Terrorismo. “Ponto de contacto único” possibilita “controlo” da justiça pelo poder político

Terrorismo. “Ponto de contacto único” possibilita “controlo” da justiça pelo poder político


Sindicato dos Magistrados do Ministério Público considera que as “ligações” ao poder executivo permitem “o controlo de informações relevantes” por parte dos responsáveis políticos. Casos de terrorismo devem ficar na PJ.


A criação de um “ponto de ligação único nacional” entre as autoridades nacionais e os responsáveis da Interpol e da Europol está a ser alvo de fortes críticas. Na última reunião do Conselho Superior de Segurança Interna foi aprovada a criação de um posto que centralizasse a comunicação entre as autoridades nacionais e os organismos internacionais responsáveis pelo combate às formas graves de criminalidade – entre as quais, crimes de terrorismo.

Mas o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP) lembra que esse elemento atuaria na dependência do secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, cargo equiparado ao de um secretário de Estado e que é nomeado diretamente pelo primeiro-ministro, havendo, por isso, “uma clara ligação ao mesmo”.

Em comunicado, a que o i teve acesso, o SMMP sublinha que “não há qualquer dúvida de que este cargo é político, com profunda ligação ao poder executivo e não tem natureza judicial ou policial”. E essa ligação poderá pôr em causa processos sensíveis que digam respeito a responsáveis políticos.

“A troca de informações efetuada no seio da Interpol e Europol é essencial para a recolha de elementos vitais à investigação criminal e trata de matérias particularmente sensíveis, sendo certo que em alguns casos os visados são titulares de cargos políticos”, destaca o SMMP, que considera “muito preocupante” que um titular de cargo político possa ter acesso a “matérias relevantes que se encontram em segredo de justiça”. Mais do que o conhecimento, os magistrados admitem a possibilidade de ser exercido um “controlo de informações relevantes” de inquéritos contra responsáveis políticos.

Um assunto particularmente relevante num momento em que estão a ser divulgadas informações sobre a relação de responsáveis políticos (e empresariais, entre outros) com offshhores, no âmbito do caso “Panama Papers”. A este respeito, o SMMP diz mesmo que “as recentes notícias acerca do chamado caso dos “Papéis do Panamá” claramente demonstram que é conveniente que a informação criminal internacional não esteja na dependência do poder executivo, por motivos evidentes”.

Terrorismo deve ficar com a PJ

Para evitar uma violação da separação de poderes, o SMMP defende que as matérias relacionadas com terrorismo devem continuar sob alçada da Polícia Judiciária. “A cooperação policial efectuada através da Interpol e da Europol tem sido efetuada com bons resultados pela PJ e esta detém o necessário conhecimento para o efeito”, aponta o comunicado.

Até porque, “na sua orgânica, a PJ dispõe de uma unidade nacional contra-terrorismo, vocacionada para a investigação criminal do terrorismo, sendo certo que dispõe igualmente de uma unidade de apoio à investigação criminal direcionada especificamente para a cooperação policial internacional”.

Mesmo do ponto de vista da investigação, a PJ será, para o SMMP, o organismo mais adequado para assumir as investigações, “uma vez que do ponto de vista legal pode recorrer à utilização de intercepções telefónicas, ter acesso a facturação detalhada e ao correio electrónico de suspeitos, o que não é permitido ao serviço de informações”.