Elisa Ferreira saiu  de Bruxelas à boleia  com holandesas

Elisa Ferreira saiu de Bruxelas à boleia com holandesas


Eurodeputada socialista contou ao jornalista do i Nuno Escobar de Lima o que fez e como saiu da Bélgica no dia em que Bruxelas entrou em pânico com dois atentados terroristas do Estado Islâmico


O dia começou normalmente, com uma reunião às 8h00, com a supervisora única europeia, que decorreu normalmente, ninguém deu conta de nada. Mas depois do início de outra reunião, às 9h00, começou a correr o rumor de que teria havido uma bomba, mas não interrompemos até por uma questão de princípio. 

Tenho de confessar que as pessoas estavam muito pouco atentas, não só pela preocupação com pessoas próximas para tentar saber se estava tudo bem, como a tentar seguir a realidade nas redes sociais e na comunicação social. 

A minha equipa estava toda no Parlamento, com exceção de duas pessoas que ficaram em casa mal souberam do que se estava a passar. E também sabia que ninguém devia estar naquela estação de metro de Maelbeek porque conhecemos os trajetos uns dos outros.

A certa altura, a reunião foi suspensa para saber se havia alguma decisão da instituição, mas retomámos após dez minutos por uma questão de princípio, na linha de que temos de continuar e não podemos reagir com medo a estas ações, mas num momento destes é difícil encontrar o equilíbrio. No resto da reunião fomos recebendo notícias sobre a realidade do número de mortos e feridos e sobre outras explosões, muito próximas do Parlamento.

De seguida fizemos no plenário um minuto de silêncio em honra das vítimas e segui para uma reunião de coordenadores da qual tive de sair para encontrar uma forma de regressar a Portugal, uma vez que não se sabe quando reabrirá o aeroporto e os voos mais próximos começavam a ficar esgotados. 

Havia indicação para não sairmos, embora não obrigatória. Falei com colegas que evitaram deslocar-se ao Parlamento, outros que tinham reuniões que acabaram por cancelar. Eu tinha uma reunião fora e não fui porque a realidade se alterou.

Saí da reunião, que decorria com a normalidade possível, e fui a casa, a pé porque é muito perto, sem qualquer impedimento. 

O Parlamento, do lado de fora, estava muito vazio, não se via quase ninguém. Havia quatro militares armados na entrada, mas até me pareceu que não era um grande dispositivo – num dia normal estão lá pelo menos dois. A saída e entrada do Parlamento, embora limitada a apenas uma porta, correu de forma normal. A única diferença foi pedirem a identificação; mostrei o passaporte e a identificação de eurodeputada. 

Os comboios estão bloqueados, não há nenhum transporte público, e consegui sair de Bruxelas numa boleia de quatro colegas holandesas, uma vez que consegui marcar voo a partir de Amesterdão para o final da tarde. À saída de Bruxelas, o trânsito fluía normalmente, embora se visse mais polícia do que o habitual nos cruzamentos e algumas ruas estivessem mesmo fechadas. 

Na autoestrada, o caminho para o aeroporto estava bloqueado, os carros que se viam pareciam ser apenas de segurança. Ao contrário do que se equacionou, recebi mensagens a dizer que a fronteira estava fechada, mas passámos quase sem sentir a mudança de país a não ser pelo aumento de número de camiões. Alguns veículos pareciam de segurança mas não interromperam a nossa marcha, não pediram identificação, nada. Não tenho a certeza se no outro lado da fronteira, na entrada para a Bélgica, não houvesse um dispositivo de segurança maior. 

Já na Holanda, descobrimos que a ligação de comboio ao aeroporto também tinha sido suspensa, embora as outras linhas estivessem a funcionar. O acesso ao aeroporto requer a passagem por um túnel e talvez tenha sido por isso que decidiram suspender a circulação. Tive a sorte de as minhas colegas holandesas me terem trazido à porta do aeroporto, onde não se veem medidas excecionais, embora as televisões estivessem a mostrar os acontecimentos de Bruxelas e o ambiente fosse um pouco tenso.