Linha de Cascais. Tragédia do farol da Gibalta foi há 65 anos

Linha de Cascais. Tragédia do farol da Gibalta foi há 65 anos


Um desmoronamento de terras atingiu em cheio um comboio que tinha partido de Cascais. Morreram 10 pessoas e 38 ficaram feridas


31 de março de 1951. Um grave acidente ferroviário perto de Caxias provocou a morte de dez pessoas e ferimentos em 38. Milhares e milhares de pessoas que viviam na Linha de Cascais viveram um dia de horror na tentativa de saber se algum familiar tinha sido vítima do acidente. Há 65 anos, as ligações não eram fáceis e muitas pessoas só ficaram a saber a sorte dos familiares quando regressaram a casa ao fim do dia.

A história, como vem contada na Wikipédia, abalou não só os habitantes da Linha de Cascais como a generalidade dos portugueses.

Mas vamos à tragédia. O farol de Gibalta, em cima da ravina, com a Linha de Cascais em baixo, junto ao mar, entre a estação de Caxias e da Cruz Quebrada, era, na altura, fundamental para a navegação. Na época das chuvas era habitual ocorrer infiltração de águas nos terrenos que suportavam o farol, fazendo com que se abrissem fendas. Este fenómeno intensificava-se ainda mais nas épocas de maior precipitação, pois os canais de escoamento ficavam inundados. No entanto, embora este fenómeno acontecesse com frequência, os acidentes eram raros.

No dia da tragédia verificou-se uma forte precipitação, o que, como habitual, resultou na perda de unidade dos terrenos de suporte do farol quando as águas se infiltraram.

Alerta do faroleiro Cerca das 8 horas da manhã, o faroleiro observou a formação de várias fendas no solo da plataforma do farol, tendo alertado em seguida a Direção dos Faróis, que enviou uma equipa de técnicos ao local para avaliar a situação.

Ao mesmo tempo, uma composição, formada por uma automotora mista, um furgão e duas carruagens de terceira classe, encontrava-se a caminho do local, tendo partido da Estação de Cascais dentro do horário previsto, com destino ao Cais do Sodré. A bordo encontravam-se cerca de 150 passageiros.

Cerca das 11 horas e 45 minutos deu-se um desmoronamento, atingindo a composição, que nesse preciso momento se encontrava a transitar nesse lugar. A penúltima carruagem foi a mais atingida, tendo sido totalmente destruída.

O pânico instalou-se a bordo da composição, tendo alguns passageiros e o pessoal tentado retirar os feridos e os mortos dos destroços. Pouco tempo depois chegaram os serviços de socorro, acompanhados por polícias, membros da Guarda Nacional Republicana, soldados dos quartéis próximos e voluntários. Apesar das dificuldades que se faziam sentir devido à chuva e vento intensos, foram resgatados 38 feridos, que foram dirigidos para hospitais em Lisboa.

Morreram dez pessoas. Antes da tragédia da Gibalta tinham ocorrido mais dois acidentes nos caminhos-de-ferro de Portugal, o que provocou um certo clima de insegurança neste meio de transporte.

Logo após o acidente foram enviados técnicos para o local, para averiguarem as suas causas e orientarem os esforços de desobstrução da via. Já nessa altura, esta via detinha uma elevada importância, assegurando as necessidades diárias de transporte das populações daquela zona, pelo que deveria ser colocada em funcionamento tão depressa quanto possível. Enquanto a circulação esteve suspensa, a Sociedade Estoril-Sol, proprietária da linha, organizou um serviço de transporte misto, utilizando autocarros para deslocar os passageiros entre as estações afetadas, tendo conseguido assim reduzir ao máximo os efeitos do acidente na circulação.

Novo farol A conduta do faroleiro também foi posta em causa, pois limitou-se a cumprir o regulamento, tendo avisado apenas a Direção dos Faróis. Caso tivesse alertado voluntariamente a Sociedade Estoril-Sol, o acidente poderia ter sido evitado.

A investigação concluiu que o farol, após o acidente, ficou numa situação precária. Não sendo possível realizar obras de consolidação devido às condições do terreno, aquela estrutura teria de ser demolida. Devido à necessidade absoluta de um apoio à navegação naquele lugar, foi construído um novo farol, a cerca de 30 metros de distância, o mesmo que ainda hoje se pode ver no local.

antonio.ferreira@ionline.pt