Antes de tudo, qual é a pass do Wi-Fi?
É que sem ela é impossível existirmos. Há quem culpe as operadoras, que os plafonds dos planos que nos oferecem a preços normais são obscenos de baixos. Lemos num desses sites que ensinam pessoas em geral a lidar com millennials este conselho: nunca lhes dê um cartão de visita, vai deixá-los confusos, a pensar “será uma aplicação?”, “como é que atualizo isto?” Apesar de haver alguns especímenes que fazem gosto em colecionar esses objetos vintage, há que não esquecer nunca a importância de recolher as passwords de Wi-Fi dos sítios por onde se passa. É que falhando o 4G, como é que uma pessoa comunica com quem tem à sua frente?
Cheques são aquela coisa dos anos 80?
Nunca ninguém nos preparou para isso, mas vivendo nós no mesmo mundo que uma série de baby boomers e essas pessoas da geração X para as quais nunca se inventou um nome, acabaremos por chegar àquele dia em que alguém nos passa para a mão um cheque. Se estamos a ser despedidos, ótimo, é sinal de que pelo menos um trabalho já tivemos. Mas temos de ligar ao nosso pai a perguntar o que é que se faz com um cheque. Tipo, como é que fazemos para o dinheiro ir para a nossa conta. E a sério que isto ainda existe? No processo uma amiga pouco mais velha conta-nos que ainda é do tempo em que em vez do cartão FNAC para pagar um computador a prestações se passavam cheques pré-datados. Para quem duvidava das diferenças, eis a linha que nos separa. A dos cheques pré-datados.
Uma coisa chamada Google Maps
Prometa-nos, leitor com mais de 35 anos, que vai ler isto com muita atenção e que da próxima vez que estiver a combinar um encontro com alguém dez anos mais novo se vai lembrar. O Google Maps foi uma boa invenção e um utilizador de smartphone que se preze saberá como tirar dele o melhor proveito. Encontrar o caminho mais curto de um local para o outro seja a pé, de autocarro ou de Uber, é uma das funcionalidades. Por isso veja se deixa de fazer aquela coisa dos esquemas, desenhados ou mentais, que se usavam nos anos 90 para explicar a uma pessoa como é que se chega a um sítio. É inútil. No final, o que um millennial vai querer saber é a morada. Só a morada. Tudo o mais será um esforço inútil.
Eat local. And organic. And bio
É mais ou menos por aqui que anda o conceito de saudável dos millennials em relação àquilo que comem – não tanto a contagem das calorias. Segundo um inquérito da Morgan Stanley, o tipo de comida que preferem é o fast-casual (comida de qualidade mas tão rápida como a fast-food, que tempo é dinheiro e eles nunca vão ter muito). Cozinhar é uma coisa que apreciam mas à sua maneira: dois terços dos indivíduos entre os 25 e os 34 anos só vão para a cozinha na companhia dos seus smartphones ou tablets. E uma vez lá, a grande preocupação será sempre: qual o melhor sítio para os pousar e poder seguir a receita para o jantar sem correr o risco de os deixar cair numa panela de água a ferver.
Pullout quer dizer mesmo isso
A moda do natural não se fica só por aquilo que comemos e parece que tomar a pílula, por exemplo, já foi mais cool do que é hoje. Há tempos, a “NY Mag” punha este assunto a nu num artigo com o título “No pill? No prob. Meet the pullout generation”, a propósito do livro “Sweetening the Pill: or How We Got Hooked on Hormonal Birth Control”, lançado no final de 2013, que alerta para os perigos do consumo da pílula contracetiva. Um movimento que aparentemente tem cada vez mais seguidores.
Onde está o Ctrl+F?
Pois, não está. Poderá o leitor achar que isto é uma brincadeira, não é. Tanto não é que da última vez que pensámos nisso, com um livro na mão que precisávamos de decifrar em 10 minutos, e claro que não conseguimos, abrimos o Facebook e lá estava outro millennial a queixar-se do mesmo. Dramas do mundo pós-moderno. A propósito, sobre isto vale a pena dizer que a esta geração que fica entre a X, que nasceu ali até ao princípio dos anos 80, e a Z, à qual pertencem os miúdos nascidos depois de 2000 (coisa que no contexto português poderia arredondar-se para a expressão pós-Expo-98) se chama também “Generation Y” – um “y” que às vezes pede para ser lido mesmo em inglês, “Why”, afinal parece que é uma coisa que os millennials passam a vida a perguntar, em relação a tudo.
E hashtags, em geral
Ou tudo o que tiver a ver com Internet. Muitos de nós, millennials, ainda se lembrarão do tempo em que comiam pó à procura da entrada “de Mello Breyner Andresen, Sophia” naqueles volumes pesados da “Enciclopédia Luso-Brasileira” para os trabalhos de Português do 5.º ano, quando escrevê-los à mão ainda era uma opção. Felizmente esse tempo acabou e nem nos lembramos bem dele. Como se o Google – e os smartphones, já agora – sempre tivessem existido. Estamos sempre a perguntar como é que se faziam jornais antes da Internet e na verdade já ninguém sabe muito bem. É isso e as hashtags, queremos lá voltar ao tempo em que eram só um cardinal.
#livewithmom
Sem vergonha nem arrependimento. Não que seja o caso da autora deste texto, que fugiu de casa dos pais mais depressa que pôde. Fugiu, salvo seja, como diz uma dupla de millennials bem conhecida nesta redação. Há os millennials que têm o trabalho de sonho e há os que têm o trabalho com que, se sonharam, só se foi em pesadelos – chamem-lhes geração call-center, o que quiserem, mas ter trabalho já não é mau. Num caso ou noutro, esta é a primeira geração cujos rendimentos são mais baixos do que os dos pais. E não sendo desculpa, isso explica muita coisa. Um dado importante é que, nos EUA, eles vivem em média 4 anos numa casa, mais seis do que os que pertencem à Geração X.