PS. Segurismo pode não ir a jogo mas Costa tem oposição

PS. Segurismo pode não ir a jogo mas Costa tem oposição


Daniel Adrião, que foi adversário de Seguro na JS, vai ao congresso de Junho como candidato a líder. Sem planos megalómanos de tirar o poder a António Costa, mas para recuperar a agenda das eleições primárias, que também já foi de António José Seguro, e defender os círculos uninominais


António José Seguro é passado e Francisco Assis ainda não viu o seu tempo chegar no PS. No próximo congresso dos socialistas, marcado para Junho, António Costa seca tudo à sua volta como é habitual num partido no poder. Mas terá um opositor à liderança, Daniel Adrião.

A candidatura decorre de uma necessidade estatutária. Adrião não quer medir forças com o secretário-geral, quer mudar a face do partido. Fundou o movimento “Resgatar a Democracia” que aposta em fazer do PS “um partido de eleitores em vez de um partido de militantes”, restaurando a o movimento “Primárias Já”, em que esteve inserido. “Vamos apresentar uma proposta de alteração estatutária profunda”, anuncia ao i.

Para poder apresentar uma moção global no congresso, Adrião tem forçosamente, devido aos regulamentos, de ser candidato ao lugar de Costa. Ainda que não se sinta parte de nenhuma “das famílias tradicionais do PS”, recusa desde logo ser um cavalo de tróia do segurismo.

“Fui adversário de António José Seguro na liderança da JS, apoiei e apoio António Costa. Sou insuspeito de ser segurista”, responde ao i. As pontes para o segurismo decorrem mais da sua agenda. Adrião quer rever os estatutos e reintroduzir o princípio das eleições primárias para escolher os representantes do PS, agenda que avançou com Seguro e recuou com Costa.

“A reforma que queremos fazer começa pela reforma do partido e inclui o sistema político. Queremos círculos uninominais (com um círculo de compensação) na eleição dos deputados, queremos o voto preferencial (que permite ao eleitor ordenar os deputados de uma lista partidária), a possibilidade de haver candidaturas independentes e a limitação de mandatos”, diz.

Como princípio geral, a moção que apresentará “pretende fazer das primárias o modelo de escolha no PS para dirigentes e candidatos a cargos políticos”. A luta pelas primárias foi feita com sucesso por Seguro. Mas Adrião reclama que a sua luta é mais antiga. “Há 25 anos eu e o Álvaro Beleza já nos batíamos por eleições primárias”, diz. Beleza foi um dos esteios do segurismo e é amigo de Adrião, mas há diferenças entre ambos. Beleza assume-se como liberal e torceu o nariz à ‘geringonça’. Adrião está mais à esquerda. 

“Sou um defensor deste entendimento com o BE e o PCP. Teria sido até preferível que tivesse havido uma coligação formal, para dar maior estabilidade”, diz Adrião. 

“Ponte” do segurismo? No PS que não se filia no costismo também não há qualquer veleidade de enfrentar o atual líder. Ricardo Gonçalves, apoiante de Seguro e dinamizador do ‘jantar da Mealhada’ que deu o sinal de partida para a construção de uma corrente alternativa, em torno de Francisco Assis, resigna-se à unidade crescente em torno do líder. ”É natural, com o partido no governo, que haja aproximação à direção. O futuro não se definirá em Junho. “Oque é determinante na liderança do PS é o futuro do governo, se cai ou se mantém”, diz ao i. A expetativa deste dirigente do PS é “preparar um documento para o congresso”, mas o trabalho ainda está por fazer, segundo disse Assis há uma semana.

No congresso, pesem embora as diferenças, a ala que vem do segurismo pode ‘fazer pontes’ para o movimento de Daniel Adrião. “Estamos dispostos a fazer o debate do sistema eleitoral”, diz Ricardo Gonçalves. Mas nem todas as propostas da “revolução democrática” (definição de Daniel Adrião) convencem Ricardo Gonçalves. “O voto preferencial é uma loucura, poria os candidatos a deputados uns contra os outros”. 

PS de Costa Entretanto, o PS viveu este fim de semana um momento de unidade interna, com a realização dos congressos federativos. António Costa foi a Viana do Castelo, Braga, Porto e aos Açores, e terá gostado do que viu. Das 18 federações que reuniram em conclave, só cinco (Leiria, Viseu, Vila Real, Baixo Alentejo e Santarém)  não são de apoiantes de Costa. Mas, nem sequer as ‘aldeias gaulesas’ resistem muito ao invasor. “Há quem esteja a fazer a transição para o costismo, com a ajuda da direção”, diz um ex-dirigente do PS.