A cidade de Maputo assistiu ontem à mobilização de blindados e de uma “presença policial musculada” que pretenderá prevenir a realização de protestos antigovernamentais convocados nas redes sociais e através de SMS nos últimos dias face ao escândalo de dívida ocultada pelo Governo que levou o FMI a suspender a ajuda financeira a Moçambique.
A jornada de protesto, convocada para hoje e amanhã, pretende mostrar a indignação popular não só face ao confronto armado que se arrasta no centro do país entre a Renamo e o Exército moçambicano mas principalmente face à situação de isolamento a que o país está a ser sujeito no panorama internacional devido à descoberta de cerca de dois mil milhões de dólares em dívida que os governos moçambicanos ocultaram nos últimos anos.
Depois de o FMI anunciar a suspensão da entrega de uma tranche do empréstimo no valor de 155 milhões de dólares, também o Banco Mundial decidiu cortar o apoio financeiro ao país. Medida repetida ontem também pelo governo britânico, que a justificou com “uma quebra de confiança séria” entre os parceiros internacionais e as instituições governamentais moçambicanas.
Sem caráter oficial – nem oposição nem sindicatos reconhecem a organização do protesto – a convocatória está a ser levada a sério pelas autoridades, que temem uma mobilização popular devido às crescentes dificuldades enfrentadas pela população face à desvalorização do metical e ao aumento dos preços verificado nos últimos meses.
Depois de a Polícia ter anunciado na quarta-feira que “não tolerará” qualquer manifestação não autorizada, ontem o primeiro-ministro Carlos Agostinho do Rosário falou à nação às 20h para reconhecer uma vez mais a dívida ocultada e apelidar as manifestações anunciadas como manobra de distração da Renamo, que culpabiliza pela violência que se vive no interior do país.
Vala comum Fenómeno que pode estar relacionado com uma descoberta macabra anunciada durante a tarde de ontem. Um grupo de camponeses uma vala comum com cerca de 120 corpos na zona 76, posto administrativo de Canda, no interior da Gorongosa, região onde alegadamente o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, se refugiou no início do ano.
Os cadáveres, alguns já em alto estado de decomposição, foram encontrados numa zona onde estava a ser extraída areia para a reabilitação de uma estrada nacional. O local fica próximo de uma mina ilegal de extração de ouro, pouco frequentada devido à escalada de violência na região.
Um dos camponeses que descobriu os corpos disse à agência “Lusa” que “a vala tem cerca de 120 corpos, uns já em ossadas e outros ainda em decomposição”, acrescentando ainda a suspeita de terem sido descarregados recentemente no local uma vez que havia marcas de manobras de viaturas.
Outra testemunha afirmou à Lusa não haver “vestígios militares visíveis”, embora se veicule a hipótese de o caso estar relacionado com a tensão atual que se vive naquela região, com as forças do governo e a ala militar da Renamo a trocarem acusações sobre assassínios e raptos ocorridos na região ao longo dos últimos meses.
Há cerca de duas semanas a Renamo denunciou a morte de 14 membros, dizendo que estes foram executados pelo exército desde o início de 2016. Além das vítimas, o maior partido da oposição moçambicana denunciou o desaparecimento de outras dezenas de pessoas, incluindo os guarda-costas do líder Afonso Dhlakama.