As polémicas do governo de Costa

As polémicas do governo de Costa


João Soares demitiu-se depois de ameaçar dar “um par de bofetadas” a dois colunistas. O i recorda outras polémicas de um governo que vai a caminho do meio ano de vida


Maçons, um par de bofetadas e uma demissão

A polémica que levou à demissão de João Soares do cargo de ministro da Cultura começou com um artigo de opinião de Augusto M. Seabra no jornal Público. “Que um governante se rodeie de pessoas de confiança é óbvio. Mas no caso do gabinete de Soares trata-se de uma confraria de socialistas e maçons”, escreveu Augusto M. Seabra. O ministro da Cultura não gostou e às sete da manhã respondeu-lhe no Facebook com a ameaça de lhe dar um par de bofetadas. “Em 1999 prometi-lhe publicamente um par de bofetadas. Foi uma promessa que ainda não pude cumprir. Não me cruzei com a personagem, Augusto M. Seabra, ao longo de todos estes anos. Mas continuo a esperar ter essa sorte. Lá chegará o dia”, escreveu, no Facebook, o socialista. António Costa envolveu-se na polémica e deu um puxão de orelhas ao seu ministro com a garantia de que avisou os “membros do governo que enquanto membros do governo nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do governo e portanto devem ser contidos na forma como expressam as suas emoções”. Poucas horas depois João Soares demitiu-se.

O ministro que pediu aos portugueses para abastecerem em Portugal

Muitos portugueses vão abastecer a Espanha, porque poupam algum dinheiro e os impostos ficam no país vizinho. A solução do ministro da Economia Manuel Caldeira Cabral foi pedir aos portugueses para mudarem de atitude. “Muitos portugueses estão a pagar impostos em Espanha e é algo que temos que em primeiro lugar pedir aos portugueses que não façam”, disse o ministro, depois do aumento dos impostos sobre os combustíveis em Portugal. O pedido do ministro gerou polémica com as transportadoras a pedirem demissão do ministro. Caldeira Cabral garantiu que nunca quis criar “nenhuma” polémica. “Não tenho que voltar atrás, nem voltar à frente. Não acusei ninguém de falta de patriotismo. Quando as pessoas abastecem em Espanha pagam impostos em Espanha e quando abastecem em Portugal pagam impostos em Portugal. Isso não significa que essas pessoas sejam menos patriotas ou menos nacionalistas. Significa que estão a fazer uma opção que não é positiva para as contas públicas portuguesas. Mas não há aí nenhuma ofensa, nenhum conflito, nem nenhuma polémica”, disse.

O dia em António Costa teve de corrigir Mário Centeno

A promessa de repor as 35 horas de trabalho semanal para a Função Pública foi feita por António Costa na campanha eleitoral, mas tem dado muitas dores de cabeça a este governo. “Nós dizemos sim, nós reporemos de imediato o horário das 35 horas porque também fizemos as contas e sabemos que podemos repor de imediato as 35 horas na Função Pública”, assegurou Costa, no distrito de Viseu, em plena campanha para as legislativas. Mas, na primeira entrevista que deu, o ministro das Finanças Mário Centeno não tinha tantas certezas. “Não posso responder se as 35 horas avançam este ano”, disse Centeno, quando questionado sobre esta medida, numa entrevista que deu ao “Expresso” no início de Fevereiro. No mesmo dia, António Costa veio corrigir o seu ministro das Finanças e garantiu, numa sessão de esclarecimento com militantes socialistas, que “as 35 horas entrarão em vigor já no próximo dia 1 de Julho”.

Demissão do chefe do Exército e críticas dos oficiais ao ministro

O chefe do Estado-Maior do Exército pediu a demissão. A saída do general Carlos Jerónimo surgiu na sequência das declarações do ministro da Defesa, Areredo Lopes, que exigiu explicações ao CEME por causa das afirmações feitas pelo subdiretor do Colégio Militar sobre a exclusão de alunos homossexuais. Em entrevista ao jornal “Observador”, o subdiretor António Grilo afirmou que “nas situações de afetos [homossexuais], obviamente não podemos fazer transferência de escola. Falamos com o encarregado de educação para que percebam que o filho acabou de perder espaço de convivência interna e a partir daí vai ter grandes dificuldades de relacionamento com os pares. Porque é o que se verifica. São excluídos”. O Ministério da Defesa considerou inaceitável a postura do colégio e a polémica levou à saída do chefe do Estado-Maior do Exército. O presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas, Pereira Cracel, considerou a atitude do ministro da Defesa Nacional “institucionalmente incorreta”, porque “as coisas podiam resolver-se de outra forma, não é vir para a praça pública com um comunicado em jeito de puxão de orelhas”.

O recuo do ministro da Educação

O novo ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues decidiu implementar um novo modelo de avaliação, mas aquilo que era para entrar em vigor este ano acabou por ser adiado. O Ministério da Educação acabou com os exames para o 4º e 6º anos e criou novas provas de aferição a realizar pelos alunos do 2º, 5º e 8º anos. A ideia era aplicar o novo modelo “já no ano letivo de 2015/2016”, mas o governo recuou e as provas deixaram de ser obrigatórias. O Presidente da República terá tido influência na decisão do governo. Durante a campanha eleitoral, Marcelo Rebelo de Sousa alertou que não se pode “mudar a avaliação 20 vezes ao longo de 20 anos” e pediu “um consenso” à volta das medidas que forem aplicadas no sector da Educação.

O melhor amigo de Costa e o contrato polémico

Diogo Lacerda Machado é amigo de António Costa e representou informalmente o governo em algumas negociações delicadas como no BPI, a TAP ou os lesados do BES. O problema é que o amigo do primeiro-ministro tem feito este papel sem ter nenhuma relação contratual com o Estado. Em entrevista à TSF e ao DN, o primeiro-ministro garante que já fez um contrato para a prestação de serviços do jurista, mas considerou “que é um dinheiro que podia não ser gasto”. Costa admite que, até agora, o jurista “estava a ajudar sem que houvesse despesa do Estado com o tempo dedicado”.
O_PSD discorda da informalidade com que o primeiro-ministro tem tratado este caso
e já pediu uma cópia do contrato, bem como a presença de Diogo Lacerda Machado no parlamento. A polémica está para durar.