No consumo mandam elas!


Se tivéssemos mais mulheres à frente das entidades que condicionam a economia, o país estaria melhor


Não vale a pena andar a ligar muito ao charabiá de certos economistas que passam metade da vida a explicar o que vai acontecer e a outra metade a justificar os motivos pelos quais as coisas se passaram exatamente ao contrário.

A economia depende de uma coisa fundamental que, por enquanto, ainda ultrapassa a especulação pura e simplesmente indecorosa que gera milhares de milhões à melhor de um clique. Essa coisa chama-se consumo. E no consumo, as mulheres são decisivas. São elas que no quotidiano principalmente decidem o que comprar para as famílias; são elas que optam por este ou por aquele produto; são elas que gerem os orçamentos das famílias; são elas que adquirem coisas para toda a gente lá em casa, nomeadamente roupas para as crianças; são elas que escolhem as lojas; são elas que aceitam ou rejeitam as novas tendências da moda; são elas que validam os produtos, os projetos, viabilizando como consumidoras uma multitude de profissões ligadas à própria mulher, à casa e a mais um sem-número de coisas que nem dá para citar.

São também as mulheres que estão normalmente na base das grandes decisões das famílias, nomeadamente a mudança de casa. Já na compra do carro, o homem tem um papel mais relevante, mas limitado à escolha das características gerais do brinquedo utilitário.

Havia um cidadão sábio e atento que, ao fim de três casamentos, explicava que apesar de ter tido uma vida profissional cheia de sucessos e cargos, nunca tinha atingido o estatuto de chefe de família, quedando-se pelo de subchefe. Acrescentava, porém, que lá em casa a última palavra era sempre dele: “Sim, queridinha!” É claro que há algumas exceções e casos em que as responsabilidades e tarefas são absolutamente repartidas ou, mais raro ainda, em que é o homem que tudo decide. Mas são isso mesmo: exceções.

Na sociedade portuguesa, o normal é o grau de responsabilidade do homem se fixar em tarefas como ir fazer compras (com lista) e proceder a arranjos domésticos, embora a tendência da espécie na convivência intramuros seja normalmente ver televisão espojado no sofá, munido de um telecomando que foi (esse sim) o maior invento da comunicação depois da própria televisão, deixando a léguas internet, Twitter, Facebook e quejandos.

Tenham ou não vida profissional ativa e sendo certo que não ocupam proporcionalmente o número de cargos para os quais têm competência e habilitações, as mulheres, em Portugal e na generalidade do mundo civilizado, são o verdadeiro motor da economia e determinam o grau de confiança que influencia a economia a todos os níveis e, portanto, o emprego.

Quando se fala de consumo interno, são elas. Quando se mostra a estatística do crédito à habitação, são elas (mesmo que a compra resulte de um divórcio). Quando se fala em viagens e turismo de família (seja nos que nos visitam ou nas saídas dos portugueses), são elas outra vez que estão normalmente na origem das opções.

Consoante o nível socioeconómico, o padrão de consumo tipicamente masculino tem mais a ver com as secções de vinhos e petiscos ou com as áreas gourmet que agora abundam. No campo da atividade física, a presença masculina é ainda dominante no futebol, no ciclismo e numa ou noutra modalidade mais específica.

Mas noutras as mulheres entraram em força, como se pode ver no running (antigamente corrida a pé), nos ginásios, no fitness, no yoga, nas massagens, no pilates e na alimentação dita saudável inerente. A isso se junta, obviamente, a roupa adequada a cada caso, o que corresponde a um mercado gigantesco, no que diz respeito às vestes femininas

Um exemplo noutro campo tem a ver com o consumo de imprensa. São as mulheres que compram e leem as dezenas de revistas especializadas que existem (salvo caça, pesca, carros e montagem de aviões), sustentando boa parte da classe jornalística que ainda vive do que se imprime.

O papel das mulheres, a confiança e a perceção que elas demonstrem ou não são fatores determinantes e a ter em conta por quem pretende relançar a economia com base no consumo interno.

Na vida pública e política verifica-se, por outro lado, que normalmente os melhores exemplos de seriedade, competência e eficácia provêm de mulheres que, ainda por cima, conseguiram o milagre de não falharem à família.

Lamentavelmente, porém, as mulheres não têm representação suficiente nas instituições que gerem os fluxos de dinheiro de que a economia carece. A ausência delas é particularmente lamentável no topo da hierarquia bancária, onde não existem. Se tivéssemos tido meia dúzia de mulheres nessas funções, o país estaria provavelmente bem melhor. Muito do nosso colapso deveu-se à ganância de poder que caracteriza basicamente o género masculino. Há que o reconhecer! Quarenta e dois anos depois do 25 de abril, a prioridade para a igualdade de género passa muito mais por aí do que por iniciativas tão pueris como a do Bloco de Esquerda sobre o cartão de cidadão, por muito bem-intencionada que tenha sido.

Jornalista


No consumo mandam elas!


Se tivéssemos mais mulheres à frente das entidades que condicionam a economia, o país estaria melhor


Não vale a pena andar a ligar muito ao charabiá de certos economistas que passam metade da vida a explicar o que vai acontecer e a outra metade a justificar os motivos pelos quais as coisas se passaram exatamente ao contrário.

A economia depende de uma coisa fundamental que, por enquanto, ainda ultrapassa a especulação pura e simplesmente indecorosa que gera milhares de milhões à melhor de um clique. Essa coisa chama-se consumo. E no consumo, as mulheres são decisivas. São elas que no quotidiano principalmente decidem o que comprar para as famílias; são elas que optam por este ou por aquele produto; são elas que gerem os orçamentos das famílias; são elas que adquirem coisas para toda a gente lá em casa, nomeadamente roupas para as crianças; são elas que escolhem as lojas; são elas que aceitam ou rejeitam as novas tendências da moda; são elas que validam os produtos, os projetos, viabilizando como consumidoras uma multitude de profissões ligadas à própria mulher, à casa e a mais um sem-número de coisas que nem dá para citar.

São também as mulheres que estão normalmente na base das grandes decisões das famílias, nomeadamente a mudança de casa. Já na compra do carro, o homem tem um papel mais relevante, mas limitado à escolha das características gerais do brinquedo utilitário.

Havia um cidadão sábio e atento que, ao fim de três casamentos, explicava que apesar de ter tido uma vida profissional cheia de sucessos e cargos, nunca tinha atingido o estatuto de chefe de família, quedando-se pelo de subchefe. Acrescentava, porém, que lá em casa a última palavra era sempre dele: “Sim, queridinha!” É claro que há algumas exceções e casos em que as responsabilidades e tarefas são absolutamente repartidas ou, mais raro ainda, em que é o homem que tudo decide. Mas são isso mesmo: exceções.

Na sociedade portuguesa, o normal é o grau de responsabilidade do homem se fixar em tarefas como ir fazer compras (com lista) e proceder a arranjos domésticos, embora a tendência da espécie na convivência intramuros seja normalmente ver televisão espojado no sofá, munido de um telecomando que foi (esse sim) o maior invento da comunicação depois da própria televisão, deixando a léguas internet, Twitter, Facebook e quejandos.

Tenham ou não vida profissional ativa e sendo certo que não ocupam proporcionalmente o número de cargos para os quais têm competência e habilitações, as mulheres, em Portugal e na generalidade do mundo civilizado, são o verdadeiro motor da economia e determinam o grau de confiança que influencia a economia a todos os níveis e, portanto, o emprego.

Quando se fala de consumo interno, são elas. Quando se mostra a estatística do crédito à habitação, são elas (mesmo que a compra resulte de um divórcio). Quando se fala em viagens e turismo de família (seja nos que nos visitam ou nas saídas dos portugueses), são elas outra vez que estão normalmente na origem das opções.

Consoante o nível socioeconómico, o padrão de consumo tipicamente masculino tem mais a ver com as secções de vinhos e petiscos ou com as áreas gourmet que agora abundam. No campo da atividade física, a presença masculina é ainda dominante no futebol, no ciclismo e numa ou noutra modalidade mais específica.

Mas noutras as mulheres entraram em força, como se pode ver no running (antigamente corrida a pé), nos ginásios, no fitness, no yoga, nas massagens, no pilates e na alimentação dita saudável inerente. A isso se junta, obviamente, a roupa adequada a cada caso, o que corresponde a um mercado gigantesco, no que diz respeito às vestes femininas

Um exemplo noutro campo tem a ver com o consumo de imprensa. São as mulheres que compram e leem as dezenas de revistas especializadas que existem (salvo caça, pesca, carros e montagem de aviões), sustentando boa parte da classe jornalística que ainda vive do que se imprime.

O papel das mulheres, a confiança e a perceção que elas demonstrem ou não são fatores determinantes e a ter em conta por quem pretende relançar a economia com base no consumo interno.

Na vida pública e política verifica-se, por outro lado, que normalmente os melhores exemplos de seriedade, competência e eficácia provêm de mulheres que, ainda por cima, conseguiram o milagre de não falharem à família.

Lamentavelmente, porém, as mulheres não têm representação suficiente nas instituições que gerem os fluxos de dinheiro de que a economia carece. A ausência delas é particularmente lamentável no topo da hierarquia bancária, onde não existem. Se tivéssemos tido meia dúzia de mulheres nessas funções, o país estaria provavelmente bem melhor. Muito do nosso colapso deveu-se à ganância de poder que caracteriza basicamente o género masculino. Há que o reconhecer! Quarenta e dois anos depois do 25 de abril, a prioridade para a igualdade de género passa muito mais por aí do que por iniciativas tão pueris como a do Bloco de Esquerda sobre o cartão de cidadão, por muito bem-intencionada que tenha sido.

Jornalista