Bota caipirinha


Entre 2010 e 2014 fui passageiro frequente para Brasília. Foram várias as viagens e as estadias que me tornaram, por breves períodos, brasiliense.


Fiz amigos e tive o privilégio de conhecer um pouco da sociedade que, por aquela altura, vivia em crescendo a belle époque num país que batia recordes de desenvolvimento, com uma taxa de crescimento do PIB a atingir os 7,6% em 2010.

Assisti ao triplicar do custo de vida. Num dos meus restaurantes preferidos, uma refeição farta para duas pessoas custava, em 2010, uns generosos $100 reais. Em 2014 – a última vez que estive em Brasília – paguei cerca de $300 reais.

A par da indiferença quanto a este cavalgar dos preços (não apenas as pessoas com quem me relacionava), por todo lado observava tiques de novo-riquismo semelhantes aos que se viviam em Portugal até 2007. Garrafas de champanhe à bruta, o perfume de charuto cubano invadindo os restaurantes apinhados de gente, as viagens ao estrangeiro acumulando-se nos cartões de crédito, o parque automóvel reluzindo pinturas novas metalizadas e toda a gente anunciando o “AP” de sonho que estava em vias de adquirir.

Bons tempos!, pensava eu recordando a boa vida que o ténue crescimento económico e o crédito desenfreado proporcionou à classe média em Portugal.

Os voos para a Europa eram disputadíssimos e, claro, em classe executiva, que era mais chique. Tudo era ostentado e tudo servia para ostentar.

Igual a Portugal. Mas vejam o que se passa por lá agora! Vivemos os piores anos de crise da história da nossa democracia!, dizia eu, tentando alertar para alguns excessos. Ninguém dava conta! Nem pareciam importar-se. Um amigo, mais sensato e emprestado à terra, dizia com alguma graça mas bastante assertividade: “Não importa o amanhã! O povo aqui almoça frango, mas arrota faisão!” Era a mais pura das verdades.

Cada um ostentava à sua maneira e não se preocupava com o perigo que pairava ao virar da esquina!

A corrupção não era tema, a Dilma não incomodava e o Lula não maçava. O Brasil não vinha para a rua a não ser para cair na balada! E o gigante tardava em acordar, fruto talvez da ressaca das garrafas de Chandon (uma espécie de segunda linha da Moët & Chandon) que se bebiam abundantemente.

Agora em crise, pia fino! Tudo se revolta! E o Brasil está na rua!

A Dilma deve pensar: mas não tem mais Chandon?! Então bota caipirinha da cachaça nacional que o povo vai sambar! Será que vai?

Bota caipirinha


Entre 2010 e 2014 fui passageiro frequente para Brasília. Foram várias as viagens e as estadias que me tornaram, por breves períodos, brasiliense.


Fiz amigos e tive o privilégio de conhecer um pouco da sociedade que, por aquela altura, vivia em crescendo a belle époque num país que batia recordes de desenvolvimento, com uma taxa de crescimento do PIB a atingir os 7,6% em 2010.

Assisti ao triplicar do custo de vida. Num dos meus restaurantes preferidos, uma refeição farta para duas pessoas custava, em 2010, uns generosos $100 reais. Em 2014 – a última vez que estive em Brasília – paguei cerca de $300 reais.

A par da indiferença quanto a este cavalgar dos preços (não apenas as pessoas com quem me relacionava), por todo lado observava tiques de novo-riquismo semelhantes aos que se viviam em Portugal até 2007. Garrafas de champanhe à bruta, o perfume de charuto cubano invadindo os restaurantes apinhados de gente, as viagens ao estrangeiro acumulando-se nos cartões de crédito, o parque automóvel reluzindo pinturas novas metalizadas e toda a gente anunciando o “AP” de sonho que estava em vias de adquirir.

Bons tempos!, pensava eu recordando a boa vida que o ténue crescimento económico e o crédito desenfreado proporcionou à classe média em Portugal.

Os voos para a Europa eram disputadíssimos e, claro, em classe executiva, que era mais chique. Tudo era ostentado e tudo servia para ostentar.

Igual a Portugal. Mas vejam o que se passa por lá agora! Vivemos os piores anos de crise da história da nossa democracia!, dizia eu, tentando alertar para alguns excessos. Ninguém dava conta! Nem pareciam importar-se. Um amigo, mais sensato e emprestado à terra, dizia com alguma graça mas bastante assertividade: “Não importa o amanhã! O povo aqui almoça frango, mas arrota faisão!” Era a mais pura das verdades.

Cada um ostentava à sua maneira e não se preocupava com o perigo que pairava ao virar da esquina!

A corrupção não era tema, a Dilma não incomodava e o Lula não maçava. O Brasil não vinha para a rua a não ser para cair na balada! E o gigante tardava em acordar, fruto talvez da ressaca das garrafas de Chandon (uma espécie de segunda linha da Moët & Chandon) que se bebiam abundantemente.

Agora em crise, pia fino! Tudo se revolta! E o Brasil está na rua!

A Dilma deve pensar: mas não tem mais Chandon?! Então bota caipirinha da cachaça nacional que o povo vai sambar! Será que vai?