CGTP. Um 1.º de Maio à espera do próximo

CGTP. Um 1.º de Maio à espera do próximo


Arménio Carlos continua a dar o benefício da dúvida a António Costa e até o elogiou no primeiro 1.º de Maio da geringonça. Críticas ao governo houve, mas para o anterior


Mal subiu ao palco, de costas para a Fonte Luminosa, na Alameda D. Afonso Henriques, Arménio Carlos reconheceu que este foi um Dia do Trabalhador “especial”. Segundo o líder da CGTP, “estamos num tempo novo”. Não foi de estranhar, por isso, que não tenham sido anunciadas greves gerais.

 Apenas foi divulgada uma semana de luta, de 16 a 20 de maio, dentro das empresas “que ainda não responderam aos cadernos reivindicativos”, e uma campanha nacional contra a precariedade, para lutar contra “um problema que atinge não só os trabalhadores mas também as famílias e a sociedade”. A campanha ainda não tem data, mas Arménio Carlos sabe que não quer, para já, o povo na rua contra este governo. A máquina sindical precisa de ser oleada, é certo. Mas será a nível setorial.

Foi pelo menos isso que se viu e percebeu durante o percurso de ontem entre o Martim Moniz e a Alameda, para comemorar o Dia do Trabalhador. Repetiram–se chavões e lutas antigas, mas desta vez sem palavras de ordem antigoverno.

Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS, havia de cumprimentar o líder da central afeta ao PCP logo no início da marcha. A pouco mais de 200 metros, Catarina Martins, coordenadora do BE, esperava a passagem de Arménio Carlos para um cumprimento solidário com a luta. Também Jerónimo de Sousa, no seu tradicional ponto de encontro com os trabalhadores que todos os anos sobem a avenida, quase revia o discurso dos últimos quatro anos. Olíder do PCP fechou o pleno: na mesma iniciativa estavam os partidos da nova maioria de esquerda. Mas não de mãos dadas.

E Jerónimo tratou de explicar porquê. Admitiu que PS, BE, PEC e PEV têm sabido conviver na “diversidade”, mas lembrou que “o governo é do PS”. O líder dos comunistas não evitou o aviso: “A solução política atual será tão mais duradoura conforme se responda aos anseios dos portugueses.” Estava dado o recado. Quanto tempo vai durar este acordo, insistiam os jornalistas. “Não somos adivinhos. É o PS que responde.” Ponto final.

O ambiente era de festa: a Alameda, onde terminou a marcha, quase parecia a Quinta da Atalaia, no Seixal, onde todos os anos o PCP faz a sua rentrée política, na Festa doAvante!. Seria uma antestreia da festa, é certo, mas mesmo assim não faltava música, muitas bifanas, ainda mais cerveja e sangria – foram precisos muitos geradores para manter a bebida fresca numa tarde de sol –, tendas dedicadas à causa internacional, como Cuba ou MédioOriente, cães e até trabalhadores que não evitaram levar a mochila vermelha oferecida pelo PS durante a campanha para as legislativas com as garrafais “Avançar Portugal”. E ainda um outdoor doBE, em plena Alameda, no qual o partido assinala uma das suas conquistas com o apoio ao governo: “Energia mais barata para 1 milhão de pessoas”, lia–se, numa referência ao aumento do número de beneficiários da tarifa social de eletricidade.

 Mas as festas da CGTP – e do PCP – fazem-se com luta e palavras de ordem contra alguém ou alguma coisa. E Arménio Carlos, no seu discurso, tratou de mais uma vez identificar o inimigo: o anterior governo e o PSD e o CDS. “Derrotámos a outra política. Contrariamente ao que eles pensavam, nós não desistimos e combatemos a poderosa ofensiva ideológica”, disse. Depois frisou a importância da central sindical na mudança. “As recentes eleições abriram a porta a uma solução alternativa. A nossa luta foi determinante para esta solução.”

Seguiu-se o elogio ao governo socialista pelo cumprimento de algumas promessas de campanha ou estabelecidas no acordo com o PCP para a formação do governo, como a eliminação da sobretaxa, o descongelamento dos suplementos de pensões e reformas ou a aprovação do diploma da interrupção voluntária da gravidez. “O cumprimento das promessas credibiliza os políticos e a política reforça a democracia”, atestou o líder.

Mas não há almoços grátis. “Este é um processo que tem de evoluir. É preciso ir mais longe. Não se pode parar. Sob pena de se transformar o sentimento positivo em contestação e desilusão”, avisou Arménio Carlos, para depois fixar os 110 mil associados como um dos objetivos da CGTP a atingir nos próximos quatro anos e lembrar que a força da CGTP é a rua.

As palavras elogiosas paraCosta foram seguidas por centenas de pessoas que, deitadas ou em pé sobre o relvado, lá resistiam como podiam ao sol. A intervenção de Arménio Carlos não terminou sem um caderno reivindicativo para o governo: o aumento do salário mínimo nacional e do salário geral dos trabalhadores da administração pública, a reposição das 35 horas de trabalho semanal e a renovação da contratação coletiva. “Vamos a jogo”, desafiou Arménio Carlos. “A luta não pode parar”, avisou. Mas que o tom da luta este ano foi mais pacífico, lá isso foi. No próximo ano ver-se-á.