Durão Barroso sabe que “compete aos americanos escolher”, mas espera que Donald Trump não seja eleito presidente dos Estados Unidos. “Não está qualificado para ser presidente de um dos países mais importantes do mundo e um nosso próximo aliado”, disse ontem o ex-presidente da Comissão Europeia (CE) ao i.
Para Durão Barroso, a participação de Mario Draghi no Conselho de Estado da semana passada foi “normal e desejável”. O presidente do Banco Central Europeu é “uma das mais importantes personalidades do âmbito europeu. É normal e desejável que o Presidente da República o tenha feito”. Em declarações ao i, José Manuel Durão Barroso lembrou a vez em que, como líder da CE, foi convidado pelo ex-Presidente da República Aníbal Cavaco Silva para uma reunião do Conselho do Estado: “Na altura, não foi comentado por eu ser português”, rematou. Para Durão Barroso, é natural que “o Presidente peça a alguém com funções fora de Portugal para vir apresentar argumentos e informar acerca de qualquer assunto importante para o país”.
Na abertura da Cimeira das Democracias – o dia aberto do Instituto de Estudos Políticos (IEP) da Universidade Católica Portuguesa -, o anfitrião foi José Manuel Durão Barroso. Atualmente a coordenar o Centro de Estudos Europeus do IEP, o ex-primeiro-ministro deu uma palestra sobre a democracia e a história do projeto europeu, respondendo a várias questões de uma audiência composta por escolas de todo o país.
O homem que presidiu à CE por uma década começou por evidenciar o contraste entre a União Europeia (UE) e outras organizações internacionais, nomeadamente a ONU, na medida em que “qualquer um dos membros da UE tem de ser uma democracia para entrar na união”.
As diferenciações prosseguiram: “Nós não somos a União Soviética. Não somos uma união de Estados através da força. Somos uma união de países livres e só é membro da união quem quer ser membro da união”, dando, como exemplo, o referendo britânico a realizar este ano.
Sobre o tema do “défice democrático” da UE, Durão Barroso salienta que “as decisões são tomadas pelo Conselho e pelo Parlamento Europeu de forma democrática” e que “somos nós que dizemos o que devemos fazer; a União Europeia não é uma potência externa”.
Do seu ponto de vista, o “défice democrático” da UE resume-se à “falta de pertença e participação”, ou seja, à distância entre cidadãos e instituições europeus. As 24 línguas oficiais tão distintas não ajudarão, exemplifica.
Sobre o tabu em torno do facto de o Eurogrupo não se encontrar legalmente oficializado em nenhum dos tratados, José Manuel Durão Barroso explica que se trata de um problema “resolvido de forma criativa porque as decisões dessas reuniões são sufragadas no ECOFIN e discutidas no Conselho Europeu”, órgãos de maior plenitude democrática e formal.
Em toda a conferência foram elevados os valores da tolerância, justiça, solidariedade e igualdade entre homens e mulheres. Para o orador, “todos os países da União Europeia procuram um Estado social que respeite o mercado” – uma máxima louvável, eventualmente em mente nas tais reuniões do Eurogrupo.
Confrontado com uma questão acerca da Frente Nacional, o europeísta não hesitou em dizer que “Marine Le Pen tem uma visão chauvinista do mundo” que não encaixa num globalismo que “gosta da palavra ‘patriotismo’, mas não gosta da palavra ‘nacionalismo’”.
Sobre a crise migratória, Durão Barroso disse aos académicos que “não houve solução para os refugiados porque, até agora, não havia uma resposta europeia” para esse problema. “Se partilharmos os refugiados entre países europeus, é perfeitamente possível. Vai ser difícil. Os partidos extremistas estão a virar as pessoas contra os refugiados e contra a Europa. Não podemos ter as portas escancaradas, mas com responsabilidade é possível ter solidariedade. Eu também procuraria um sítio onde houvesse paz”, afirmou.