Ao contrário do que aconteceu nos últimos quatro anos, os capitães de Abril vão marcar presença nas comemorações oficiais da revolução na Assembleia da República. “Quem está no poder não tem uma postura anti-25 de Abril como os que estavam tinham”, diz ao i o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço.
Os militares de Abril consideravam que a linha política seguida pelo governo de Passos Coelho “deixou de reflectir o regime democrático herdeiro do 25 de Abril” e só aceitaram regressar às comemorações oficiais depois de ter mudado o Presidente da República e o governo. “Quem está no poder já não tem a postura de tentar destruir tudo o que cheire a 25 de Abril. Não tem uma postura anti-25 Abril. Quer o governo, quer o Presidente da República. Não era só o problema do governo, era o problema do Presidente da República, que preside às comemorações na Assembleia da República. Nós não vamos discutir a acção do governo, se faz bem isto ou faz mal aquilo… Nós achamos é que não tem essa postura anti-25 de Abril e, portanto, a democracia funcionou”, acrescenta Vasco Lourenço.
O capitão de Abril está mais optimista sobre o futuro do país e espera que a solução encontrada por António Costa possa durar quatro anos e pôr fim “ao período negro que atravessamos”.
O argumento utilizado pelos militares de Abril para voltarem a participar nas comemorações oficiais não convence o PSD. Hugo Soares, vice-presidente da bancada parlamentar, diz ao i que “se houve governo que defendeu os valores de Abril foi o governo anterior, porque um governo que apanha um país com a soberania amputada e lhe devolve a soberania e coloca esse país na rota do crescimento é um governo que fez honrar Abril”. Hugo Soares realça ainda que o governo de Passos Coelho “conseguiu, mesmo num período de crise, salvaguardar o núcleo essencial do Estado Social”.
O vice-presidente do grupo parlamentar do PSD não esconde que achou “mal” a ausência dos militares. “Parece-me evidente que foi numa lógica alinhada com os partidos da esquerda. Não sou hipócrita”, acrescenta.
Do lado dos socialistas, o deputado Tiago Barbosa Ribeiro considera que o regresso dos militantes de Abril “demonstra que o país se pacificou com a sua história e com o legado constitucional da democracia”. E acrescenta: “Depois de vários anos em que a Constituição da República foi sistematicamente violentada e vários direitos sociais e laborais foram menosprezados, o novo governo demonstra que é possível trabalhar pelo bem comum sem atacar nem dividir o país”.
Foi em 2012, uns meses depois de Pedro Passos Coelho chegar ao poder, que os militares de Abril recusaram pela primeira vez participar na cerimónia para celebrar a revolução.
Vasco Lourenço considerou que o poder político que governa Portugal está “contra o 25 de Abril, os seus ideais e os seus valores”. Mário Soares e Manuel Alegre acompanharam os militares de Abril e também estiveram ausentes das comemorações.
O problema é deles A polémica agudizou-se há um ano com a pretensão dos militares de Abril de quererem falar no plenário. A presidente da Assembleia da República Assunção Esteves disse, na altura, que se os militares querem falar “o problema é deles”. Assunção Esteves e Vasco Lourenço ainda promoveram um almoço na Associação 25 de Abril, mas não houve acordo sobre a participação dos militares nas cerimónias do parlamento.
Vasco Lourenço almoçou há mais de um mês com Ferro Rodrigues na Assembleia da República. Ao almoço, o militar de Abril comunicou ao presidente do parlamento que, desta vez, os capitães de Abril iriam marcar presença nas comemorações oficiais.