Fui salva pela Jane Fonda. Não é para muitos, diria até que é para muito poucos. Bom, para ser totalmente honesta, salva é um overstatement. Mas é a Jane Fonda e só isso já justifica o exagero. A atriz, escritora e ativista esteve em Portugal pela primeira vez a propósito da conferência “A Idade é uma Escolha”, organizada pela L’Oréal Paris. Assim que foi conhecido que Jane Fonda viria pela primeira vez a Portugal, os pedidos de entrevista multiplicaram-se: toda a gente queria os seus 15 minutos com a diva. Só que depressa os 15 minutos passaram a 10, e a 5, e a 3. De repente, tínhamos 3 minutos para entrevistar Jane Fonda. E nem sequer seria só o i: éramos quatro órgãos de comunicação social, em simultâneo, a partilhar 3 minutos com a mulher que fez da licra colorida uma coisa sexy. Ou seja, uma pergunta por jornalista e já era com sorte.
Quando entrámos na sala, de repente, as horas de espera e todas as condicionantes pareceram secundárias. Lá estava Jane Fonda, impecavelmente vestida no seu tailleur branco, cabelo e maquilhagem inquestionáveis. Quando vê entrar quatro jornalistas, a sua primeira preocupação tem a ver com a falta de cadeiras para todas. Primeiro ponto a favor. Prontas para começar, revisão da matéria dada por parte de um elemento da organização: têm 3 minutos, aviso quando for a última pergunta.
Começa a conversa e, claro, logo a seguir já estamos a ouvir que temos de terminar. E aí acontece o que ninguém naquela sala parecia estar à espera: Jane Fonda diz “deixem-nas continuar”. Sim, é certo que não nos estava a convidar para jantarmos com ela, mas a forma generosa com que contrariou as regras soube a um banquete.
A simpatia da atriz já tinha, de resto, dado um ar da sua graça, quando apareceu na conferência de muleta. Explicou à plateia que estava numa das suas caminhadas pelas montanhas de Los Angeles e viu “um rapaz muito giro, de tronco nu”. Logo de seguida, tropeçou e caiu. “Tirei desta situação três lições: por um lado, ainda estou em condições de fazer caminhadas; por outro, ainda olho para homens bonitos; e em terceiro lugar, agora, quando caio, o risco de me magoar seriamente aumenta”, explicou, perante a gargalhada da plateia.
Depois, numa breve e preparada intervenção, falou da importância de saber encarar a idade e de não permitir que os “problemas nos definam”. Para Jane Fonda, a genética representa apenas um terço e “o resto é uma escolha”. E é possível escolher que o que considera “o terceiro ato da vida” seja o mais feliz.
Essa ideia de que o último terço da vida pode ser o mais resolvido ficou ainda mais clara durante a conversa dos 3 minutos que viraram 13. Para Jane Fonda, atualmente com 78 anos, “a ideia de que as pessoas têm de ter uma beleza clássica e um certo visual está sobrevalorizada. As pessoas têm de tentar ser o melhor que conseguirem e sentir-se bem com isso. E perdoarmo-nos uns aos outros. Mas para atingir isto é preciso pensar muito na vida e viver com a intenção de ser autêntica”. Ou seja, é preciso envelhecer e esperar que, com os anos, venha alguma sabedoria e paz. As mesmas que fazem com que a atriz diga que o momento em que gosta mais de si própria é “a caminhar na montanha” e que não gosta nada “que os homens olhem para mim, nunca gostei. Mas a verdade também é que nunca olharam muito”.
Depois de participar em “Juventude”, de Paolo Sorrentino, de estar atualmente a gravar a série “Grace and Frankie” e a preparar-se para um filme com Robert Redford, a atriz, autora de sete livros e ex-diva do fitness, assume que a sua carreira “é mais importante agora do que era quando era jovem”. E uma das partes que foi ganhando importância na carreira de Jane Fonda – que sublinha sempre que é também mãe e avó – foi o seu lado de ativista sobretudo no campo dos direitos da mulher, como, por exemplo, na igualdade de acesso ao trabalho e remuneração, fator que reconhece que ainda não existe em Hollywood.
Uma luta que no passado não compreendia, ao ponto de, nos anos 70, ter escrito um artigo no qual confessava não compreender o movimento de libertação das mulheres. Mas mudou de opinião quando regressou aos EUA. “Durante muitos anos vivi em França e fui casada com um francês [o realizador Roger Vadim]. Regressei aos EUA para tentar acabar com a guerra no Vietname e nessa altura conheci muitas feministas. Havia algo nelas que me parecia diferente, elas prestavam atenção às outras mulheres e sempre que viam uma mulher não ser respeitada, defendiam-na. Percebi que nunca o tinha feito. E depois ouvi uma feminista dizer que não tínhamos de ser contra os homens para sermos feministas. Quando comecei a ver as feministas em ação, percebi que também eu era uma feminista. Só que depois estava em casamentos em que até podia ganhar o meu próprio dinheiro e não ser dependente de um homem, mas ainda assim não tinha voz porque pensava que, se falasse, o meu marido me deixaria e se não tivesse um homem não era ninguém”, confessou, acrescentando que foi assim que a sua geração foi criada. “Só quando, aos 62 anos, me tornei uma mulher solteira, porque decidi que não queria morrer sem entender totalmente quem era como mulher, me tornei uma feminista de corpo e alma.”