DBRS. O que tem de diferente esta agência de rating?

DBRS. O que tem de diferente esta agência de rating?


É canadiana e dá mais importância à evolução da Zona Euro do que à evolução momentânea da execução orçamental. Na pior fase da crise, nunca deixou cair o rating português


É uma agência de rating diferente das outras, e não apenas por dela depender o acesso de Portugal às operações de financiamento do BCE. É canadiana, tem uma perspetiva mais benigna do que as outras face às contas públicas portuguesas e, mesmo na fase mais aguda da crise internacional dos últimos anos, nunca atirou a notação portuguesa para o “lixo”.

“Nós temos uma visão de longo prazo sobre o perfil de crédito de um soberano e, portanto, os nossos ratings normalmente respondem às mudanças estruturais nos fundamentos de crédito”, explicou ao i Adriana Alvarado, a analista da DBRS responsável por acompanhar Portugal.

Por norma, acrescenta, esta abordagem da agência resulta em classificações “mais estáveis e previsíveis”, mesmo nos momentos de maior agitação nos mercados. “Os nossos ratings soberanos europeus foram menos voláteis durante a crise da zona euro, comparando com outras agências.”

A importância da agência Logo depois das últimas eleições legislativas, que levaram o PS ao poder com um programa de reversão de medidas de austeridade, a Fitch foi rápida a reagir e avisou que poderia haver uma ação negativa no rating. A Moody’s e a S&P fizeram alertas semelhantes. A DBRS fez alguns avisos, mas mesmo antes da avaliação desta sexta-feira admitiu estar confortável com a notação do país.

O rating desta agência canadiana revela-se de extrema importância porque, entre as quatro agências internacionais que analisam a dívida soberana nacional, a canadiana é a única que mantém Portugal num nível não especulativo, que dá acesso ao financiamento do BCE. O banco central tem em curso um programa de compra de dívida pública, que alivia os juros da dívida, ao qual Portugal não poderia ter acesso sem a notação da DBRS. Além disso, os bancos deixariam de poder usar a dívida pública portuguesa como garantia dos empréstimos que vão buscar ao banco central, caso fosse decidido um downgrade.

Para já, apesar dos riscos orçamentais, a avaliação da DBRS é sustentada também pelo efeito europeu. Como membro da moeda única, explica Adriana, “Portugal beneficia de uma forte credibilidade das instituições da zona do euro, incluindo a do BCE e da gama disponível de instrumentos de política monetária, destinada a assegurar a estabilidade financeira na região”. E mesmo que as condições de financiamento do país se deteriorem, a DBRS “acredita que haveria disponibilidade para um apoio financeiro suplementar da UE, se necessário”.

Como é decidido o rating Mas isso não impede um elevado grau de acompanhamento da situação do país, em que Adriana Alvarado tem um papel essencial. Economista com um mestrado em Finanças, esta responsável começa por analisar “uma ampla gama de indicadores económicos, orçamentais, financeiros e políticos, a fim de avaliar a capacidade do governo de pagar as suas obrigações de dívida. Adriana tem dez anos de análise macroeconómica e, antes da DBRS, trabalhou para o Lloyds em Londres como economista sénior. Para complementar a informação estatística, faz pelo menos uma visita ao país por ano. É comum reunir com o Ministério das Finanças, o Banco de Portugal, o Conselho das Finanças Públicas, o IGCP e economistas do setor privado. Depois da análise de Adriana há uma decisão colegial em que uma comissão de avaliação determina a decisão final sobre o rating.