Há pelo menos quatro meses que a PSP tem montadas no terreno, em Lisboa e no Porto, ações permanentes de demonstração de força contra o terrorismo. Na sequência dos atentados de novembro de 2015 na capital francesa, a vigilância foi reforçada nos pontos nacionais considerados sensíveis – em aeroportos, portos e zonas fulcrais das duas principais cidades. Mas chamados a outras missões de patrulhamento, os agentes doCorpo de Intervenção (CI) já dão sinais de “desgaste”.
No final de uma dessas patrulhas, alguns elementos do CI da PSP decidiram pesar o equipamento que carregavam consigo. Resultado: entre coletes, armamento e outro tipo de proteções, contavam-se entre 12 e 15 quilos que, dizem ao i elementos desta unidade especial da PSP, serão desnecessários, tendo em conta o “policiamento de proximidade” para que têm sido convocados.
Os agentes chamam-lhe “a patrulha do boneco”. A expressão serve para ilustrar o tipo de missões em causa. Fardados com o equipamento antitraumático, os agentes passam várias horas em posições estáticas, a fazer corpo presente em missões que, dizem, “não se adequam ao tipo de serviço para que [estão] treinados”.
Em Lisboa, além do aeroporto, a zona da Baixa pombalina e o Largo de Camões têm sido palco destas demonstrações de força que se repetem a norte “de forma rotineira”, refere um elemento do CI. Essas ações integram-se na resposta à ameaça terrorista e fazem parte da missão dessa unidade. Mas a somar a isto, estes elementos têm sido repetidamente chamados para garantir a segurança em feiras e festivais, entre outros eventos. Consequência: as folgas deixaram de poder ser gozadas de forma regular e o próprio treino, numa unidade de elite, tem ficado comprometido para se dar resposta a todas as solicitações.
Sem tempo para instrução Ao i, elementos do CI referem que estas patrulhas, feitas de forma rotineira, têm tido consequências nos dias de descanso e até de treino dos agentes.
Contratualmente, e pelo tipo de serviço que prestam, está previsto que os elementos desta força especial da PSP devem estar permanentemente disponíveis para dar resposta a quaisquer situações não programadas. “Mas esse argumento não pode ser usado para sermos chamados para ações de rotina, que não são inesperadas”, defende um desses elementos, que pede para não ser identificado. “Há colegas a serem chamados quando estão de folga, ou então são informados no dia anterior que terão de apresentar-se ao serviço”, refere ainda.
Além disso, os dias de instrução, em que os agentes deveriam fazer preparação tática e que até há pouco tempo eram considerados “intocáveis”, deixaram de existir – em vez disso, os elementos doCI são chamados para sair à rua.
Para o presidente do Sindicato Unificado da Polícia (SUP-PSP), a utilização destes agentes em serviços de patrulha “são um sinal claro de que há falta de polícias”. Peixoto Rodrigues considera que “em determinadas zonas não deve haver necessidade de usar o equipamento” completo antimotim. “Ele pode ficar guardado nas carrinhas e ser colocado caso haja necessidade”, salvaguardando os agentes desta unidade.
Patrulha compromete ação Há pouco mais de um mês, um tiroteio na Ameixoeira, na Alta de Lisboa, deixou cinco pessoas feridas, entre as quais três agentes da PSP que acorreram de imediato ao local.
Nesse dia – em que também se jogava um Portugal-Bélgica em Leiria – havia elementos doCI de Lisboa numa dessas patrulhas estáticas. Para não abdicar dos homens que estavam plantados na capital, o comando decidiu chamar elementos que faziam a segurança ao jogo (que se realizava em Portugal precisamente por causa do elevado nível de ameaça terrorista na Bélgica). Coube a esses agentes descer a Lisboa e garantir a pacificação naquele bairro.
De resto, já não é a primeira vez que a resposta da Direção Nacional ao terrorismo motiva críticas. Em janeiro, cerca de um mês e meio depois dos atentados terroristas, a “sobrecarga horária” já tinha motivado “dezenas de queixas” ao SUP-PSP. A “inadequada formação e utilização da metralhadora” também motivava receios entre os agentes da PSP chamados ao terreno naquelas missões de dissuasão, mas que estavam pouco habituados ao equipamento que lhes era entregue.
Essas queixas foram apresentadas aos responsáveis da PSP. Em causa, dizem os agentes, está o “modelo” escolhido para fazer face à ameaça crescente do terrorismo – não por ser diferente daquele que se pratica na Bélgica ou em França, mas porque os meios serão insuficientes. “Não se pode definir um modelo de policiamento para um efeito quando se sabe que não se tem meios para dar uma resposta”, considera um dos elementos ouvidos.
Os agentes pedem, por isso, o “mínimo de respeito”, tendo em conta os constrangimentos sentidos pelas unidades. Confrontada com estas queixas, até ao fecho desta edição, a Direção Nacional da PSP não tinha respondido às questões colocadas pelo i.