Jessica Walsh. “Não sou o tipo de pessoa que se deixa deslumbrar”

Jessica Walsh. “Não sou o tipo de pessoa que se deixa deslumbrar”


Aos 29 anos é uma das designers mais reputadas do mundo, título aliás conquistado há vários anos, quando apenas aos 25 se tornou sócia de Stefan Sagmeister, na Sagmeister & Walsh


Não é difícil encontrá-la numa hora de almoço no IADE. Jessica Walsh está onde estiver a multidão, coisa que não admira se pensarmos que ela será das designers com mais olhos postos em si de todo o mundo, especialmente os dos mais novos. Jessica Walsh tem 29 anos e em 2015 integrou a lista dos 30 Under 30 da Forbes, e três anos antes já a revista Complex tinha colocado o seu nome entre os dos 25 designers aos quais devíamos estar mais atentos. Provavelmente porque nesse ano de 2012, com apenas 25 anos, Jessica Walsh se tornou sócia de Stefan Sagmeister no seu estúdio, que alterou então o seu nome para Sagmeister & Walsh. Mudança tornada acontecimento pela fotografia que tiraram nus, a recuperar a que Sagmeister fizera sozinho 19 anos antesm aquando da abertura do estúdio.

De Nova Iorque direta para uma conferência na nova sede da EDP em Lisboa, empresa cuja identidade renovou há quatro anos com Sagmeister, encontrou-se connosco no dia seguinte para uma entrevista que era já a sexta, depois de um workshop de uma manhã inteira no IADE. Jessica Walsh não para, não pode. E tudo isto pode vir de antes, mas começou naquele ano de 2012, ao qual é impossível não voltar.

Aos 25 anos chegaste a diretora de arte e sócia na Sagmeister & Walsh. Como é que isso aconteceu?

Eu já trabalhava como diretora de arte numa revista chamada Print, que era uma revista de design gráfico, fiz isso durante uns tempos mas sempre soube que o que queria era ter o meu próprio estúdio. O que me interessava era trabalhar para marcas porque gosto de variedade nos projetos e de não estar a trabalhar para apenas um tipo de cliente. Por isso encontrei-me com o Stefan [Sagmeister] para ele me dar alguns conselhos – dos designers que havia em Nova Iorque ele era aquele cujo trabalho mais me interessava, pela sua qualidade emocional e pessoal, que é uma coisa que acho que falta ao design. Eu queria apenas aconselhar-me mas quando me encontrei com ele, adorou o meu trabalho e perguntou-me se queria experimentar fazer alguns projetos em conjunto. Então começámos a fazer alguns projetos, resulou e acabei por ficar a trabalhar para ele durante dois anos. Quando achei que estava pronta para seguir o meu caminho, conversámos e ele não queria que eu me fosse embora. Foi assim que chegámos a esta parceria.

Como foi de repente seres sócia de alguém como tinhas como referência?

Sabes… eu sempre gostei do trabalho do Stefan, e claro que aprendi muitas coisas com ele, mas nunca andei assim atrás dele. Não sou o tipo de pessoa que se deixa deslumbrar. E quando começámos a trabalhar juntos foi sempre mais uma colaboração. Aprendi muitas coisas com ele, claro, mas aprendi muitas coisas com todas as pessoas com quem colaborei.

Dizias há pouco que achas que falta um lado pessoal e emocional ao design.

Sim, acho que muito do design gráfico falha nisso. Quando se olha para outras profissões criativas, como o cinema, a música, vê-se tanta gente a trazer elementos tão pessoais e emocionais, e por alguma razão os designers fogem disso.

Porquê?

O design não tem de ser necessariamente para vender trabalhos a clientes, podes usá-lo como forma de expressão ou para criares os teus próprios conteúdos, as tuas mensagens. Não há muitos designers no mundo a fazerem isto.

É por isso que manténs fazes questão de ir tendo vários projetos pessoais paralelamente ao trabalho que desenvolves para clientes?

Sim, para poder fazer uma mistura dos trabalhos encomendados por clientes com projetos de iniciativa própria. Acho que quando não tens um cliente há muito mais espaço para a experimentação, para fazeres coisas segundo as tuas próprias regras, ver se resultam, fazer coisas menos convencionais que um cliente pode não querer. Gosto mesmo de poder ter as duas coisas.

Mas pode ser um equilíbrio difícil?

É uma questão de arranjar tempo para isso, é como arranjares tempo para ir ao ginásio. Toda a gente acha que não tem tempo mas há sempre tempo, quando queres mesmo fazer uma coisa consegues arranjar tempo para ela. É uma questão de dizeres “na segunda-feira, ou no fim de semana, vou fazer este trabalho”.

Como surgem esses projetos? O “40 Days of Dating: An Experiment”, por exemplo, em parceria com Timothy Goodman, que terá sido o de maior sucesso?

Começou com nós a perguntarmo-nos por que é que há tantos problemas com o dating e o que é que pode ser feito para os resolver. Muitos projetos ou invenções começam com perguntarmo-nos por que é que as coisas são de determinada forma e como podemos mudá-las ou torná-las melhores.

Depois desse, fizeste “12 Kinds of Kindness”. Que temas te interessa explorar a seguir?

O Stefan e eu vamos fazer uma colaboração que tem como tema a beleza, para a exposição The Happy Show, que vai andar pelo mundo.

Esta é a segunda vez que vens a Portugal. A anterior foi por ocasião do rebranding da EDP, que esteve a cargo do vosso estúdio. Como vês para esse trabalho, com a distância destes anos?

Nem sempre fico satisfeita com o trabalho que faço mas acho que foi uma boa solução, acho que a solução se adaptou bem.