Saúde. Alergia aos pólenes afeta 20% da população

Saúde. Alergia aos pólenes afeta 20% da população


Numa altura em que o ar se enche de pólenes comemora-se a Semana Mundial da Alergia. Doentes com asma e rinite alérgica devem ter especial cuidado, alerta o presidente da Associação Portuguesa de Asmáticos


Chegámos àquela altura do ano. Sim, aquela em que os olhos lacrimejam, os lenços de papel são presença constante nas carteira das senhoras e nos bolsos dos homens e os espirros são tão comuns como o desabrochar das flores. Mesmo sem ver datas no calendário, já foi antecipada pelos aparelhos respiratórios de cerca de dois milhões de portugueses que sofrem de doenças alérgicas. Portanto, não é por acaso que se comemora nesta altura a Semana Mundial da Alergia.

Em Portugal, as doenças alérgicas respiratórias mais frequentes são a asma e a rinite alérgica, explica Mário Morais de Almeida, médico e presidente da Associação Portuguesa de Asmáticos (APA). “Na verdade, mais de dois milhões de residentes em Portugal têm doenças alérgicas”, revela o especialista. “ Aproximadamente 25% da população tem queixas de rinite e cerca de 10% têm asma.”

Também outras alergias atingem um número significativo de pessoas. “Mais de 10% tem eczema atópico; 20% tiveram pelo menos um episódio de urticária; mais de 5% têm alergia alimentar.” Relativamente às picadas de insetos, como abelhas e vespas, “até 5% estão sensibilizados a estas picadas”, diz Mário Morais de Almeida. Por fim, o médico alerta que um “número considerável sofre de alergias medicamentosas”. Conclusão deste emaranhado de números: as doenças alérgicas “são muito frequentes e a gravidade pode ser considerável”.

Padecer de uma alergia não significa que se esteja imune às restantes, antes pelo contrário – a maioria das doenças alérgicas respiratórias coexistem. Por exemplo, um terço dos doentes com rinite também tem asma e a maioria dos doentes com asma (75%) tem rinite. Outra “combinação” usual é a da rinite com conjuntivite alérgica: mais de metade dos doentes com rinite também partilham esta patologia. Ou seja, na prática há doentes que acumulam uma, duas, três ou mais alergias pelo que, nesta altura, são um alvo especialmente fácil dos pólenes.

Os pólenes andam aí A chuva é, ao contrário do que se possa pensar, um fator importante na hora de avaliar a quantidade de pólenes. “Um ano com muita chuva condiciona fortes concentrações de pólenes quando a precipitação se interrompe na primavera.” Esta premissa é fácil de explicar: quanto mais chove, mais vegetação irá irromper. “A alergia aos pólenes afetará cerca de 20% da população, sendo a rinoconjuntivite a manifestação de alergia polínica mais conhecida”, diz Mário Morais de Almeida.

“De facto, desde o final do inverno, continuando e predominando nos meses de abril a junho, estendendo-se de um modo atenuado pelo verão e outono, são os pólenes, libertados pelas múltiplas espécies vegetais existentes, os alergénios mais particulares desta época do ano.”

Também o vento é importante na equação. “O tempo mais seco, ventoso, condiciona uma grande dispersão dos pólenes, que podem exercer a sua influência muitos quilómetros para lá da zona onde são produzidos, existindo uma tendência para a polinização se fazer de sul para norte do país. A possibilidade de estes alergénios penetrarem dentro das habitações, desencadeando queixas em doentes alérgicos, deve ser lembrada e, como tal, evitada”, alerta o presidente da APA.

Locais de risco “Os pólenes estão presentes em todo o território nacional, em concentrações mais elevadas no sul do país e nos dias quentes, secos e com vento”, resume o especialista. No entanto, é nos centros urbanos que o perigo é maior, dada a poluição. “O efeito adicional da poluição provoca uma maior agressividade dos alergénios polínicos, pelo que, mais do que locais a evitar, é fundamental tomar algumas medidas preventivas quando as concentrações de pólenes a que somos alérgicos são elevadas.”

Mas como saber se somos ou não alérgicos e não estamos apenas constipados? “Os sintomas de quem tem rinite e ou asma consistem em comichão no nariz, espirros, nariz tapado, tosse, falta de ar e chiadeira no peito e cansaço, muito cansaço.” Caso se prolonguem e repitam frequentemente, os sintomas têm de ser valorizados e o melhor é mesmo procurar ajuda médica.

A asma e a rinite são doenças que não passam com a idade, contrariamente, por exemplo, às alergias alimentares, que têm tendência a desaparecer. Pelo contrário, vão tendencialmente piorando. “Está bem estudado que, em Portugal, as doenças alérgicas são igualmente muito frequentes nos adultos mais idosos (a rinite existe em mais de 20% e a asma em 10%)”. Na velhice, estas alergias, associadas a outras doenças crónicas, obesidade ou sedentarismo, são os principais fatores que contribuem para esta tendência,

Atualmente, ainda morrem em Portugal aproximadamente cem pacientes por ano com asma. No entanto, para o especialista é muito “simples controlar a situação para a maioria dos alérgicos. Diagnosticar, prevenir, controlar. Já está!”