Papéis do Panamá: um roubo monumental que dá milhões


Ladrões desconhecidos atacaram um escritório de advogados e roubaram milhões de documentos. Foi um crime informático em tudo idêntico a um assalto a um banco, a uma carrinha de valores ou a um comboio-correio. Quem os divulga é cúmplice dos criminosos e está obviamente a ganhar muitos milhões.


Anda meio mundo muito excitado com os papéis do Panamá. A excitação está associada a uma palavra que é um autêntico afrodisíaco dos tempos modernos: offshore. Basta pronunciá-la, alto ou baixinho, e todo o mundo arrebita as orelhas na ânsia de vasculhar vidas privadas, negócios obscuros, crimes sem nome e criminosos de alto gabarito.

Mas vamos ao que interessa. Neste, como em outros casos semelhantes que excitaram meio mundo durante algum tempo, trata-se pura e simplesmente de um roubo monumental. Um ladrão ou vários ladrões assaltaram por via informática um escritório de advogados no Panamá e roubaram milhões de documentos privados da firma e dos seus clientes.

O assalto é em tudo semelhante a um roubo a um banco, a uma carrinha de valores ou a um comboio-correio. A diferença é que não se usam armas, não há sequestros de reféns, não há polícias mortos e feridos e assaltantes presos ou abatidos. E como em qualquer roubo, também há recetadores que compram o produto do assalto e o põem a render no mercado.

Há, como em qualquer assalto, quem ganhe milhões e vítimas inocentes, que não são atingidas a tiro mas sofrem as consequências da devassa da sua vida. Até agora, no meio de tanta fumaça, ainda não se sabe, e ninguém parece muito preocupado com o assunto, quem foram os mandantes do roubo e os seus executores. Em teoria, podem ser concorrentes do referido escritório ou meros bandidos que lucraram milhões com a venda de milhões de documentos confidenciais.

O chamado consórcio internacional de jornalistas de órgãos de comunicação social sabe, obviamente, que está a usar material roubado e a lucrar com a sua divulgação. Os meios de comunicação social com acesso aos documentos roubados aumentam as vendas, as audiências e o valor faturado na publicidade. Tudo lucro, portanto. A justificação para o crime que está a ser cometido à luz do dia é deveras comovente. Esta suposta investigação à volta de documentos roubados visa moralizar uma sociedade em que os ricos fogem ao fisco e obrigam os Estados a fazer autênticos assaltos fiscais aos desgraçados que não podem pôr os seus capitais e fortunas em sociedades que estão ao abrigo desses assaltos.

É evidente que as offshores servem para atividades legais e outras ilegais. É evidente que as offshores são meios importantes de planeamento fiscal contra Estados e políticas fiscais predadoras das poupanças legítimas dos cidadãos. É evidente que no mundo das offshores há o trigo e o joio. Mas até à data, neste como em outros roubos do género, não há indício de qualquer crime. Os nomes são atirados para a praça pública, são levantadas suspeições mirabolantes mas, até agora, os únicos crimes conhecidos são o roubo informático do escritório de advogados e a utilização do produto do roubo pelo consórcio internacional de jornalistas.

Espanta, por isso, que algumas autoridades andem a pedir a este grupo de jornalistas informações sobre os nacionais que eram clientes do referido escritório de advogados. Ao fazerem-no estão, obviamente, a ser cúmplices dos criminosos, conhecidos e desconhecidos, que andam muito entretidos a ganhar milhões. São os chamados lobos vestidos de cordeirinhos que, em nome de uma suposta moralidade fiscal do género “ou pagam todos ou não paga nenhum”, fazem milhões e milhões com um roubo informático monumental.

No meio de tanta fumaça, de tanto crime, hoje punido em todo o mundo, há crimes que vão passando pelo meio da chuva sem provocarem tanta excitação mediática. Basta lembrar a compra pela TAP de uma empresa de manutenção falida no Brasil que já custou, desde 2005, mais de 500 milhões à companhia. Uma compra em investigação há dois anos e em que já foram identificados pela PGR portuguesa seis crimes graves: administração danosa, participação económica em negócio, tráfico de influência, burla qualificada, corrupção e branqueamento.

Os crimes estão identificados, os suspeitos ainda não. Mas andam todos por aí, alguns envolvidos agora na maravilhosa reconversão da privatização. E não têm offshores no Panamá.


Papéis do Panamá: um roubo monumental que dá milhões


Ladrões desconhecidos atacaram um escritório de advogados e roubaram milhões de documentos. Foi um crime informático em tudo idêntico a um assalto a um banco, a uma carrinha de valores ou a um comboio-correio. Quem os divulga é cúmplice dos criminosos e está obviamente a ganhar muitos milhões.


Anda meio mundo muito excitado com os papéis do Panamá. A excitação está associada a uma palavra que é um autêntico afrodisíaco dos tempos modernos: offshore. Basta pronunciá-la, alto ou baixinho, e todo o mundo arrebita as orelhas na ânsia de vasculhar vidas privadas, negócios obscuros, crimes sem nome e criminosos de alto gabarito.

Mas vamos ao que interessa. Neste, como em outros casos semelhantes que excitaram meio mundo durante algum tempo, trata-se pura e simplesmente de um roubo monumental. Um ladrão ou vários ladrões assaltaram por via informática um escritório de advogados no Panamá e roubaram milhões de documentos privados da firma e dos seus clientes.

O assalto é em tudo semelhante a um roubo a um banco, a uma carrinha de valores ou a um comboio-correio. A diferença é que não se usam armas, não há sequestros de reféns, não há polícias mortos e feridos e assaltantes presos ou abatidos. E como em qualquer roubo, também há recetadores que compram o produto do assalto e o põem a render no mercado.

Há, como em qualquer assalto, quem ganhe milhões e vítimas inocentes, que não são atingidas a tiro mas sofrem as consequências da devassa da sua vida. Até agora, no meio de tanta fumaça, ainda não se sabe, e ninguém parece muito preocupado com o assunto, quem foram os mandantes do roubo e os seus executores. Em teoria, podem ser concorrentes do referido escritório ou meros bandidos que lucraram milhões com a venda de milhões de documentos confidenciais.

O chamado consórcio internacional de jornalistas de órgãos de comunicação social sabe, obviamente, que está a usar material roubado e a lucrar com a sua divulgação. Os meios de comunicação social com acesso aos documentos roubados aumentam as vendas, as audiências e o valor faturado na publicidade. Tudo lucro, portanto. A justificação para o crime que está a ser cometido à luz do dia é deveras comovente. Esta suposta investigação à volta de documentos roubados visa moralizar uma sociedade em que os ricos fogem ao fisco e obrigam os Estados a fazer autênticos assaltos fiscais aos desgraçados que não podem pôr os seus capitais e fortunas em sociedades que estão ao abrigo desses assaltos.

É evidente que as offshores servem para atividades legais e outras ilegais. É evidente que as offshores são meios importantes de planeamento fiscal contra Estados e políticas fiscais predadoras das poupanças legítimas dos cidadãos. É evidente que no mundo das offshores há o trigo e o joio. Mas até à data, neste como em outros roubos do género, não há indício de qualquer crime. Os nomes são atirados para a praça pública, são levantadas suspeições mirabolantes mas, até agora, os únicos crimes conhecidos são o roubo informático do escritório de advogados e a utilização do produto do roubo pelo consórcio internacional de jornalistas.

Espanta, por isso, que algumas autoridades andem a pedir a este grupo de jornalistas informações sobre os nacionais que eram clientes do referido escritório de advogados. Ao fazerem-no estão, obviamente, a ser cúmplices dos criminosos, conhecidos e desconhecidos, que andam muito entretidos a ganhar milhões. São os chamados lobos vestidos de cordeirinhos que, em nome de uma suposta moralidade fiscal do género “ou pagam todos ou não paga nenhum”, fazem milhões e milhões com um roubo informático monumental.

No meio de tanta fumaça, de tanto crime, hoje punido em todo o mundo, há crimes que vão passando pelo meio da chuva sem provocarem tanta excitação mediática. Basta lembrar a compra pela TAP de uma empresa de manutenção falida no Brasil que já custou, desde 2005, mais de 500 milhões à companhia. Uma compra em investigação há dois anos e em que já foram identificados pela PGR portuguesa seis crimes graves: administração danosa, participação económica em negócio, tráfico de influência, burla qualificada, corrupção e branqueamento.

Os crimes estão identificados, os suspeitos ainda não. Mas andam todos por aí, alguns envolvidos agora na maravilhosa reconversão da privatização. E não têm offshores no Panamá.