Um minuto foi o que durou o fortíssimo sismo que sacudiu o Equador na noite de sábado. Registando 7,8 graus de magnitude na escala de Richter, o tempo foi levado ao extremo de relatividade, quando os efeitos deste minuto revolveram tudo e deixaram um rastro de destruição, com o colapso de edifícios e estradas avassaladas ao longo de centenas de quilómetros. Enquanto amanhecia para perceber a dimensão do desastre, o balanço oficial do número de mortos foi piorando, e o último dava conta de pelo menos 233 mortos. Há ainda os feridos, perto de 600, mas as equipas de socorro estavam com grandes dificuldades para aceder a algumas das zonas mais afectadas e as autoridades admitiram a probabilidade de o número de vítimas continuar a subir.
Foi nas cidades costeiras a ocidente que os efeitos do sismo mais se fizeram sentir. A nação andina tem na sua história vários sobressaltos causados por poderosos tremores de terra, mas o deste sábado terá sido o mais forte desde a década de 1970. Alguns geólogos referiram que a sua força foi seis a sete vezes superior ao do mortífero sismo que abalou o sul do Japão na semana passada.
A cerca de 170 quilómetros do epicentro, Quito, a capital situada no interior do país, também sofreu estragos e viveram-se momentos de pânico. Ali a terra tremeu durante cerca de 40 segundos e muitas pessoas vieram para a rua, com alguns bairros a ficarem sem electricidade e os telemóveis sem cobertura de rede.
Os efeitos foram sentidos em algumas partes das nações vizinhos Peru e Colômbia. Entretanto, tinham-se registado já cerca de 154 réplicas, de acordo com o Instituto de Geofísica nacional. Houve também relatos de muitos deslizamentos de terras, destruindo habitações e cortando estradas.
Os habitantes das zonas costeiras foram aconselhados a deixar as suas casas, devido à possibilidade de o nível do mar subir e o Centro de Alerta de Tsunami do Pacífico avisou para o risco de tsunami nas costas localizadas num raio de 300 quilómetros à volta do epicentro do sismo, que se produziu devido ao choque entre a placa Nazca e placa da América do Sul.
Devastação e saque O epicentro situou-se a 27 quilómetros de Muisne, com o sismo a ocorrer às 18h58 (23h58 em Lisboa), com o abalo a ser sentido num raio de 300 quilómetros. A sul, a maior cidade do país, Guayaquil, viu uma ponte colapsar. Mas as zonas de Pedernales y Cojimíes, na província de Manabí, ficaram pior. O presidente da câmara de Pedernales, Gabriel Alcivas, disse que “toda a cidade tinha ficado achatada”.
“Estamos a tentar fazer tudo o que podemos mas na verdade não há muito que possamos fazer”, explicou o autarca, acrescentando que, no meio da confusão, a cidade está a saque.
“Ainda não conseguimos chegar a Pedernales”, reconheceu o vice-Presidente Jorge Glas. “A situação é muito complicada. As estradas naquela zona foram muito afectadas”, disse em conferência de imprensa. “Sabemos que há cidadãos nos escombros que precisam de ser resgatados. Temos todos os recursos no terreno e vamos receber ajuda internacional.”
Operações de resgate Glas adiantou que 10 mil militares foram mobilizados e 4600 elementos das forças de segurança enviados para as áreas mais afectadas tendo início as operações de busca e salvamento. O presidente do Equador, Rafael Correa, que estava em Itália numa visita ao Vaticano, regressou e já declarou o estado de emergência nacional em seis das 24 províncias do país. Houve relatos de mortes não só em Manabí, mas noutras províncias da região norte como Esmeraldas e Guayas.
Correa anunciou que o país irá receber auxílio da Colômbia e do México nas operações de resgtae e apoio às vitimas, e alocou cerca de 500 milhões de euros para responder à crise provocada pelo sismo. A Venezuela também quis oferecer alguma ajuda e ontem um avião carregado com ajuda humanitária aterrou no aeroporto da cidade costeira de Manta.
Segundo contou à Reuters Ramón Solorzano, um vendedor de acessórios de automóveis de 46 anos em Manta, o cenário era o de uma “catástrofe”. Com receio de novos abalos, ele e a família preparavam-se para abandonar a cidade. “As pessoas estão todas na rua, com as mochilas à costas, caminhando para zonas mais altas. As estradas estão destruídas. Não há energia eléctrica e os telefones não funcionam”, disse.
Também foram mobilizados dois hospitais móveis, um para a localidade de Portoviejo, próxima do aeroporto de Manta, e outro para a cidade de Pedernales, mais a norte, junto à costa do Equador. Um total de 241 profissionais de saúde, entre médicos, paramédicos e membros da Cruz Vermelha do Equador foram mobilizados para estes dois hospitais, segundo as autoridades equatorianas.