O meu cartão não me inscreve em nenhum clube de cidadania, era só o que faltava, isso é consequência do meu arbítrio, da minha liberdade, e é inalienável. Assim manda a lei e a língua portuguesa. Tal como a cidadania, a igualdade dos géneros é uma prática, uma dinâmica continuada de sucessivos e virtuosos progressos da humanidade.
A língua, a gramática, a norma, obviamente que não pairam na estratosfera, acima das dinâmicas sociais e culturais, mas convenhamos, uma coisa é a ortografia e outra a gramática. Podemos (e devemos!) tomar partido na grande controvérsia gerada pela adoção legal do chamado acordo ortográfico, enquanto momento conjuntural, que nunca foi pacífico, de mais uma atualização do uso escrito da língua. Mas é a gramática que nos ensina a colocar as palavras certas nos lugares certos e ela não muda por decreto.
Muitas vezes, a política deslumbra-se com o ar do tempo, com modas, com tiques sociais, e, tantas vezes na ânsia de querer chegar primeiro a qualquer coisa sedutora, mas que à partida não se sabe bem o que é, cai-se na dura realidade da própria negação, por excesso de voluntarismo e por erro de avaliação. Isso revela imaturidade, ignorância ou puro oportunismo e, assim sendo, nada de novo haverá a registar no episódio, porque é também legítimo o direito ao disparate. Mas atenção, a sociopatia é inquietante.
Escreve à terça-feira