Portugal tem tido um papel central nas investigações da Operação Lava Jato e agora parece estar prestes a entrar na agenda política do Brasil. Isto porque no dia em que o partido PMDB – que tem diversas pastas no executivo liderado por Dilma Roussef (Partido dos trabalhadores) – vai decidir se abandona em bloco o governo, acontecerá em Lisboa um encontro com os principais defensores da destituição da atual presidente. O vice-presidente do Brasil, Michel Temer (PMDB), esteve confirmado para este evento (que acontece na próxima terça-feira), mas os seus assessores confirmaram hoje que afinal não sairá do Brasil.
O seminário promovido pelo Instituto Brasiliense de Direito Público em parceria com a Universidade de Lisboa contará ainda com a presença do juiz do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes – fundador daquele instituto.
Entre os apoiantes do impeachment de Dilma Rousseff já confirmados estão Aécio Neves e José Serra, ambos do PSDB maior partido da oposição.
Um novo governo à vista? Nos últimos dias têm sido várias as conversas entre os principais atores políticos, muitos para discutir o futuro do Brasil depois da queda de Dilma. Caso a presidente seja destituída, Michel Temer, o atual vice-presidente, será o seu sucessor natural e a imprensa brasileira avança que já está a ser discutida uma nova composição de governo do PMDB.
Aécio Neves foi um dos políticos que já reuniu com Temer, tendo admitido que foram feitas conjunturas sobre um possível novo governo. O senador do PSDB recusou porém que tenha sido colocada a hipótese de esse novo executivo integrar ministros do seu partido.
“Tive uma longa conversa com Michel Temer. Uma conversa republicana em que avaliamos os cenários que estão à nossa frente. É muito natural que os presidentes dos dois maiores partidos brasileiros conversem em um momento como esse”, disse citado pelo jornal Estado de São Paulo.
Aécio assegurou ainda que o seu partido não vai beneficiar com a destituição de Dilma Rousseff, uma vez que “quem eventualmente assumirá o governo é quem participou” no atual governo.
Com esta declaração deixou claro que, ao contrário do que já tinha sido avançado por José Serra, não se equacionou que o PSDB venha a assumir qualquer cargo num governo liderado por Michel Temer.
A reunião-chave do PMDB Lula, Dilma e alguns dos membros do PMDB que estão no governo ainda tentaram travar a reunião do diretório nacional do PMDB que irá acontecer na próxima terça-feira e onde se decidirá se será retirado o apoio ao Partido dos Trabalhadores.
O ex-presidente do Brasil foi mesmo um dos mais ativos, mas não conseguiu evitar o pior. A única vitória, segundo o Estado de São Paulo, foi conseguir que o presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB, acalmasse os ânimos dentro do partido: “O PMDB não pode dar o gatilho do impeachment”.
A declaração aconteceu pouco depois de uma reunião entre Lula, Renan e o ex-presidente José Sarney, também do PMDB, na casa deste último.
A pressão de Lula da Silva seria para que a reunião fosse adiada para Abril, uma vez que caso seja decidida a saída do governo o PT ficará isolado e em minoria para fazer frente ao processo de destituição em curso.
Por outro lado, Michel Temer, vice-presidente do Brasil e presidente do PMDB, tem sido pressionado para não alterar a data da reunião, que curiosamente acontecerá quando participa no seminário em Lisboa. A não alterar a data e a estar presente.
Michel Temer aceitou não viajar para Lisboa e ficar na reunião do partido, mas se esta não seria a primeira vez que, nos últimos dias, faltaria a um evento relevante para o futuro próximo do Brasil. O vice-presidente foi notícia por ter faltado à tomada de posse de Lula da Silva como ministro da Casa Civil. Vários jornais apontaram a ausência como um sinal claro do distanciamento entre o PT e a ala do PMDB que está no governo.
A estratégia de Temer para não tomar uma posição clara tem sido vista como uma forma de evitar o rótulo de “golpista”. O certo é que tanto a ala do PMDB que está no poder como a que sempre apoiou o impeachment – como é o caso do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha – estão cada vez mais alinhadas na destituição de Dilma.
Juiz do Supremo em Lisboa Outro dos intervenientes que estará em Lisboa na próxima semana é o juiz Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal. O magistrado foi alvo de diversas críticas nos últimos dias por ter suspendido Lula do cargo de ministro, determinando que a investigação ao ex-presidente no âmbito da Lava Jato continuasse a ser da competência do juiz de primeira instância Sérgio Moro. As críticas endureceram quando surgiram notícias de que horas antes da decisão terá almoçado com membros da posição, entre os quais o senador José Serra.