Dentro do contexto europeu, Portugal foi o país que mais investiu no aumento do número de horas de ensino da matemática. Se em 2003 os alunos tinham cerca de três horas por semana desta disciplina, em 2012 esse número já chegava às cinco horas dedicadas à disciplina. Esta é uma das conclusões de um novo estudo do projeto aQeduto, que nasceu de uma parceria entre o Conselho Nacional de Educação e a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Para a investigação, foram cruzados dados relativos às características dos estabelecimentos, notas dos alunos e à composição das turmas, divulgados nos últimos documentos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e do PISA (programa internacional de avaliação de alunos). Daí que, para os autores do estudo “O que faz uma boa escola”, seja inevitável associar este aumento da carga horária com “a melhoria do desempenho” dos alunos portugueses a matemática. Nos testes Pisa, Portugal registou um aumento de 466 pontos, em 2003, para 487 em 2012, numa escala que tem 1000 como limite e cuja média ronda os 500 pontos.
Apesar de não pôr de lado a importância que este tipo de cruzamento de dados possa ter para pintar um cenário global na educação, a presidente da Associação de Professores de Matemática garante, em declarações ao i, que não são as horas que o aluno passa a mais na sala de aulas que trazem melhores resultados a uma disciplina. “Não é o aumento de uma ou duas horas na carga horária semanal que vai fazer a diferença”, garante Lurdes Figueiral, para quem os bons resultados vêm da reforma curricular que se tem vindo a fazer desde 1974 e que começaram agora a mostrar resultados. “Principalmente depois de 2000 houve uma adequação dos currículos que trouxe melhores resultados à disciplina”, esclarece, lamentando, no entanto, as mudanças feitas na última legislatura e que, para a responsável, representam “um voltar” atrás no ensino. “O governo anterior despedaçou a educação em Portugal”, diz, em tom de resumo.
A presidente da associação admite uma desadequação dos atuais currículos da disciplina, principalmente quanto ao tipo de matéria dada em cada ano. “Não faz sentido, por exemplo, antecipar temas que fazem parte do currículo de ensino superior para o básico e o secundário”. Além disso, Lurdes Figueiral critica a falta de espaço dado às novas tecnologias no ensino da matemática, assunto que parece consensual para os professores tidos em conta no estudo. Os diretores de cerca de metade das escolas com resultados baixos deram conta da “falta de instalações, de material pedagógico e de salas”, assim como de “computadores, Internet e software”.
Apesar das queixas apresentadas pelo pessoal docente, Portugal não está mal posicionado no que às tecnologias diz respeito e faz parte do grupo dos países “com maior disponibilidade de recursos tecnológicos nas escolas, embora estes não estivessem ainda a ser utilizados da melhor forma”. No entanto, e em tom de curiosidade, o estudo refere ainda que três dos países que melhor utilizavam a tecnologia eram os que tinham menos horas semanais de Matemática: Suécia, Holanda e Finlândia.
A importância do contexto À semelhança do que alguns estudos anteriores já tinham vindo a demonstrar, o contexto socioeconómico dos alunos influencia o seu desempenho na escola.
Tendo como base as escolas com alunos do 3º ciclo e do secundário, 20% tinham um Estatuto Socioeconómico e Cultural (ESCS) médio superior à média da OCDE, e destas, a maioria obteve resultados acima de 500 pontos. Por outro lado, nas escolas com características abaixo da média – 80%, a maioria, – apenas 34% conseguiram resultados acima dos 500, valor referência do PISA. No entanto, dentro deste grupo, há escolas que conseguiram um score médio a Matemática na ordem dos 550 pontos. Os autores do estudo lembram que “importa compreender quais as estratégias que adotaram para potenciar o sucesso dos seus alunos, enfrentando condições adversas do meio envolvente”. Ainda dentro destes 80% de escolas que serviam uma população com ECSC baixo, 46% obtiveram fracos resultados, o que para os autores do estudo sugere que são escolas que “se moldavam à sua envolvente e não estimulavam os alunos a ser melhores que o esperado”.
Soluções Quase que numa espécie de cocktail de soluções, o estudo termina com a lista de fatores que levam a que as escolas que servem populações de recursos abaixo da média se classifiquem acima de 500 pontos. “A existência de professores motivados aumenta em 54% a possibilidade de uma determinada escola obter resultados acima do esperado”, pode ler-se no documento. Por outro lado, “chumbar” alunos diminui em 57% a possibilidade de uma determinada escola obter resultados acima do esperado.