Num dos seus inúmeros exemplos bem-humorados, Sir Ken Robinson, um dos mais reconhecidos especialistas da criatividade, conta que uma professora de desenho perguntou a uma aluna de seis anos o que estava a desenhar. “Deus!” — respondeu a menina. A educadora retorquiu que ninguém sabia como ele é. E a menina respondeu: “Vão saber dentro de um minuto.”
Esta capacidade de imaginar é a janela para a criatividade que, por consequência, traz a inovação. Aquela professora já não se permite abrir-se à imaginação, deixando-se conduzir apenas pela norma ou padrões já estabelecidos. Porém, a aluna, tal como qualquer outra criança, possui o dom da imaginação, da invenção, pelo que tudo é possível e não há lugar ao erro, porque não tem medo de errar.
Para que a criatividade se desenvolva, se mantenha e se torne um hábito no quotidiano das crianças e jovens, é fundamental criar esses contextos, desafios constantes que proporcionem a busca e a descoberta de alternativas frescas, de novas perspectivas que fujam ao convencional.
O grande entrave à implementação de tais contextos em sala de aula é, precisamente, o professor. Ele habita num sistema que não permite o erro, onde tudo deve ser controlado e sancionado, dado que o erro, o questionamento não são aceitáveis e são alvo de punição, seja com a caneta vermelha, uma nota negativa, uma repreensão diante de toda a turma que culminam na reprovação.
Por outro lado, há um péssimo hábito de se associar à criatividade a indisciplina e a ausência de controlo, quando, em boa verdade, o que se verifica é a incapacidade do professor em lidar com o desafio da criatividade. É um repto elevado para ele, dado que envolve competências e conhecimentos sobre dinâmicas de trabalho criativo, algo que raros professores dominam ou são capazes de implementar.
Permitir que a criatividade seja usada permanentemente é um risco para o professor. Por um lado, obriga-o a afastar-se de métodos de ensino confortavelmente bolorentos e, por outro, exige dele um elevado domínio de conhecimentos, técnicas, processos tanto ao nível da comunicação como ao nível das dinâmicas de grupo, da organização do espaço de aula e da orientação individual e personalizada de cada aluno.
A estes entraves, soma-se o baixo ou fraco nível de domínio dos professores no uso das diversas tecnologias educativas, que podem proporcionar aos alunos estender o seu pensamento criativo. Os smartphones, os tabletes, os quadros ou mesas interativos, as milhares de aplicações ou software educativos são ferramentas que poderiam auxiliar alunos e professores. Porém, é fundamental que o professor as conheça, as domine, as use na sua prática pessoal e profissional e as relacione adequadamente aos contextos de aprendizagem e conteúdos.
Desafiar os alunos a procurar, a usar e a criar novas ferramentas digitais, potencia, estimula e desenvolve o pensamento criativo, conferindo às aulas novas dinâmicas individuais e em grupo. Os conteúdos ganham uma nova vida, quando os alunos são os protagonistas. Cabe ao professor proporcionar tais contextos e liberdades de interacção e colaboração dentro e fora da sala de aula, envolvendo até novas personagens, tais como outros professores, pais, outras escolas, comunidades nacionais e internacionais. É preciso saltar as muralhas da escola e ambicionar outros horizontes…
Vamos parar de estigmatizar as crianças e os jovens na Escola e na Educação, afastando-as das suas capacidades criadoras. Penalizamos, sancionamos, humilhamos quem não sabe, quem erra? Não deveríamos, na sala de aula, na escola, procurar oferecer novos desafios, novos estímulos, novos problemas para que os mais diversos talentos escondidos possam emergir?
Esta função cabe única e exclusivamente ao professor. A criatividade pode não morrer na Escola se ele for capaz de a ressuscitar.
Professor | Especialista em Tecnologias Educativas
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