Brian Johnson e Axl Rose. O meu vocalista é melhor que o teu

Brian Johnson e Axl Rose. O meu vocalista é melhor que o teu


Os rumores existiam desde o início de maio, altura em que os AC/DC tiveram de interromper a tournée Rock or Bust, sob o risco do vocalista, Brian Johnson perder totalmente a audição.


Mas a confirmação chegou apenas este fim de semana: Axl Rose, o mítico vocalista dos Guns N’ Roses – banda que também está de regresso à estrada – vai substituir Johnson até ao final desta tournée. Os fãs portugueses que já esgotaram os bilhetes para o concerto dos AC/DC, em Algés, a 7 de maio, sentem-se enganados

Ditaram as condicionantes da agenda de uma redação que o jornalista que deveria escrever este texto tivesse outros trabalhos. Voltas e voltas e o trabalho acabou por parar nas mãos de alguém (mea culpa) que, se por um lado viveu uma certa histeria jovial pelos Guns N’ Roses (sem, no entanto, ter pertencido ao grupo de fãs que suspiravam perante as três letrinhas A-X-L), por outro nutriu sempre uma espécie de horror visceral, com manifestações cutâneas, aos AC/DC. Aliás, não tanto à banda em si, mas mais à voz de Brian Johnson.

Mas não havia volta a dar, por isso, headphones colocados, Youtube ligado e a viagem ao universo Guns N’ Roses-meets-AC/DC à distância de um play. Primeira conclusão: a voz de Axl Rose é hoje bem distinta do que era, por exemplo, quando visitou Lisboa pela primeira vez, em 1992, num polémico concerto no Estádio de Alvalade onde não apenas subiu a palco com mais de uma hora de atraso como escorregou e caiu logo na primeira música tendo depois abandonado o palco, voltando, no entanto, 15 minutos mais tarde. Este era, de resto,Axl Rose, um enfant terrible da música que fazia o que bem lhe apetecia. E os Guns N’ Roses gozavam, nesta altura, o estatuto de uma das maiores banda do mundo. Um estatuto não muito distinto do que gozavam os AC/DC que, no entanto, levavam já uns anos de avanço: os Guns nasceram em 1985, os AC/DC em 1973. Mas ambas as bandas partilhavam o estatuto e o facto de serem grupos com uma identificação forte à voz dos seus vocalistas – como aconteceu com os Queen, agora em digressão com Adam Lambert.

AXL em dose dupla A Ao longo de mais de 40 anos de carreira os AC/DC venderam mais de 200 milhões de discos, mas não têm tido uma vida fácil nos últimos anos. Em 2014, o guitarrista e fundador Malcom Young foi diagnosticado com demência tendo por isso abandonado a banda. No ano passado, o baterista Phil Rudd deixou a banda na sequência de uma condenação por posse de droga e ameaças de morte. Agora foi a vez de Johnson. Atualmente com 68 anos, o vocalista integrou os AC/DC em 1980 depois da morte de Bon Scott, fazendo a sua estreia no álbum “Back in Black” (1980), um dos maiores sucessos da banda e que afirmou Johnson como símbolo da banda.

No início de março, no entanto, os AC/DC confirmaram que Johnson teria, por indicação médica, de parar imediatamente a digressão Rock or Bust – quando ainda faltavam dez datas, nos EUA além de todos concertos agendados para a Europa -, sob risco de perder totalmente a audição. Na mesma altura, a banda informava que estava a tentar encontrar uma solução que não ditasse o cancelamento da tournée e que provavelmente passaria por um vocalista substituto. Uma notícia que automaticamente ditou a abertura de uma bolsa de apostas. Quem seria o tal vocalista? Entre os vários nomes, um aparecia de forma recorrente: Axl Rose, hoje com 54 anos.

A confirmação, porém, só chegou mais de um mês depois, e poucas horas antes dos Guns N’ Roses subirem, este fim de semana, ao palco do festival Coachella, nos EUA, para um regresso muito antecipado: Axl Rose substituirá Brian Johnson nas restantes data da tournée dos AC/DC. “Por muito que quiséssemos que a digressão terminasse como começou, compreendemos, respeitamos e apoiamos a decisão do Brian em sair da digressão e salvar a sua audição”, lê-se no comunicado da banda australiana, que também sublinhou o agradecimento a Axl Rose por ter “oferecido o apoio”. Uma decisão que, no entanto, não terá agradado ao próprio Brian Johnson que terá confessado a um amigo que a banda foi “demasiado rápida” a substituí-lo.

De resto, o primeiro passo desta parceria foi logo dado durante o concerto dos Gun N’ Roses em Coachella. A banda, que recentemente se reconciliou – depois de anos de discussões e trocas de ofensas – e anunciou a tournée Not In This Lifetime, recebeu em palco o fundador dos AC/DC, Angus Young, para juntos interpretarem os temas “Whole Lotta Rosie” e “Riff Raff”. Apesar do momento histórico, as críticas têm inundado as redes sociais, sendo apenas esporadicamente contrariadas por vozes de apoio, como a de Alice Cooper. “É uma combinação única. A voz de Axl é perfeita para os AC/DC. Acho que pode funcionar”, disse à “Rolling Stone”.

Em Portugal, a banda tem agendado concerto para 7 de maio, no Passeio Marítimo de Algés. Um espetáculo que não só marca o arranque da perna europeia da tournée dos AC/DC como será o primeiro a contar com a presença de Axl Rose, mas a troca não agradou aos fãs portugueses. “Axl ‘mariquinhas’ Rose não contará com a minha atenção”, “comprámos gato e agora sai a lebre”, “mais valia cancelarem o concerto, acabava-se com esta palhaçada de vez” são apenas alguns dos comentários que é possível encontrar no Facebook da Everything is New, promotora do espetáculo, esgotado desde janeiro. Perante as queixas e pedidos de reembolso, que inclusive já envolvem a DECO, a Everything is New continua sem prestar mais esclarecimentos, esperando, no entanto, “fazê-lo com a maior brevidade possível”.

Por esta altura, e depois de uma viagem à adolescência e umas quantas reações cutâneas, conseguimos chegar a uma segunda conclusão: os ídolos de uns, são os ódios de outros. E há coisas que nunca mudam.