A cabeça de veado da parede é o único ponto de distúrbio visual deste espaço. Tudo o resto é tão branco, tão elegante e tão minimalista, que só a cozinha de balcão aberto ao público consegue desviar atenções. Aliás, é exatamente neste canto da sala que a comida toma a forma de alimento. Antes disso, passa por ser assunto nas conversas, enche estantes de livros e passa a tema principal de workshops, cursos privados e masterclasses.
Calma, estamos já em cima da hora de almoço, mas ainda não é a fome a falar por nós. O parágrafo anterior descreve as sensações de quem entra n’ A Sociedade pela primeira vez, o novo espaço do Príncipe Real totalmente dedicado à comida. A denominação oficial é Oficina Criativa Gastronómica o que, trocado por miúdos – que se ficam só por aqui, a ementa é muito mais saudável, podemos garantir – não é mais do que um espaço de 150 metros quadrados onde a comida é denominador comum.
Existem prateleiras com mais de 300 livros de culinária e uma cozinha equipada com forno, micro-ondas, frigorífico, robots de cozinha e tudo o que se possa imaginar como necessário para preparar uma refeição de grupo. Desta vez, é a chefe Maria João Fernandes a tomar as rédeas do fogão, mas a ideia é que o espaço seja de partilha. “Aqui vão funcionar workshops, cursos privados, masterclasses, mas vai ser também um local aberto a quem queira vir cá cozinhar”, explica Cláudia Villax, uma das sócias do espaço.
Cláudia, que trocou Lisboa pelo Marvão, onde se dedica à agricultura biológica e à produção de azeite, vai fazer d’ A Sociedade o seu porto de abrigo na cidade. “Todas as terras tinham o seu clube, a sua sociedade, que servia de ponto de encontro da comunidade”, explica, “a ideia é juntar aqui quem tem em comum a paixão pela comida”. A empresa de Cláudia – Azeitona Verde – vai dividir a mesa de trabalho com a Food, People & Design, especialista em design, fotografia, marketing e comunicação alimentar, e com a Bananal Food Lab, especialista em cozinha criativa.
Menu do dia Em dia de inauguração, o conjunto de criativos, designs, escritores, cozinheiros e fotógrafos que vão usar o nº 32 da Rua Luís Fernandes como oficina de trabalho, sentam-se à mesa, até porque está na hora de Maria João mostrar a sua arte. A dar cor ao branco da decoração junta-se o verde do shot de creme de ervilhas, o amarelo do frango com curcuma e as cores vivas do cocktail de laranja, champanhe e hortelã. E a granola salgada? Talvez o segredo mais bem guardado deste banquete. Aquilo que era para ser apenas uma entrada, durou na mesa até que não ficasse pevide, literalmente.