Só às 9h da manhã, na tranquilidade do escritório onde exerce como engenheiro civil, João Alves se apercebeu do caos que se tinha instalado na cidade onde vive há três anos. Acompanhado pela mulher depois de um fim de semana em Portugal, aterrara em Bruxelas às 6h e abandonara o aeroporto de Zaventem cerca das 7h15.
“Já passei por aquele sítio dezenas de vezes”, diz ao recordar que naquela manhã apanhou o elevador para as caves, onde deixara o carro estacionado, e não para o andar superior, o das partidas, que é o local “onde se sai quando se tem alguém à espera”. A presença de “um ou dois pares de militares” não o alarmou, pois “é normal desde os ataques de Paris”. Pouco mais de meia hora depois, a explosão de duas bombas fez doze mortos e mais de 90 feridos.
“A primeira notícia chegou quando já estava no trabalho e falava de um morto numa explosão no aeroporto. Só às 9h, com nova explosão do metro, percebemos o que se estava a passar”, recorda o jovem de 30 anos. Os telefonemas de familiares a amigos preocupados levaram-no a encarar o que ainda não tinha interiorizado: escapara por pouco.
“Nunca pensei que Bruxelas fosse atacada por estes tipos, que são de cá, mas pelos vistos enganei-me”, conta ao i depois de uma noite de inevitável reflexão. “Uma pessoa começa a pensar se vale a pena continuar ou se mais vale voltar para o nosso país, mesmo com condições piores”.
Acabaram por decidir ficar, para já. E o primeiro dia ajudou a confirmar a decisão: “As medidas que se seguiram aos atentados foram mais ligeiras do que as de Paris, as escolas não fecharam, as lojas estão abertas” e o clima de normalidade leva–o a sentir que “o pior já passou”.
Uma normalidade implicará vários regressos a Zaventem, a começar já amanhã, dia em que tem marcado voo para Portugal “para passar as férias da Páscoa”. As condições em que ficou ao Aeroporto de Bruxelas não garantem que o voo seja realizado, havendo a hipótese de alterar o bilhete para uma cidade relativamente próxima. Caso contrário, não há medos – “se estiver aberto não tenho dúvidas que apanho esse avião”.