Diogo Abreu está a tirar o curso de Engenharia Electrotécnica noInstituto Superior Técnico emLisboa. Um jovem português, como tantos outros, mas com uma “pequena” diferença: tornou-se no ginasta de trampolins doSporting a rumar aos Jogos Olímpicos (JO) do Rio de Janeiro, depois de garantir a única vaga masculina noTest Event na cidade brasileira na passada terça-feira.
Acabaste de chegar do Rio de Janeiro onde carimbaste a tua ida aos JO na modalidade individual masculina de trampolins, onde só havia uma vaga masculina portuguesa.
Cheguei hoje de manhã as sete e meia.Ainda estou a tentar recuperar do jet lag [risos]. Sim só havia uma vaga, porque tínhamos dois atletas portugueses, eu e o Diogo Ganchinho, que tem 28 anos e que participou nos dois JO anteriores. Eu acabei por vencer por menos de duas décimas que oDiogo. Foi uma vitória por pouco, estava renhido, fiquei muito contente. Claro que no momento não celebrei tão euforicamente porque sou amigo dele e respeito-o.
Amigos amigos, competição à parte?
Somos muito amigos. Ele é mais velho que eu, e lembro-me que o via a saltar porque na altura era o melhor português, sabia muito sobre ele. Felizmente na nossa modalidade só quem quer dar-se mal é que se dá, porque é um desporto individual. Cada um faz o seu trabalho, e só aqueles vinte segundos das nossas séries é que vão interessar.
E já conseguiste parar para pensar sobre esta tua estreia no Rio’16?
Sim, eu no Sporting já ouvia dizer que nunca ninguém do clube tinha ido aos JO, o que me punha alguma pressão em cima, mas que também serviu de motivação extra. Vai ser incrível, vou conhecer atletas de todo o mundo e esse convívio vai ser importante. É uma cidade bonita e acho que a população vai aderir muito.
Achas que a crise política doBrasil pode colocar em risco esta prova?
Os organizadores dos JO estão cientes disso e vão reforçar as medidas de segurança. Nós ficámos um pouco isolados na nossa“bolha”, mas tive a oportunidade de passear peloRio, e posso dizer que nunca me senti em perigo. Acho que vai correr tudo bem. Felizmente não é só o governo brasileiro a organizar esta prova, há mais instituições por detrás e vão fazer com que se realize.
E como é que te vais preparar?
Em janeiro já tinha aumentado a carga de treinos para o TestEvent. E como ando na faculdade não tinha tempo de fazer muitos treinos diários. Por isso vou continuar com essa carga, intercalando com mais competições como a Taça do Mundo que será um bom treino para me preparar.
Também és estudante de Engenharia Electrotécnica noTécnico Como concilias as duas coisas?
Sempre fui bom aluno e sabia que o queria ser era engenheiro electrotécnico. Tenho a noção de que nos trampolins, por exemplo no Campeonato do Mundo deste ano, se os vinte segundos não corressem bem, já não ia aos JO. Pensei que seria importante ter um plano B. Acho que é possível conciliar os dois, sempre foi possível. Tive de sacrificar muito tempo mas não me arrependo. Tenho sido bastante feliz.
E a tese está a andar?
Sim ainda a estou a elaborar. É sobre sistemas embebidos e redes de sensores, mais não posso dizer! [risos]
Quando deixares os trampolins, gostavas de tentar combinar a tua área profissional com esta modalidade?
Seria interessante combinar os dois!
Mas então como é que alguém que gosta de fazer desporto, vai para uma área tão diferente?
Pois, não sei, não há muita coisa que os ligue, pelo menos nos trampolins a tecnologia ainda não é muito aplicada. Mas é personalidade minha, sempre gostei imenso de fazer desporto, e como comecei a ser bom nos trampolins acabei por ficar. O meu pai é professor no Técnico, talvez tenha tido alguma influência, mas se não estivesse num curso que não gostasse de certeza que não o iria fazer.
Li no site do Sporting que começaste “a saltar” com oito anos.
Sempre estive no Sporting porque no verão eu ia para umas colónias de férias do clube, e a minha mãe esteve integrada numa das classes de ginástica de lá. Um dos desportos era os trampolins, e uma treinadora, a Ana Figueiredo, viu-me a saltar e achou que eu poderia ter jeito. Só que passei um ano a viver no Canadá porque o meu pai estava lá a trabalhar, e só entrei no ano seguinte. Depois quando cá cheguei acabei por entrar
E deste então que tens tido alguns resultados importantes.
Sim, nos Jogos Mundiais da Colômbia em 2013, fiquei em quarto lugar em trampolim sincronizado. Em palcos internacionais, como atleta individual, nunca fui medalhado, mas também é muito difícil porque há países que investem de outra maneira. Mas tive, por exemplo, quatro finais emTaças do Mundo e em equipas há dois anos ficámos em segundo lugar quando a prova foi realizada emGuimarães. Ah, e sou bicampeão nacional [risos].
Eu sei que deve ser difícil de explicar, mas o que te atrai mais neste desporto?
É o de conseguir fazer as acrobacias seguidas nas nossas séries de dez saltos cada.Quando entrei nos trampolins eu não sabia fazer nada, só conseguia dar pulos, e via alguns atletas a fazer mortais atrás e à frente, e eu ficava impressionado: “se eu conseguir fazer isto já fico muito feliz!”, dizia para mim. Entretanto fui evoluindo, e tive a vantagem de aprender os saltos e arrumá-los bem na cabeça sem nunca os perder.
Essa é a parte mais complicada, a de manter a qualidade dos saltos?
Sim. Uma grande parte de conseguir chegar longe é arrumar bem esses saltos para que depois façam todos sentido. Às vezes o que diferencia é simplesmente colocar os braços junto ao corpo para que um salto tenha duas piruetas e meia ou uma e meia. São esses pequenos toques que nem toda a gente consegue fazer correctamente.
E é por aí que quererás vencer os teus adversários no Brasil.Quem são afinal?
Eu consegui ganhar aos norte-americanos, aos franceses e aos ingleses nos preliminares conseguirei ir a uma final, e isso já seria um resultado muito bom. O Japão, a Rússia, a Bielorrússia e a China estão a um nível acima dos outros, logo não os considero meus rivais [risos].
Então não pensas em medalhas para já?
As pessoas podem sonhar nisso mas é muito improvável!
És muito terra a terra como um engenheiro, e ao mesmo tempo gostas de estar suspenso no ar.
Exactamente [risos]!