Independentemente da terminologia discutível que queiram dar a esta eminente (r)evolução(?), que tem impacto elevado nas nossas vidas, o que importa mesmo é perceber a função e o valor que a instituição Escola poderá ter — ainda – nesta complexa e violenta transformação da humanidade.
Nos alvores desta Quarta Revolução, marcada fundamentalmente pela combinação de tecnologias dos mundos físico, biológico e digital, poderemos questionar-nos sobre o papel do ser humano e das futuras gerações. Que habilidades, que competências, que comportamentos ou atitudes devem possuir os indivíduos que vão enfrentar esta augurada nova fase económica, com fortes repercussões sociais, políticas e até demográficas?
Não querendo parecer derrotista ou cético quanto ao valioso papel que a Escola poderá ter na preparação dos novos cidadãos para aquela era, julgo que, face à situação atual em que se encontra o sistema educativo em Portugal, não estamos minimamente preparados para apetrechá-los com as supostas e necessárias competências. Aliás, a Escola não se preparou ainda sequer para a terceira revolução!
De acordo com o último relatório do Fórum Económico Mundial (FEM), as profissões do futuro vão necessitar de indivíduos com as competências (skills) abaixo enumeradas para desempenhar com sucesso as suas carreiras.
Se olharmos bem para este quadro do Top 10 das habilidades, rapidamente percebemos que a Escola não preparou os seus alunos para as orientações que, já em 2015, eram assinaladas como importantes.
Não podemos, de facto, “fazer ouvidos de mercador” a tais recomendações, mas também não devemos ser fundamentalistas, como se elas encerrassem toda e a única solução para enfrentar as exigências do mundo para as próximas décadas. Contudo, temos de ter consciência que as tecnologias, a Internet, a Inteligência Artificial, a robótica vão ocupar uma parte ainda mais significativa do mercado de trabalho, levando à perda de mais de 5 milhões de empregos, em apenas 5 anos, conforme alerta o FEM.
Novas profissões vão emergir e, com elas, novas competências serão necessárias para ocupar novos postos que as empresas, as instituições precisam.
A escola está já preparada ou a preparar para o mundo de hoje? Não, não está! E muito menos prepara para aquela nova Revolução. Para que ela possa fornecer as competências acima mencionadas aos seus alunos, os próprios professores devem estar formados e preparados com tais habilidades e conhecimentos. Ora, a formação e o desenvolvimento profissional é uma grave lacuna no sistema educativo atual. E convenhamos: nele se inclui o Ensino Superior!
É, por isso, urgente discutir em profundidade, debater e reestruturar todo o Currículo Nacional; é urgente adequar a formação dos professores às necessidades atuais, nas mais variadas áreas, incluindo a mediação de conflitos, técnicas e processos de comunicação, trabalho cooperativo; é imperativo o uso adequado e sistemático das TIC em contextos vários; é indispensável valorizar as competências de comunicação oral e escrita, de interação social e colaborativa entre alunos; promover o trabalho em grupo e contextos de criação de projetos multidisciplinares; personalizar e individualizar os progressos nas aprendizagens. E, ainda, capacitar os alunos para a escuta ativa, a empatia, valorizando a inteligência emotiva.
Ora, na verdade, a escola não vai bem! E, tal como diz Laborinho Lúcio, «recuso-me aceitar uma escola onde tudo corre bem e o que atrapalha são os alunos».
Professor | Especialista em Tecnologias Educativas
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