Mohammed VI
Se em muitos casos os jornalistas da ICIJ reconhecem dificuldade em seguir o trilho do dinheiro – e, como tal, identificar os verdadeiros beneficiários –, no caso do monarca marroquino não é preciso fazer grandes especulações. A escuna Aquarius W foi adquirida em 2005 pela SMCD Limited, firma com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, numa operação feita com a assinatura de Mounir Majadi, secretário pessoal de Mohammed VI. Onze anos depois, a escuna já se chama El Boughaz I e está registada em nome do rei.
Petro Poroshenko
“Penso que devo ser o primeiro dirigente de topo na Ucrânia a tratar seriamente as declarações de bens, o pagamento de impostos e os conflitos de interesses”, disse ontem o presidente ucraniano depois de ver o seu nome incluído no escândalo de paraísos fiscais. O bilionário viu revelado que o seu império de chocolates, a Roshen, foi transferido para uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas quando, em 2014, assumiu o poder com promessas de transparência. Poroshenko garante que, ao tomar posse, passou a Roshen para as mãos de gestores e advogados, que por sua vez criaram uma empresa offshore para não haver conflito de interesses. Mas, segundo a sociedade de advogados que tomou a decisão, “a criação de uma estrutura estrangeira não afeta os deveres fiscais do grupo Roshen na Ucrânia, onde continua a pagar impostos”. A oposição quer mais explicações e ameaça com uma moção de censura.
Lionel Messi
O craque argentino do Barcelona também foi apanhado nos “Papéis do Panamá” depois de ter sido revelado que esteve envolvido num novo esquema de evasão fiscal e numa rede de branqueamentos de capitais. Apenas um dia depois da Agência Tributária espanhola ter descoberto a sociedade anónima de Messi e do seu pai que lhes deu milhões de lucros em direitos de imagem do jogador (fugindo aos impostos), os dois terão assinado um despacho para constituir uma nova sociedade (a Mega StarEntreprisesInc.) noPanamá, segundo o jornal “El Confidencial”. O cinco vezes vencedor da Bola deOuro já veio desmentir todas as acusações e esclarece que a sociedade panamiana está “totalmente inativa, e que nunca teve fundos nem contas correntes abertas”.Alega ainda que os seus rendimentos foram declarados e que irá analisar, com os seus advogados, futuras ações legais contra os meios de comunicação.
Sigmundur Gunnlaugsson
Foi a primeira vítima dos “Papéis do Panamá”, bem antes de se ter ouvido falar em tal coisa. Em março, o PM islandês dava uma entrevista a uma TV sueca quando foi confrontado com o seu envolvimento com empresas sediadas em offshores. Depois de umas respostas atrapalhadas, Gunnlaugsson abandona o estúdio, acusando os jornalistas de o terem “enganado com uma entrevista”. O vídeo foi divulgado no seu país no domingo à noite, horas antes dos primeiros pedidos de demissão. Em causa está a empresa Wintris, sediada no offshore das Ilhas Virgens Britânicas e comprada pela mulher de Gunnlaugsson em 2007, com o objetivo de albergar e investir a fortuna herdada por Anna Sigurlaug Pálsdóttir. Parte desses investimentos foram feitos em dívida pública islandesa – país que entrou em colapso nos primeiros anos da crise financeira – mas os erros do PM não acabam aí: em 2009, quando entrou para o parlamento, não revelou ser dono de 50% na empresa, parcela vendida oito meses depois, à esposa, por 1 dólar. A oposição promete uma moção de censura ainda esta semana.
José Botelho de Vasconcelos
Os papéis ligam o ministro angolano a uma empresa que utilizou as offshores da Ilha de Niue e de Samoa, no Oceano Pacífico. A 6 de março de 2002, quando José Botelho de Vasconcelos exercia pela primeira vez o cargo de ministro do Petróleo, foi apontado como um dos indivíduos com procuração para atuarem como advogados da Medea Investments Limited, uma companhia que dizia valer um milhão de dólares. Esta empresa estabeleceu-se a 13 de setembro de 2001 na Ilha de Nieu e foi transferida em 2006 para Samoa, outra offshore. Acabou desativada em 16 de fevereiro de 2009. Tanto em Niue quanto em Samoa, a empresa era constituída por ações ao portador, “o que torna mais fácil mascarar sua propriedade”, refere o consórcio de jornalistas. A Medea Investments de Samoa era ainda uma das empresas que detinham ações na companhia Blue Nile Consulting LLC de Nova York, em outubro de 2007.
Vladimir Putin
Foi a figura central da peça com que o “Guardian” iniciou as revelações do Panamá, sem que o seu nome seja referido nos 11,5 milhões de documentos desviados. O jornal justifica-o com uma “rede clandestina constituída por aliados e associados de Putin, que tem vindo a movimentar entre bancos e companhias offshore mais de dois mil milhões de dólares”. Nesta história não falta o melhor amigo generoso, que no caso de Putin se chama Sergey Ruldugin e é violoncelista e maestro. É ele que, apesar de rejeitar a fama de empresário, aparece referido como dono de várias empresas sediadas em offshores que têm negócios de milhões com empresas russas. Sublinhando todo o aparato de quem tenta esconder o rumo do dinheiro, quem analisou os documentos constata que quase sempre este “se encaminha para pessoas e empresas na orla de Putin”. Não passa de “putinofobia”, disse ontem o seu porta-voz, para quem “é evidente que o alvo principal deste ataque” é a Rússia.
David Cameron
O rosto do primeiro-ministro britânico aparece ligado ao caso apenas por ser atualmente o máximo responsável de uma máquina fiscal que foi iludida pelo seu pai durante décadas. Ian Cameron, corretor na City de Londres falecido em 2010, era diretor da Blairmore Holdings Inc – um fundo de investimentos sediado nas Bahamas que transporta o nome das terras ancestrais da família Cameron, em Aberdeenshire. A empresa lucrou milhões com a gestão de fortunas de clientes privilegiados, como o banco privado Leopold Joseph, que na lista de clientes tem membros dos Rolling Stones. Mas apesar disso, sublinhava ontem o “Guardian”, “em 30 anos a Blairmore nunca pagou um único cêntimo de impostos no Reino Unido”. Porque o pai do PM tratou de contratar “um pequeno exército de cidadãos das Bahamas – incluindo um bispo a part-time – para assinar a papelada” deste fundo offshore. O porta-voz de Cameron diz que se trata de um “assunto privado”, mas a líder da agência tributária do país garante que vai “analisar detalhadamente” os dados revelados.
Bashar al-Assad
O ditador sírio, tal como outras figuras irremediavelmente ligadas ao escândalo, não é referido nenhuma vez nos papéis da Mossack Fonseca. Mas tal como Putin e outros, os esquemas revelados indicam que será ator principal em histórias protagonizadas pelos primos Rami e Hafez Makhlouf. “Qualquer empresa estrangeira que quisesse entrar na Síria tinha de ser autorizada por Rami”, dizem os papéis divulgados, referindo-se ao homem que através de uma offshore das Ilhas Virgens Britânicas, a Drex Technologies S.A., controlava 63% da operadora móvel Syriatel. As ligações dos Makhlouf à Mossack Fonseca acabaram em 2011, quando a empresa panamiana foi contactada por autoridades financeiras numa investigação a lavagem de dinheiro na Drex. Durante o dia de ontem, tanto o líder do regime sírio como os seus primos rejeitaram referir-se às revelações.
Mauricio Macri
O homem que acabou com o kirchnerismo na Argentina, com promessas de combater a corrupção crónica no país, foi apanhado a esconder bens na offshore numa época em que era autarca de Buenos Aires e declarou contas bancárias nos Estados Unidos da América. A Fleg Trading Ltd funcionou com sede nas Bahamas entre 1998 e 2009, Macri era – com o pai Francisco e o irmão Mariano – um dos diretores da empresa, mas não a referiu em 2007, quando revelou ter 2,9 milhões de dólares numa conta norte-americana do banco Merrill Lynch. O seu porta-voz explicou ontem que a omissão se deu por Macri não ter capitais associados a esta empresa offshore, não era acionista e serviu “ocasionalmente como diretor” apenas porque se trata de um negócio familiar. Hector Reclade, atual líder da oposição, dizia ontem que “uma empresa offshore nunca é criada para fins lícitos”.
Salman Bin Abdulaziz
O rei saudita, tal como quase metade das pessoas e empresas identificadas, recorreu às offshores das Ilhas Virgens Britânicas. Duas empresas, uma criada em 1999 e outra três anos depois, financiaram os 34 milhões de dólares com que Salman Bin Abdulaziz adquiriu residências de luxo em Londres e um iate que ontem era descrito pela CBS como sendo “do tamanho de um campo de futebol”. O consórcio que denunciou o caso diz que o rei saudita tem “um papel não especificado” nas transações, mas tudo aponta para que seja o principal beneficiário. Chegado ao trono em janeiro de 2015, Salman já terá acumulado uma fortuna avaliada em 17 mil milhões de dólares, ficando assim a apenas mil milhões do seu antecessor. Pelo mesmo caminho deve ir o herdeiro, Mohammad bin Naif, também apanhado a comprar empresas panamianas através do banco suíço UBS.