O congresso do PSD veio deixar claro que as autárquicas de 2017 são um momento decisivo para a liderança de Pedro Passos Coelho. A mais de um ano das eleições, o líder da concelhia social-democrata de Lisboa, Mauro Xavier, vem avisar que ganhar a capital tem de ser uma ambição do partido e deixar um recado ao líder: o candidato à Câmara de Lisboa deve ser escolhido em “consenso” com as estruturas locais e apresentado “no máximo” um ano antes das eleições. Ao CDS, responde não estar interessado em coligações.
Fernando Medina está há um ano à frente da Câmara de Lisboa. Em que é Medina diferente de Costa?
Temos dois ciclos. O PS faz oito anos na Câmara de Lisboa. Temos sete anos de António Costa e um ano de Fernando Medina. A primeira diferença foi um aumento brutal de taxas. António Costa andou a dizer aos lisboetas que estava resolvida a questão financeira. Fernando Medina, que era o seu vereador das Finanças, veio demonstrar que não. Criou a taxa da proteção civil, a que eu chamo a taxa mafiosa porque é uma taxa que pagamos para sermos protegidos. E há um aumento brutal do imposto que é cobrado através do saneamento e do preço da água. Depois houve a reforma do IMI, que aumentou o preço das casas em Lisboa. Portanto, a receita, também por esse lado, aumentou substancialmente. E mesmo assim não desceu a taxa do IRS. Deixámos de ter o conceito de neutralidade fiscal que estava estabelecido com António Costa.
Foi diferente para o PSD lidar com Medina em vez de António Costa?
Com Costa conseguimos fazer a reforma da cidade de Lisboa e, portanto, houve acordo. Houve uma reforma fiscal na cidade de Lisboa, e novamente acordo. Com Medina, nestes últimos meses não houve acordo sobre uma única matéria.
Costa e Medina são muito diferentes?
Muito diferentes. António Costa sempre procurou consensos. Fernando Medina, talvez por precisar ainda de se afirmar, tem muita necessidade de protagonismo. Há um caso que, para mim, foi paradigmático. Em novembro foi aprovado a nível nacional o IMI familiar. Portanto, propusemos, na assembleia municipal, a aplicação dessa medida. Foi chumbada pelo PS. Menos de um mês depois, era manchete que a principal proposta de Medina para o orçamento era o IMI familiar.
Medina não é um homem de consensos?
Pelo contrário. É “quero, posso e mando”. Utiliza a sua maioria musculada para exercer o seu poder, neste momento absoluto, na câmara.
Medina acaba o mandato com grandes obras em curso. O PSD está contra estas obras?
Fazer obra é positivo. Ninguém é contra a reabilitação do eixo ribeirinho. Não somos contra cada uma dessas obras individualmente. Querer fazê-las ao mesmo tempo traz dois riscos muito grandes: um inferno para a vida de quem mora e trabalha em Lisboa e uma probabilidade grande de derrapagem das obras e de não concretização da sua execução. Parece-nos um calendário desesperadamente eleitoralista.
Com esses problemas todos, é fácil ganhar a Câmara de Lisboa ao PS?
Eu espero que o PSD consiga construir um projeto que convença os lisboetas.
Acha que tudo isto ficou para o fim do mandato porquê? António Costa já estava distraído da cidade?
António Costa nunca quis ser candidato à Câmara de Lisboa. António Costa utilizou Lisboa e os lisboetas. Não honrou o mandato, tendo dito que ia ficar até ao fim. Acho que ficou claro que não tinha a ambição de querer cuidar de Lisboa e eu acho que é isso que faz diferença neste momento.
Medina quer ficar só por Lisboa?
Eu também acho que Medina tem outros projetos e quer utilizar Lisboa. Gostava que tivéssemos candidatos à cidade que quisessem apenas Lisboa.
No PSD, os candidatos que estão a ponderar só querem Lisboa?
É uma condição sine qua non. Não vou discutir nenhum candidato, mas tem de se procurar alguém que queira estar exclusivamente dedicado a Lisboa e que tenha a ambição de fazer de Lisboa a melhor cidade para viver no mundo.
Que outras qualidades tem de ter o candidato do PSD?
É muito importante conhecer a cidade. Vir para Lisboa aprender não é boa solução. O melhor de estar na política é ter um impacto na vida das pessoas e eu acho que o cargo que consegue ter o maior impacto é, provavelmente, o de presidente da Câmara de Lisboa. Para aqueles que querem deixar uma marca, Lisboa é o lugar ideal.
Perder a Câmara de Lisboa não é uma opção para o PSD?
O PSD tem de ter obrigatoriamente essa ambição. Não será o mesmo resultado atingir o maior número de câmaras e de votos a nível nacional sem ganhar Lisboa. Temos aqui várias coisas em jogo. Uma delas é uma avaliação do mandato de António Costa, outra a do mandato de Fernando Medina, e outra ainda que é termos a possibilidade de ter uma geringonça candidata a Lisboa com uma grande coligação pré-eleitoral.
Acredita que isso vai acontecer?
Depois de ter ouvido o presidente da Federação Socialista, Marcos Perestrello, sobre isso, ficou claro que esse é o objetivo. E isso vem demonstrar que Fernando Medina não quer arriscar a possibilidade de perder e vai pôr cintos e suspensórios porque quer mais do que Lisboa. Quer, por isso, garantir que se juntam pessoas que não têm o mesmo projeto para Lisboa. Basta ver as votações do BE e do PCP na câmara para perceber isso. Cheira-me que estamos a querer colocar mais uma vez Lisboa como uma peça para a solução governativa nacional.
Passos Coelho aprendeu com o “que se lixem as eleições”?
As eleições lixaram-se. Tivemos o pior resultado de sempre. Percebo que a preocupação na altura, provavelmente a certa, era outra. A primeira ambição era salvar o país do resgate, mas faltou algum tato político na gestão desse período eleitoral. Agora, os sinais são muito positivos, com a indicação de Carlos Carreiras como coordenador autárquico em vez de Jorge Moreira da Silva. É um autarca, é alguém que conhece a realidade do país. Por isso, temos uma expectativa mais alta para este ciclo.
A sobrevivência de Passos Coelho como líder do PSD passa por estas autárquicas?
Essas análises não vou fazer. Mas tenho a certeza de que vai querer dar a cara pela Câmara de Lisboa e acho que essa deve ser a nossa única preocupação.
Falou de Jorge Moreira da Silva, que foi dado como possível candidato por Luís Marques Mendes. É um bom candidato?
A vantagem do dr. Marques Mendes é que passou de um candidato para a Câmara de Lisboa, que era Jorge Moreira da Silva, para três uma semana depois. Não sei quantos mais ele vai candidatar. A única coisa que eu já disse até hoje é que achava que o dr. Marques Mendes podia ser também um potencial candidato. Portanto, se vamos brincar às maldades de apontar nomes, não o farei sobre mais ninguém. Apenas direi que Marques Mendes foi o responsável pela perda da Câmara de Lisboa quando tirou a confiança política a Carmona Rodrigues.
O PSD-Lisboa não esqueceu isso?
Às vezes, a memória é muito importante nestas histórias. Carmona veio a ser absolvido e entregou-se a câmara ao PS depois do melhor resultado de sempre do PSD numas eleições autárquicas. Entregou-se a câmara de mão beijada a António Costa, que veio a fazer o seu percurso de notoriedade política na Câmara de Lisboa e que hoje é primeiro-ministro. Marques Mendes tem muita responsabilidade nisso. E convinha, para quem foi presidente do PSD, não lançar nomes em praça pública.
Como entendeu o “keep cool” de Pedro Santana Lopes?
Há frases daqueles que são predestinados na política. Eu diria que é uma coisa ao nível da “geringonça”. É uma frase que marcará todo o circuito autárquico para qualquer câmara do país. Já arranjámos uma hashtag. #Keep Cool.
Essa também é a vossa atitude na concelhia de Lisboa? Keep cool?
Não. Na concelhia, para ganhar a Fernando Medina, não podemos ter a atitude “keep cool”. Temos de ter uma atitude profissional e de escolher muito bem os nossos candidatos. As pessoas, às vezes, não têm noção, mas estamos a falar de envolver só numa candidatura mais ou menos quase mil pessoas nas listas, que são os candidatos de todas as listas autárquicas do PSD só em Lisboa.
A decisão do candidato a Lisboa passa por si e por Carlos Carreiras, mas o carimbo final é de Passos Coelho?
Sim. A concelhia irá fazer a aprovação de um perfil e de nomes que acompanhem esse perfil. Isso tem de ser aprovado pela distrital, que é dirigida por Miguel Pinto Luz, e a seguir aprovado pela comissão nacional. A última palavra é de Pedro Passos Coelho. Mas eu diria que para não termos propostas e vetos, temos de estar todos alinhados desde o início. É uma decisão que obriga a uma reunião de consensos entre quatro partes da estrutura do PSD que eu acho que serão muito fáceis de atingir.
Consenso é aqui a palavra-chave?
Se não conseguirmos estar em consenso, já partimos divididos para o combate eleitoral. Se não estivermos de acordo sobre quem é claramente o melhor candidato do PSD, isso seria um muito mau sinal. Não consigo imaginar outro cenário que não o de um consenso.
O PSD quer uma coligação com os centristas em Lisboa?
Keep cool (risos). Não sou favorável a coligações pré-eleitorais. Embora não seja da minha responsabilidade a decisão final, a minha opinião é a mesma de há quatro anos. Não deve haver coligação. Espero que se tenha aprendido com os erros do passado e que haja duas candidaturas no centro-direita.
Para depois fazer um acordo pós-eleitoral?
Se gerarem maioria. Eu acho que dificilmente haverá uma maioria absoluta do centro-direita. Lisboa não é tradicionalmente liderada pelo centro-direita. Só grandes homens têm conseguido grandes maiorias de direita. A nossa ambição é ganhar Lisboa – e, nas autárquicas, um voto a mais do que o segundo partido dá a presidência da câmara – e depois gerir com as outras forças políticas a vida da cidade.
Falou dos “grandes homens” que conseguiram maiorias em Lisboa. Santana é um deles…
Como Carmona Rodrigues. Foram os únicos a conseguir maiorias em Lisboa para o PSD.
Santana Lopes é alguém que ganharia hoje a câmara com mais facilidade do que outro candidato?
Tem de perguntar aos lisboetas. Eu não vou fazer sondagens nem comentar. Estamos agora a terminar o perfil do candidato.
Já há calendário para o anúncio?
Estamos a tentar concluir as escolhas dos nomes no primeiro semestre. Depois vamos ter de fazer aquilo que é a nossa decisão tática política, que é a de saber se anunciamos um candidato ainda no primeiro semestre ou se guardamos isso para a chamada rentrée política. Ou seja, um ano antes.
Será no máximo um ano antes?
Sim. Temos de ter tempo para fazer um projeto que possa ser discutido e melhorado com os lisboetas.
Um candidato apresentado um ano antes não corre o risco de ficar desgastado?
Nestas coisas não há certos nem errados. Temos o prof. Marcelo, que conseguiu aguentar até ao fim e obteve um excelente resultado. Se for ver a campanha de Santana Lopes, começou bem mais de um ano antes das eleições. Depende das pessoas
Quer ter um candidato que ao longo de um ano vá expondo as ideias do PSD para Lisboa?
Como é óbvio. Porque quem está hoje na câmara tem outra capacidade de comunicação e outros meios, o que eu acho que é normal, mas que é um David contra um Golias. O que eu gostaria de deixar claro na campanha é que são dois modelos diferentes.
E o vosso modelo passa por quê?
Pelas pessoas. Não podemos sacrificar os lisboetas para viver à conta do turismo. O turismo não é uma coisa má, é uma coisa positiva. Mas moram cá pessoas. Lisboa tem vários fluxos migratórios. Muitos trabalham e não vivem e têm uma realidade diferente. Outros apenas visitam a cidade. Lisboa tem vários públicos, mas o que eu acho que é importante é dedicarmo-nos a quem vive na cidade de Lisboa.
O PSD não tem estado adormecido na oposição na Câmara de Lisboa?
É muito difícil a qualquer oposição passar as suas posições. Não, não temos estado adormecidos. As posições são públicas. Agora, se me perguntar se têm tido o eco que eu gostava que tivessem, também digo que não. Mas isso tem que ver com o estarmos na oposição. Nem sempre é fácil passar a mensagem.
No tempo de Santana e Carmona houve muitos casos: Bragaparques, Gebalis, EMEL, EPUL… Nestes últimos anos não tem havido casos. Isso pode prejudicar o PSD nas autárquicas?
Não. Tem havido casos. Lembro o caso da extinção da EPUL por António Costa, que vai dar muito que falar. A única diferença é de estilo na oposição. Não fazemos uma oposição de casos. São duas formas diferentes de estar. Para mim, é um caso a municipalização dos transportes de Lisboa e a reversão da concessão. Continua a ser um caso a extinção da EPUL para resolver o balanço da câmara, desvalorizando ativos que a seguir são valorizados. A compra dos terrenos da nova Feira Popular também é um caso.