Passos Coelho avisou no último congresso do PSD que a maioria parlamentar se estava a mostrar coesa e, por isso, o governo estava para durar. Parece que se enganou redondamente. Ao contrário do que muitos julgam, António Costa tem estado a governar para eleições a curto prazo, como demonstram os cartazes que o PS todos os dias coloca na rua, avisando que tem cumprido as suas promessas eleitorais.
O problema é que, ao constituir o governo mais à esquerda de sempre, o PS não tem possibilidade de crescer ao centro, como as sucessivas sondagens demonstram, pelo que apenas poderá crescer esvaziando o Bloco e o PCP. Estes já perceberam essa estratégia, pelo que não deixarão de negar apoio ao governo na primeira medida de austeridade que este venha a propor. No último debate, Catarina Martins já avisou António Costa que não contasse com o Bloco para apoiar as medidas que o governo planeia para a banca, avisando-o de que já tinha perdido a maioria parlamentar no caso do Banif.
A questão é que quer a Comissão Europeia quer o FMI exigem ao governo o plano B que este ainda não apresentou, mantendo os portugueses a viver numa realidade alternativa. Mas Costa sabe que no dia em que apresentar esse plano, a sua maioria parlamentar termina. Por isso, Marcelo tenta agora desesperadamente salvar o governo chamando os partidos a Belém, antes da discussão do Programa de Estabilidade.
Assim, a manutenção da geringonça em funções depende exclusivamente do PSD e do CDS. Ou estes aceitam viabilizar as medidas de austeridade, salvando o governo, ou este estampa-se na próxima curva. O país corre, assim, o risco de cair a curto prazo numa situação à espanhola.
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa
Escreve à terça-feira