Estoril Open. Ténis com estilo e Presidente, mas quase sem portugueses

Estoril Open. Ténis com estilo e Presidente, mas quase sem portugueses


Gastão Elias foi eliminado no dia em que Marcelo Rebelo de Sousa o foi ver. Mais um português a cair, as esperanças ficam agora em João Sousa


Toda a gente sabe que o comboio urbano que vem do Cais Sodré em direcção a Cascais só quer dizer uma coisa: praia. Pois bem, mas o Millenium Estoril Open, que se mudou para estes lados há um ano, tem uma palavra a dizer sobre isso. Até ao próximo dia 1 de Maio respira-se ténis por aqui, sempre com estilo (dentro e fora do campo atenção) e com alguns nomes importantes do circuito ATP. E  com tenistas portugueses claro, mesmo que ontem nos tenhamos despedido de mais um, depois de Pedro Sousa e Frederico Silva no quadro individual masculino: Gastão Elias, que entrou no top 100 (94.º) um dia antes de pegar na raquete em solo português, perdeu contra Paul-Henri Mathieu (60.º), pela quarta vez em quatro anos: 6-3 e 6-4. Nem mesmo a visita do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, conhecido apreciador da modalidade mas que só ficou no primeiro set para depois continuar a ouvir os vários partidos políticos, deu o toque de sorte para que Portugal mantivesse a esperança de deixar o caneco em casa. Agora falta João Sousa, o melhor tenista português de sempre, que teve “folga” da primeira ronda. Mas e então, se no feriado de 25 de Abril o torneio esteve cheio, o que se faz num torneio de ténis, para além de ver jogos, à terça feira?

Ou então façamos a pergunta de outra forma, pegando num mítico sketch dos “Tesourinhos Deprimentes” dos Gato Fedorento, em que um rapaz pergunta a Jorge Rocha, um cantor no programa de José Figueiras “Tumba Muita Lôco!” onde é que ele arranjou tanto estilo?”. Sim, é isso mesmo leitor, o Estoril Open não é só “match points”, apanha bolas e terra batida. É também feito de um público que se veste a rigor para a ocasião, fazendo relembrar os tempos em que o ténis era só para as elites. “E o blazer que eles usam tem elasticidade, é ‘especial’, que pode ser usado para jogar”, disse o speaker que apresentava um jogo, em tom de brincadeira, entre alguns dos grandes nomes do ténis português na década de 70 e 80 – João Guedes, Manuel Couto, João Cunha e Silva e João Manuel Cordeiro – vestidos à “casual sport” pela Mike Davis, marca que está muito associada a este desporto. Ora se o leitor for daqueles que gosta de bater umas bolas mas tem pouco tempo para trocar de roupa, agora já sabe, tem aí a solução. Mas calção e t-shirt parece continuar a ser a prática (até ver). E se ainda tiver dúvidas de que este torneio está aparentemente, depois de tantas dificuldades financeiras, de “cara lavada” e que serve também para relaxar, de forma cool, durante a semana, leia o que pensam as crianças, muitas vezes a voz da razão. “Espera pá, que eu tenho vida”, diz um miúdo para outro enquanto tira uma fotografia ao recinto. “Social não tens”, remata o outro. Ou se não for de confiar nos mais novos, opte pelo jovem que distribui os famosos chapéus que ajudam a tapar o sol: “Não vai um chapéu? Nem para o estilo?”. Não obrigado, agora é preciso ir para o court central.

Mas façamos um “time” (é tempo em inglês, mas no ténis serve para dizer que o intervalo acabou) no ambiente do torneio, para voltar à prestação de Gastão Elias. O público bem puxou, bateu o pé nas bancadas, mas o português, que foi obrigado muitas vezes a jogar defensivamente e a puxar sempre o jogo para as vantagens, enfrentou um Mathieu agressivo e imune ao apoio ao jovem tenista de 25 anos. Ele que é o tenista mais velho (34 anos) do circuito a ter enfrentado um tal de Pete Sampras. Mas e o que é que isso significa? “Significa que estou velho”, desabafou o francês no final do encontro que agora vai encontrar outro compatriota, e o primeiro cabeça de série (depois de Tsonga ter cancelado a visita a Portugal), Gilles Simon (18.º). Quanto a Elias, que admitiu jogar a defesa e que tentou entrar no ritmo da partida, deixou uma garantia: “Ninguém me ganha cinco vezes”, disse no final. Esperemos que não. Agora hoje vai, em duplas com João Sousa, tentar melhorar a sua prestação. Talvez desta vez seja melhor usar o ataque como melhor defesa.

Enquanto Frederico Silva, a pares com Kyle Edmund (89.º) tentavam vencer (e venceram) a dupla sueca Johan Brunstrom (86.º) e Andreas Siljestrom (83.º) no Court 3, no Estádio Millenium, no encontro entre Paolo Lorenzi (52.º) e Elias Ymer (132.º), houve um visitante de 77 anos, que falou com o i e que se destacou de todos os outros por duas razões: a primeira porque conhece Gastão Elias, e a segunda porque não gosta assim tanto de ténis. “Olhe vim porque me deram um bilhete e consegui boleia de Torres Vedras, é que tenho aqui dois netos a trabalhar, um nas arrumações e outro como apanha bolas mas não percebo muito disto”, começa por explicar Jorge Marques. Sabe quando um jogador está a ganhar, quando o jogo está empatado mas as outras regras ficam para outros entendedores. A sua ligação a esta modalidade faz-se por um lado, através de um dos netos, atleta federado das Caldas da Rainha com 18 anos, que está a trabalhar no Estoril Open e também joga, estando também a estudar para ser treinador. “Já vi muitos jogos deles, cheguei a levá-los a alguns, mas interessa-me mais o futebol”, garante. Por outro, graças a Elias, “seu vizinho” enquanto morou 25 anos em Peniche: “ passava muitas vezes por casa dele, conheço bem o pai. E os meus netos chegaram a jogar com ele há quatro ou cinco anos, mas agora não tem tempo claro”. E será que voltaria ao torneio? “Era capaz de vir outra vez vê-lo jogar”, remata. Fica para próxima Jorge. Só não perguntámos, quais Gato Fedorento, a este senhor (com o primeiro nome igual ao tal cantor) onde é que arranjou tanto estilo, mas isso não seria o mais correcto. Até porque estilo é coisa que não falta neste torneio. Só mesmo jogadores portugueses. É fazer figas, apoiar, e vir assistir aos jogos de pares e às partidas de João Sousa.