Mark Selby. O cirurgião de Leicester fez o seu trabalho

Mark Selby. O cirurgião de Leicester fez o seu trabalho


É a segunda vez que o inglês vence o Mundial de snooker. E logo no mesmo dia e apenas treze minutos depois do seu Leicester vencer a liga inglesa 


Por esta altura não haverá qualquer notícia sobre desporto que não inclua o feito histórico do Leicester City depois de ter alcançado o seu primeiro título da liga inglesa.Mas no mesmo dia e apenas treze minutos depois dojogo entre oTottenham e o Chelsea (2-2) entregar o título a Claudio Ranieri e companhia, um tal de Mark Selby, fã confesso dos “foxes” e atual número um do snooker mundial, venceu anteontem o seu segundo Campeonato do Mundo numa final histórica, contra o chinês Ding Junhui por 18-14 no mítico Crucible Teatre em Shefflield, Inglaterra. Portanto, a pequena cidade que agora estará em todos os holofotes do mundo, nem sequer será falada pelo râguebi, o seu desporto principal, mas sim pelo futebol e pelo snooker: duas modalidades em que Leicester é líder em 2016.

E para um torneio que se disputa durante 17 dias, o vencedor precisa de paciência, mestria e resistência – até nas pausas para idas à casa de banho, veja as imagens da BBC de Selby no encontro das meias finais que venceu por 17-15 contra MarcoFu, outra esperança chinesa, onde foi batido o recorde de maior duração de um frame(contando com a ida à casa de banho), ou seja, os “jogos” dentro de uma partida de snooker: 76 minutos e onze segundos.Mas também foi necessário muito jogo defensivo, tática em que o inglês é mestre. 

“Selby é um cirúrgico, constrói muito bem o break mas também sabe, quando é preciso, ou quando não se sente confortável ser letal na mesma, mas com o jogo defensivo, onde é mestre”. É assim que Rui Saldanha, membro da página de facebook “Snooker Portugal” desde 2014, que serve como plataforma para os amantes portugueses deste desporto, fez análise ao i deste encontro. E é exatamente o termo “cirurgião”, que outro das grandes lendas vivas do snooker, Ronnie O’Sullivan – que acabou eliminado este ano contra Barry Hawkins –, utilizou para destacar esta vitória: “é como um cirurgião a ir trabalhar”, afirmou citado pelo Eurosport.

Naquela que foi a terceira final da carreira em mundiais do britânico de 32 anos – em 2014 venceu O’Sullivan e em 2007 perdeu contra JohnHiggins –, esta era a oportunidade de conquistar um grande título, já que no ano passado a morte do seu sogro o afastou do Masters de Xangai, tendo só ganho o Open deBdynia na Polónia, um torneio “minor” [eventos menos importantes por darem menos dinheiro], até chegar a Sheffield esta época. 

Para o “Jester [bobo, em português] from Leicester”, alcunha dada a Selby pelo antigo apresentador do “Crucible Theatre” Richard Beare – a sua boa disposição e grande sentido de humor num jogo em que até o silêncio é tenso justificam-na – a chave do sucesso foi o seu “jogo B”, isto é, defender, defender, defender. “Foi fantástico, mas senti muito mais pressão este ano do que em 2014. Deixei a minha melhor performance para o fim e só tinha tido duas sessões boas no torneio.Felizmente que o meu jogo B estava muito bom”, disse o jogador citado peloTheGuardian. É como a equipa de que é adepto, porque segundo os comentadores do futebol de todo o mundo, essa também foi a fórmula para a conquista doLeicester: a organização defensiva e a paciência na busca do melhor resultado.

Uma opinião assinada por baixo por RuiSaldanha.“Ele não se sentiu tão à vontade como noutros torneios, e o jogo provavelmente acabou por não sair como ele queria e acabou por optar pelo Jogo B.”, afirma explicando também que o facto de não ter apanhado nenhum jogador, em teoria, “ao seu  nível” até às meias finais pode ter ajudado a escolher esta estratégia.

Falta falar da prestação de Ding, que se estreou como o primeiro asiático de sempre a chegar  ao maior dos palcos das mesas de bilhar e que tinha todo um país a olhar para ele – a China está a querer impor-se no snooker e olhando para o número de espetadores asiáticos(mais de um quarto dos  espectadores de televisão chineses assistiram a este jogo), percebe-se o porquê. “ODing teve de disputar três jogos de qualificação para chegar à final, e isso pode ter pesado, mas penso que jogou a um nível de snooker equivalente ao que demonstrou na época de 2013/14  [venceu cinco ‘majors’ como o Open da Índia ou oMasters da Alemanha, dois dos eventos mais importantes do circuito].Teve ‘azar’ em apanhar oSelby”, justifica Rui Saldanha.

Agora a cidade de Leicester tem mais do que um motivo para sorrir. É que quer seja com uma multidão a aplaudir num campo de futebol ou num teatro onde o silêncio é que reina, este ano são eles que mandam. Sempre a defender, claro está.