krugman, a política económica, quando “observada de fora, parece ter dois universos: o BCE, que faz tudo o que pode, e depois os políticos, que se centram na diabolização da dívida pública”.

E defende: “O debate sobre os resultados da austeridade acabou. A austeridade esmagou o crescimento económico. As provas são claras. A austeridade foi como se estivessem a bater com o martelo na cabeça da pessoa. E, se ainda não foram ao médico tentar reverter os efeitos do martelo, pelo menos deixaram de bater e criaram espaço para o crescimento”.