A revista “The Economist” colocou em dúvida o processo de impeachment: “Na ausência da prova de um crime, o impeachment é injustificado.” O “Globe and Mail” afirma que, dos 594 membros da câmara (parlamento e senado), “318 estão sob investigação ou acusados”, enquanto o alvo do processo, a presidente Dilma, não tem, segundo o jornal, “nenhuma alegação de corrupção”. O “Guardian”, pela pena do correspondente Jonathan Watts, descreveu as contradições de uma votação contra o alegado governo corrupto do PT: “Sim votou Paulo Maluf, que está na lista vermelha da Interpol por conspiração, sim votou Nilton Capixaba, que é acusado de lavagem de dinheiro. ‘Pelo amor de Deus, sim!’, declarou Silas Câmara, que está sob investigação por falsificar documentos e por desvio de dinheiros públicos.”
E o cenário que se segue não parece melhor: depois do impeachment, na imprensa dos EUA de referência, depois do previsível voto favorável do senado, no próximo dia 10 de maio, a presidente Dilma será suspensa durante 180 dias, até serem “investigados” os factos que constam na acusação. Durante esse tempo, o país será dirigido pelo vice-presidente, o militante do PMDB Michel Temer, que segundo o circunspecto “The New York Times” “está envolvido num esquema de compra ilegal de etanol”. Segundo o site The Intercept, que registou todas essas opiniões dos media internacionais, o homem que liderará a equipa económica será o presidente do Goldman Sachs no Brasil, Paulo Leme.
Outro facto que tem prejudicado a existência de legitimidade no processo de destituição da presidente do Brasil tem sido o papel do presidente do parlamento, Eduardo Cunha. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu oficialmente, no dia 16 de abril, o afastamento do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O pedido de afastamento é para evitar que Eduardo Cunha utilize o cargo de forma a comprometer as investigações que enfrenta pelo Ministério Público e no próprio parlamento. Para Janot, Cunha vem utilizando o seu cargo para interesse próprio e fins ilícitos. O presidente do parlamento é alvo de processo no conselho de ética e, recorrendo a aliados e manobras, conseguiu adiar a votação de um parecer sete vezes consecutivas. É ainda alvo de várias investigações por corrupção e é acusado de ter contas secretas no exterior, que negou em anteriores inquéritos, e na sequência de uma “delação premiada” (denúncia de um réu em troco de benefícios na pena) é acusado de ter recebido 52 milhões de reais de empresas. Neste momento, os deputados favoráveis ao impeachment mobilizam-se para salvar o presidente da justiça e ganhar a votação na comissão de ética, apesar de ele ter mentido sobre as contas no exterior.
O deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) garante que a votação na comissão “não vai dar em nada, uma vez que o Cunha tem maioria lá”. De qualquer forma, o paranaense considera a cassação do mandato uma punição muito severa. Ele cita uma suposta decisão do Supremo segundo a qual “mesmo sob juramento, você pode mentir para não se prejudicar”. Mais claro é Paulinho da Força (SD-SP), que revela a razão desta espécie de amnistia aos crimes de Cunha: “Todo o mundo sabe que sem Cunha não haveria processo de impeachment, foi graças ao trabalho dele que foi possível tirar o PT do poder”, justificou.
Segundo a “Folha de São Paulo”, o senador Aloysio Nunes foi enviado a Washington para “lançar uma contraofensiva de relações públicas” e combater o sentimento contra o impeachment. Nunes disse em Washington: “Vamos explicar que o Brasil não é uma república das bananas.” Para isso, o senador Nunes vai reunir-se com o presidente e um membro do comité de Relações Internacionais do Senado, Bob Corker (republicano, do estado do Tennessee) e Ben Cardin (democrata, do estado de Maryland), e com o subsecretário de Estado e ex-embaixador no Brasil Thomas Shannon, além de comparecer a um almoço promovido pela empresa lobista de Washington, Albright Stonebridge Group, comandada pela ex-secretária de Estado de Clinton, Madeleine Albright, e pelo ex-secretário do Comércio de Bush e ex-diretor executivo da empresa Kellogg Carlos Gutierrez.