Ao reportar à base, em Houston, aquele problema sério, a tripulação estava consciente que não poderia dar continuidade à viagem e que seria necessário abortar e regressar, antes que os danos pudessem tomar maiores proporções e acabar tragicamente a missão.
Ora, há uma tripulação que se encontra em viagem: Professores, Alunos e Famílias clamam: “Nós temos um problema!”. Este alerta serve-nos para tomarmos consciência da urgente necessidade de encontrar soluções que permitam evitar efeitos dramáticos na sociedade.
Esta tripulação tem de cumprir a sua missão e a viagem é longa. Há, porém, uma questão que se coloca. Se há problemas na Educação, no Ensino, na Escola, é fundamental identificar e reportar claramente as falhas, os obstáculos, os impasses para que alguém os escute devidamente e possa fornecer assistência imediata e contínua.
Na verdade, um dos maiores problemas é o autismo. A ausência de canais de comunicação eficazes. Se, de um lado há quem grite SOS, do outro lado da linha não há gente que escute, não existe quem se envolva no diálogo, de forma colaborativa e empenhada.
Quem melhor sabe e conhece os problemas é a própria tripulação. É da sua responsabilidade a capacidade e o interesse em enunciar as dificuldades, as questões que exigem uma profunda intervenção, tais como: ausência de formação contínua de professores, excesso de alunos por turma, burocracia excessiva, envelhecimento da classe docente, avaliação e regulação das aprendizagens deficientes, fraco, inexistente ou desadequado uso das tecnologias nos processos de aprendizagem, baixa autonomia da escola, conteúdos curriculares excessivos e extensos, reprovação de alunos, ausência de personalização e individualização das aprendizagens, evidente dificuldade de diálogo entre os docentes e as famílias, tempo excessivo de permanência dos alunos no interior da escola, excesso de trabalhos de casa, congelamento de salários e de progressão na carreira, etc.
Do lado da base, politiza-se, teoriza-se, usa-se placebos, imita-se, copia-se modelos, sistemas. O mutismo e a ausência de conhecimento real e prático do quotidiano das escolas é flagrante. Há décadas que os canais de comunicação apresentam ruído, anomalias e graves quebras. Entre a base e a tripulação não há sintonia nem articulação, de modo a construir uma “nave” capaz de realizar uma viagem sem atribulações…
Não será apenas com o envio de abundantes e fantásticas tecnologias de informação e comunicação para a “nave” que mudaremos o curso da viagem. Não será apenas com a suspensão de exames ou provas que estaremos a resolver o complexo problema das avaliações.
Será, isso sim, com o debate, a reflexão, o dialogo e um profundo desejo de criar uma nova escola, uma outra instituição capaz de se ajustar às necessidades das famílias, dos alunos e professores. Uma escola humanizada, cooperante, motivada, personalizada e efetivamente aberta à comunidade, sem barreiras, sem muralhas.
Não esqueçamos que a nave é pilotada por seres humanos. A tripulação deve ser protegida e todos devemos assegurar que a viagem tem retorno para Portugal.
Professor | Especialista em Tecnologias Educativas
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